Raízes culturais europeias
É comum ouvirmos dizer das raízes cristãs da Europa. Um dos aspectos comuns, em todas as diferenças que distinguem os povos e culturas da Europa. Não é falso. E não é totalmente verdade.
Antes do Cristianismo já havia Europa. Mas algum cristianismo pretendeu introduzir uma falsa realidade, dando a ideia de que antes dos Cristãos, os povos eram menos civilizados, menos organizados e estavam constantemente em guerras, não evoluíam socialmente. Eram "bárbaros". Este termo, usado para indicar pejorativamente, um povo não civilizado, não evoluído no sentido das modernas sociedades, é de origem grega e tinha exactamente o significado de "quem não é grego, é bárbaro. Era um sentido pejorativo, mas de acepção diferente da que mais tarde foi usada pelos cristão, sem qualquer razão. Os gregos sentiam-se efectivamente superiores, uma civilização incomparavelmente mais organizada. Mas é positivo olharmos para essa antiga civilização, considerada o berço da humanidade civilizada, e atentarmos em que não era cristã, e foi-o bem mais tarde do que o Império Romano do Ocidente e Oriente.
A tese do cristianismo como factor comum, mas mais, como factor de desenvolvimento social e cultural cai completamente por terra se pensarmos que foram os Romanos, Constantino, um não cristão, nunca convertido, um bárbaro, aos olhos posteriores, que fez da religião de Cristo o que ela hoje é, à dimensão do mundo da época. Constantino assimilou e impôs o cristianismo no seu Império. Mas antes do cristianismo, já a organização social romana e grega eram o que foram durante mais uns bons séculos. Se adicionarmos factos conhecidos, uns mais recentemente do que outros, descobriremos a barbárie cristã na sua pujança e violência mais impactante. Um exemplo seria a destruição de Alexandria, da sua Biblioteca, pelo movimento de cristãos, totalmente comparável ao que hoje observamos na barbárie do Estado Islâmico...ou então que acham da ideia desse movimento, de matar a sangue frio Hipátia, a grande filósofa da Antiguidade, uma mulher brilhante, que muito antes de tantos outros descobriu que a Terra não era o cento do Universo, entre tantas descobertas mais, no campo científico e no campo filosófico. Pois Hipátia foi assassinada ...arrancando-se-lhe a pele...pelos cristãos.
Não. Parte do que hoje é Europa tem a ver com o cristianismo, mas definitivamente não aceito o movimento cristão como fundador de uma cultura e civilização europeias. E dou-vos mais exemplos, pela negativa. Quererão os cristãos, os inteligentes, que fundam a sua fé em princípios sólidos e não em rituais ridículos, que a sua religião seja o mais forte movimento de fundação da Europa, sabendo das práticas, iniciadas na Idade Média, de auto-flagelação, que até hoje perdura dentro do Opus Dei, com o silício, e que duraram como base de apego à fé e prova de obediência a um credo, uns largos séculos...? Durante séculos os cristãos defendiam que a vida não podia ser feliz e que a felicidade era coisa demoníaca. Ainda há resquícios desta crença, obscura, que renego e me horroriza, pelos dias de hoje, na resignação cristã, junto do nosso mundo mais inculto e desinformado. Bem sei que os budistas também têm uma máxima de que "toda a vida é sofrimento", mas não está provada qualquer superioridade budista, seja religiosa ou filosófica. Por mim, bem pelo contrário. Se somos esquecidos, o cristianismo tem como marca indelével a sua matriz revolucionária, de Jesus ele mesmo, com a rejeição de práticas e cultos, que incluíam o de quase todas as religiões na altura já conhecidas pelos fundadores da religião cristã. Sejam no judaísmo, sejam em outras crenças de menos aceitação e menos praticantes, entretanto desaparecidas.
As raízes culturais e civilizacionais da Europa também se fundam em cultos tribais e em algumas civilizações que, precisamente o cristianismo, com o tempo, foi tentando denegrir e baixar para um plano de inferioridade intelectual, conceptual e filosófico. Como os Celtas, uma das civilizações com mais impacte pela europa ocidental. Mas também os gregos, os fenícios, os cartagineses e os árabes! E tantos outros, provavelmente os Hunos e os Germanos, que se consideram hoje mais violentes, menos dados, ou nada, a questões culturais.
Os romanos, a dada altura, deixaram-se fascinar pelos livros e pela cultura, importando o conceito da Grécia, abrindo bibliotecas públicas e divulgando o Livro pelo Império, e a mensagem que neles se transmitia. Foi assim que chegou aos dias de hoje um dos livros mais marcantes da mudança cultural do Ocidente, De Rerum Natura de Lucrécio. Um livro tantas vezes considerado herege, escrito alguns séculos antes de Cristo e, assim, impossível de ser considerado como livro "negro" a entrar do "index", por uma religião quase 3 séculos posterior...Ilógico. Mas eram assim as coisas, pelos tempos da Congregação para a Doutrina da Fé, mais conhecida durante a época negra do catolicismo, como Tribunal do Santo Ofício, ou simplesmente como Inquisição. A mesma Congregação que hoje existe na Cúria romana, de que foi Prefeito o Cardeal Ratzinger, Bento XVI.
As raízes culturais da Europa remontam a um tempo muito anterior ao Cristianismo e hoje parece-me essencial redescobrir o que temos em comum. O que temos, povos europeus, em comum que não seja apenas um continente e, agora, umas muito burocráticas e pouco eficientes instituições perdulárias, marcadas por mordomias inaceitáveis numa Europa a empobrecer gradualmente.
As diversas línguas têm pólos de origem e evolução comuns, por exemplo. Línguas latinas, línguas germânicas, indo-europeias, etc. As bases alimentares foram ficando cada vez mais comuns aos diversos povos por acção das Descobertas de portugueses e espanhóis, e mais tarde pela tomada pela força de possessões destes dois países pelos abutres ingleses, franceses e holandeses, que foram recolher os despojos dos pioneiros. As tradições militares também trazem algo de comum aos países europeus. E, claro, os grandes movimentos intelectuais, que conduziram a movimentos políticos marcantes, como o Iluminismo, o Racionalismo e outros. A própria cisão da Igreja com Lutero, tendo constituído isso mesmo, uma cisão, foi um cimento aglutinador de povos do Norte da Europa, e um inicio de desenvolvimento social e cultural, muito assimétrico com o que no Sul se passava (ou nada se passava, precisamente). A simples ideia de se fazer uma Cisão, com uma Igreja poderosa, uma revolução cultural e religiosa importante, é em si um movimento historicamente marcante e corajoso. Talvez nunca possível em povos de mentalidade latina, como não aconteceu, de facto. A ideia de que as "revoluções não estão previstas na Lei, mas se devem fazer, quando se devem fazer..." ideia iniciada precisamente há quinhentos anos, é uma marca europeia, distintiva do resto do mundo. Por essa altura, povo algum se rebelava, muito menos por motivos religiosos.
Em muitos outros acontecimentos, muito factos de cisão ou de união se devem procurar as raízes que hoje a Europa parece não se importar de perder, fruto de uma globalização que só privilegiou ricos e muito ricos, e que tornou mais dura e pobre a vida dos já mais pobres. Condições agravadas com o crescimento da Desigualdade, outrora marca europeia- a tendência para a maior igualdade de rendimentos e posição social- acentuada com a crise e a estupidez das políticas de Austeridade.
Antes do Cristianismo já havia Europa. Mas algum cristianismo pretendeu introduzir uma falsa realidade, dando a ideia de que antes dos Cristãos, os povos eram menos civilizados, menos organizados e estavam constantemente em guerras, não evoluíam socialmente. Eram "bárbaros". Este termo, usado para indicar pejorativamente, um povo não civilizado, não evoluído no sentido das modernas sociedades, é de origem grega e tinha exactamente o significado de "quem não é grego, é bárbaro. Era um sentido pejorativo, mas de acepção diferente da que mais tarde foi usada pelos cristão, sem qualquer razão. Os gregos sentiam-se efectivamente superiores, uma civilização incomparavelmente mais organizada. Mas é positivo olharmos para essa antiga civilização, considerada o berço da humanidade civilizada, e atentarmos em que não era cristã, e foi-o bem mais tarde do que o Império Romano do Ocidente e Oriente.
A tese do cristianismo como factor comum, mas mais, como factor de desenvolvimento social e cultural cai completamente por terra se pensarmos que foram os Romanos, Constantino, um não cristão, nunca convertido, um bárbaro, aos olhos posteriores, que fez da religião de Cristo o que ela hoje é, à dimensão do mundo da época. Constantino assimilou e impôs o cristianismo no seu Império. Mas antes do cristianismo, já a organização social romana e grega eram o que foram durante mais uns bons séculos. Se adicionarmos factos conhecidos, uns mais recentemente do que outros, descobriremos a barbárie cristã na sua pujança e violência mais impactante. Um exemplo seria a destruição de Alexandria, da sua Biblioteca, pelo movimento de cristãos, totalmente comparável ao que hoje observamos na barbárie do Estado Islâmico...ou então que acham da ideia desse movimento, de matar a sangue frio Hipátia, a grande filósofa da Antiguidade, uma mulher brilhante, que muito antes de tantos outros descobriu que a Terra não era o cento do Universo, entre tantas descobertas mais, no campo científico e no campo filosófico. Pois Hipátia foi assassinada ...arrancando-se-lhe a pele...pelos cristãos.
Não. Parte do que hoje é Europa tem a ver com o cristianismo, mas definitivamente não aceito o movimento cristão como fundador de uma cultura e civilização europeias. E dou-vos mais exemplos, pela negativa. Quererão os cristãos, os inteligentes, que fundam a sua fé em princípios sólidos e não em rituais ridículos, que a sua religião seja o mais forte movimento de fundação da Europa, sabendo das práticas, iniciadas na Idade Média, de auto-flagelação, que até hoje perdura dentro do Opus Dei, com o silício, e que duraram como base de apego à fé e prova de obediência a um credo, uns largos séculos...? Durante séculos os cristãos defendiam que a vida não podia ser feliz e que a felicidade era coisa demoníaca. Ainda há resquícios desta crença, obscura, que renego e me horroriza, pelos dias de hoje, na resignação cristã, junto do nosso mundo mais inculto e desinformado. Bem sei que os budistas também têm uma máxima de que "toda a vida é sofrimento", mas não está provada qualquer superioridade budista, seja religiosa ou filosófica. Por mim, bem pelo contrário. Se somos esquecidos, o cristianismo tem como marca indelével a sua matriz revolucionária, de Jesus ele mesmo, com a rejeição de práticas e cultos, que incluíam o de quase todas as religiões na altura já conhecidas pelos fundadores da religião cristã. Sejam no judaísmo, sejam em outras crenças de menos aceitação e menos praticantes, entretanto desaparecidas.
As raízes culturais e civilizacionais da Europa também se fundam em cultos tribais e em algumas civilizações que, precisamente o cristianismo, com o tempo, foi tentando denegrir e baixar para um plano de inferioridade intelectual, conceptual e filosófico. Como os Celtas, uma das civilizações com mais impacte pela europa ocidental. Mas também os gregos, os fenícios, os cartagineses e os árabes! E tantos outros, provavelmente os Hunos e os Germanos, que se consideram hoje mais violentes, menos dados, ou nada, a questões culturais.
Os romanos, a dada altura, deixaram-se fascinar pelos livros e pela cultura, importando o conceito da Grécia, abrindo bibliotecas públicas e divulgando o Livro pelo Império, e a mensagem que neles se transmitia. Foi assim que chegou aos dias de hoje um dos livros mais marcantes da mudança cultural do Ocidente, De Rerum Natura de Lucrécio. Um livro tantas vezes considerado herege, escrito alguns séculos antes de Cristo e, assim, impossível de ser considerado como livro "negro" a entrar do "index", por uma religião quase 3 séculos posterior...Ilógico. Mas eram assim as coisas, pelos tempos da Congregação para a Doutrina da Fé, mais conhecida durante a época negra do catolicismo, como Tribunal do Santo Ofício, ou simplesmente como Inquisição. A mesma Congregação que hoje existe na Cúria romana, de que foi Prefeito o Cardeal Ratzinger, Bento XVI.
As raízes culturais da Europa remontam a um tempo muito anterior ao Cristianismo e hoje parece-me essencial redescobrir o que temos em comum. O que temos, povos europeus, em comum que não seja apenas um continente e, agora, umas muito burocráticas e pouco eficientes instituições perdulárias, marcadas por mordomias inaceitáveis numa Europa a empobrecer gradualmente.
As diversas línguas têm pólos de origem e evolução comuns, por exemplo. Línguas latinas, línguas germânicas, indo-europeias, etc. As bases alimentares foram ficando cada vez mais comuns aos diversos povos por acção das Descobertas de portugueses e espanhóis, e mais tarde pela tomada pela força de possessões destes dois países pelos abutres ingleses, franceses e holandeses, que foram recolher os despojos dos pioneiros. As tradições militares também trazem algo de comum aos países europeus. E, claro, os grandes movimentos intelectuais, que conduziram a movimentos políticos marcantes, como o Iluminismo, o Racionalismo e outros. A própria cisão da Igreja com Lutero, tendo constituído isso mesmo, uma cisão, foi um cimento aglutinador de povos do Norte da Europa, e um inicio de desenvolvimento social e cultural, muito assimétrico com o que no Sul se passava (ou nada se passava, precisamente). A simples ideia de se fazer uma Cisão, com uma Igreja poderosa, uma revolução cultural e religiosa importante, é em si um movimento historicamente marcante e corajoso. Talvez nunca possível em povos de mentalidade latina, como não aconteceu, de facto. A ideia de que as "revoluções não estão previstas na Lei, mas se devem fazer, quando se devem fazer..." ideia iniciada precisamente há quinhentos anos, é uma marca europeia, distintiva do resto do mundo. Por essa altura, povo algum se rebelava, muito menos por motivos religiosos.
Em muitos outros acontecimentos, muito factos de cisão ou de união se devem procurar as raízes que hoje a Europa parece não se importar de perder, fruto de uma globalização que só privilegiou ricos e muito ricos, e que tornou mais dura e pobre a vida dos já mais pobres. Condições agravadas com o crescimento da Desigualdade, outrora marca europeia- a tendência para a maior igualdade de rendimentos e posição social- acentuada com a crise e a estupidez das políticas de Austeridade.
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