Cultura e Civilização europeias
Versar sobre este tema é um risco enorme. Definir cultura europeia, implica fazer uma diferenciação em relação a outras culturas, ou civilizações, japonesa, árabe (se identificarmos uma apenas...), chinesa, etc. Uma tarefa muito arriscada. Por simplificação, muitos intelectuais identificam a cultura e civilização europeias, num dos seus "parâmetros" mais comuns: o cristianismo. Mas é muito redutor. E contraditório. Se aceitarmos o cristianismo como pilar comum da Europa e da sua cultura, devemos relegar para um plano menor o multiculturalismo europeu, que carrega consigo, também, a pluralidade religiosa. E, então, teremos de aceitar o princípio democrático, que a meu ver não se aplicas tudo, de que ganha a maioria. O mesmo é dizer, ignoramos outras culturas, mesmo opostas ao cristianismo como fonte inspiradora de uma civilização. Também, ao aceitarmos o cristianismo como pilar fundamental, teremos de confirmar que antes de Cristo...não consideramos existente uma cultura comum a vários espaços e países europeus. Opção difícil e contestável.
Por isso me parece muito difícil a definição de uma cultura e identidade europeias, verificável em cada e em todos os países aceites como parte deste grande espaço Europa. Mas já me parece mais acessível a ideia de que há origens e factores comuns que levam a tal "cultura", mesmo que não se a consiga definir bem. Os povos que foram lutando e conquistando a Europa, em diversas épocas, foram impondo as suas tradições. Foram milhares de anos de movimentos pan-europeus, de muitos povos, e nem todos provenientes da Europa. Foram guerras e imposições culturais, costumes e rotinas diárias, formas de vida. O resultado é uma Europa com muitos factores raciais e de tradições comuns. Talvez não tão pan-europeias, quanto parece.
Orhan Pamuk, na recepção do prémio Helena Vaz da Silva, interveio elogiando as raízes e as faces da cultura europeia, mas criticou dizendo que esta dita cultura não passa apenas por preservação de um património construído, arquitectónico. Claro que não. Queria fazer uma crítica a tudo o resto que a muitos europeus não é aceitável? Aceita um alemão, um sueco, as influências de Portugal na sua cultura? E Portugal, aceita de quem? Queria Pamuk, um dos mais notáveis escritores mundiais, com uma escrita de uma sensibilidade excepcional, de um humanismo único e com intenções reais de demonstrar que o seu país, a Turquia, está nas raízes desta Europa, e é uma ponte entre Ásia e Europa, de importância a não menosprezar. Pamuk quereria alertar para uma decadência visível, de perda de identidade, de imposições culturais centro-europeias, via economia e finanças, via uma inglória globalização e uma venda dessa mesma cultura a um sector financeiro demolidor?
Se pensarmos...uns segundos, apenas, não iremos ver esta Europa o contraditório a todo o Humanismo que levou séculos e muito sangue a ser uma referência mundial? Não estamos a vender a Europa, a sua cultura, a nossa civilização, melhor ou pior do que outras, mas a nossa, a um consumismo que nos traz problemas insolúveis e doenças inexplicáveis? Individuais e colectivas?
Chegaremos ao nunca esperado absurdo de vermos a orgulhosa superioridade cultural europeia, refém e subalternizada por culturas de que em tempos escarneceram os conquistadores europeus.
Pamuk é uma referência em pensamento sobre a cultura, pelo que tem feito de esforço na identificação do seu país. É uma referência nas letras mundiais. Não deve ser menosprezado o seu pensamento. O autor de "O Museu da Inocência", mas mais ainda de "O meu nome é Vermelho", "Neve", é um prazer e uma aprendizagem.
A civilização europeia, com base numa cultura mais ou menos aceite como comum a esta grande Europa, precisa de outros cuidados, fundada em tantos intelectuais, da música, das artes plásticas, das letras, da filosofia, das ciências, mas agora refém de gente menor como os nossos actuais políticos, com a pragmática e cega Merkel na liderança. É esta gente que acelera um processo gradual de alguma decadência, iniciado no tempo da grande cisão cristã, mas continuado por outras áreas do pensamento e cultura, com Lutero, há quinhentos anos. Noutras áreas do pensamento europeu, as transformações ideológicas, políticas e sociais, originadas em países onde o pensamento ainda era respeitado, nunca em Portugal, onde só a ascensão social e as falsas riquezas espúrias têm caracterizado esta sociedade, os movimentos originados nem sempre foram seguidos por todo o lado. Razão para que se duvide de uma autêntica cultura europeia...
Mas a civilização é mais abrangente e essa depende de muitos mais factores, como formas de vida, como regimes políticos, como relações com outros povos fora do nosso espaço.
Por isso me parece muito difícil a definição de uma cultura e identidade europeias, verificável em cada e em todos os países aceites como parte deste grande espaço Europa. Mas já me parece mais acessível a ideia de que há origens e factores comuns que levam a tal "cultura", mesmo que não se a consiga definir bem. Os povos que foram lutando e conquistando a Europa, em diversas épocas, foram impondo as suas tradições. Foram milhares de anos de movimentos pan-europeus, de muitos povos, e nem todos provenientes da Europa. Foram guerras e imposições culturais, costumes e rotinas diárias, formas de vida. O resultado é uma Europa com muitos factores raciais e de tradições comuns. Talvez não tão pan-europeias, quanto parece.
Orhan Pamuk, na recepção do prémio Helena Vaz da Silva, interveio elogiando as raízes e as faces da cultura europeia, mas criticou dizendo que esta dita cultura não passa apenas por preservação de um património construído, arquitectónico. Claro que não. Queria fazer uma crítica a tudo o resto que a muitos europeus não é aceitável? Aceita um alemão, um sueco, as influências de Portugal na sua cultura? E Portugal, aceita de quem? Queria Pamuk, um dos mais notáveis escritores mundiais, com uma escrita de uma sensibilidade excepcional, de um humanismo único e com intenções reais de demonstrar que o seu país, a Turquia, está nas raízes desta Europa, e é uma ponte entre Ásia e Europa, de importância a não menosprezar. Pamuk quereria alertar para uma decadência visível, de perda de identidade, de imposições culturais centro-europeias, via economia e finanças, via uma inglória globalização e uma venda dessa mesma cultura a um sector financeiro demolidor?
Se pensarmos...uns segundos, apenas, não iremos ver esta Europa o contraditório a todo o Humanismo que levou séculos e muito sangue a ser uma referência mundial? Não estamos a vender a Europa, a sua cultura, a nossa civilização, melhor ou pior do que outras, mas a nossa, a um consumismo que nos traz problemas insolúveis e doenças inexplicáveis? Individuais e colectivas?
Chegaremos ao nunca esperado absurdo de vermos a orgulhosa superioridade cultural europeia, refém e subalternizada por culturas de que em tempos escarneceram os conquistadores europeus.
Pamuk é uma referência em pensamento sobre a cultura, pelo que tem feito de esforço na identificação do seu país. É uma referência nas letras mundiais. Não deve ser menosprezado o seu pensamento. O autor de "O Museu da Inocência", mas mais ainda de "O meu nome é Vermelho", "Neve", é um prazer e uma aprendizagem.
A civilização europeia, com base numa cultura mais ou menos aceite como comum a esta grande Europa, precisa de outros cuidados, fundada em tantos intelectuais, da música, das artes plásticas, das letras, da filosofia, das ciências, mas agora refém de gente menor como os nossos actuais políticos, com a pragmática e cega Merkel na liderança. É esta gente que acelera um processo gradual de alguma decadência, iniciado no tempo da grande cisão cristã, mas continuado por outras áreas do pensamento e cultura, com Lutero, há quinhentos anos. Noutras áreas do pensamento europeu, as transformações ideológicas, políticas e sociais, originadas em países onde o pensamento ainda era respeitado, nunca em Portugal, onde só a ascensão social e as falsas riquezas espúrias têm caracterizado esta sociedade, os movimentos originados nem sempre foram seguidos por todo o lado. Razão para que se duvide de uma autêntica cultura europeia...
Mas a civilização é mais abrangente e essa depende de muitos mais factores, como formas de vida, como regimes políticos, como relações com outros povos fora do nosso espaço.
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