A Energia da Europa

A União Europeia fundou-se no princípio de livre circulação de mercadorias (e pessoas) e na cooperação económica geral entre os Estado Membros. Desde a ideia inicial e a fundação, que partiu da CEE e das outras comunidades da altura, como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, houve uma crescente complexidade de regulamentações, de crescente burocratizarão do espaço europeu, mas muitas vertentes ligadas à actividade económica se mantiveram com poucas, ou não muito significativas alterações.

Um espaço económico da dimensão da Europa, o maior mercado do mundo, o maior exportador mundial, no conjunto dos países da UE (onde a Alemanha foi até há pouco o maior país exportador mundial, recentemente ultrapassado pela China), outrora a zona mais importante de produção mundial, não se percebe porque não avançaram mais as políticas de coordenação energética, no sentido de mitigar a dependência do exterior, que é a maior em todo o mundo.

Dentro em pouco, um a dois anos, no caso de Angola, ou cerca de cinco a dez anos no caso do Brasil, os países do Atlântico crescerão em importância, face ao médio Oriente, na produção de petróleo. Só este facto, acrescido ainda da quase independência dos EUA, com o petróleo, gás natural e gás de schale (de xisto), a geopolítica da energia será profundamente alterada. Não se sabe bem que consequências advirão em termos de preços para a Europa.


Mas na Europa, as políticas de preços e impostos dos produtos petrolíferos são muito díspares, tal como a dependência de cada país face à energia. Há países grandes produtores de energia nuclear, exportadores, como a França e a Bélgica, e outros onde a transformação do panorama energético se tem vindo a alterar radicalmente, com as energias alternativas, que ainda estão no limiar das suas possibilidades. Outros, mais a Norte, ou a Espanha aqui ao lado, têm uma grande capacidade de produção de energia hidroelétrica, a par de eólica e solar (Espanha).

Entende-se que, sendo as capacidades de cada país tão distintas, e as inerentes dependências de outros, a coordenação da política energética não seja um tema fácil. Mas sabe-se, por outro lado, que a nossa dependência generalizada de petróleo e de países que nos ameaçam a paz, e se radicalizam de forma crescente e preocupante, nos deve levar a reflectir em novas estratégias para a Energia na Europa.

Há ainda, ou principalmente, os interesses, poderosos, e muito próximos da política, em todos os países, das empresas ligadas ao sector. Mas a continuidade desta situação, com as alterações eminentes nos mercados mundiais da energia, não nos augura dias melhores, mas provavelmente mais dependência, mais disparidades entre países, e falamos de um factor de competitividade de importância crucial. Para além de afectar profundamente a vida, o poder de compra, o orçamento familiar, dos cidadãos nos diversos países.

Penso que a Energia será um dos sectores a necessitar de mais atenção dos Estados europeus da UE, e infelizmente tenho observado o acanhamento, provavelmente intencional, com que este tema tem sido abordado a nível europeu, com, por exemplo, metas muito tímidas para as interligações energéticas, e as medidas sobre o ambiente e emissão de gases com efeito de estufa. Tal como as metas para introdução de alternativas no sector de produção energética na Europa. Prazos e metas muito tímidas que nos trarão problemas e adiarão as soluções para demasiado tarde.

Só as metas sobre a emissão de gases com efeito de estufa já são ridículas, como tantas outras nesta Europa de muito interesses e pouca acção. Acção no interesse dos cidadãos, em primeiro lugar e, claro, dos agentes económicos.

O sector da Energia é para mim mais um exemplo da intolerância da Europa e a confirmação da mediocridade dos nosso políticos, que apenas se preocupam em defender interesses comezinhos de influentes empresas e empresários amigos, e os seus próprios. Pelo cidadão, pela Europa, vejo muito pouco a ser feito. E tudo, com demasiado tempo de implementação, excessiva burocracia e muito pouca dedicação a um Projecto europeu, afinal.

Uma Europa sem "energia", letárgica, e com tremendos problemas de produção e consumo energético. Veremos o que nos traz esta nova Comissão.

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