Desigualdade: o maior obstáculo ao desenvolvimento

Portugal era há uns anos um país com um equilíbrio social mais coeso do que os Estados Unidos. A desigualdade, na remuneração de cada indivíduo, na sociedade americana sempre das piores a nível mundial, exceptuando países onde o desenvolvimento ainda é uma miragem, como a esmagadora maioria dos países africanos e muitos da Ásia e América do Sul (quase todos).

Na Europa, o Reino Unido era e continua a ser o país com maior desigualdade. A Noruega o que menos desigualdade tem entre os que ganham mais e os que ganham menos. Pelo mundo, juntam-se nos lugares cimeiros, com menos desigualdade, a Austrália, o Canadá, a Áustria, o Luxemburgo.

A análise dos factores que conduzem a esta desigualdade não é linear, nem pode ser conduzida da mesma forma em todos os países. Mas o resultado é o mesmo: um número ínfimo de pessoas, num país, detém quase toda a riqueza do mesmo. Na China, são menos de 01,% a deter mais de 90% da riqueza produzida por lá. Nos EUA esses 0,1% detém mais de 80%, quase 90%, também. Com a crise, quando se esperava acontecessem correcções desta situação, por via da falência de grandes empresa, perda de pode económico de um número muito pequeno de muito ricas pessoas...aconteceu o contrário (eu tinha escrito isto em 2008, porque não via sinais alguns da mudança das regras, e, pelo contrário via restringir-se o grupo de pessoas com acesso aos meios que o Estado disponibiliza ou facilita.



Porquê a Desigualdade, o maior problema, exceptuando a Corrupção?

(Índice Gini e outros: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_income_equality)

Porque a desigualdade tende a eliminar a classe média, a classe com mais formação e capacidade de regeneração de negócios, de ideias, de movimentos financeiros, mesmo que de menor valor do que os das grandes empresas, mas no somatório, com  impacte mais significativo. Porque a desigualdade retira poder económico, de compra e de investimento a quase toda a sociedade, restrigindo-o a um número muito pequeno, e sem interesse real em criar valor, mas apenas em movimentos financeiros especulativos, de ganho rápido, e com facilidades artificialmente criadas pelo poder político, gerando, assim, mais distorção no mercado e mais injustiça, na redução da competição natural do mercado e na criação de redes de corrupção e tráfico de influências. Os bens financeiro gerados pela corrupção não são em geral reinvestido na economia interna.

Porque a desigualdade distorce a sociedade toda, em todos os sectores, incluindo a educação, a cultura, a tecnologia, a investigação científica, e o mais básico e essencial: acesso à saúde e segurança social justa, sem atitudes persecutórias contra indefesos.

A desigualdade e a corrupção são os maiores obstáculos ao desenvolvimento de um país. Ainda que não pareça, se alguém se puser a pensar (argumentar, pensando pouco, talvez...) que há países ricos onde impera muita desigualdade.

Pois. Mas o mundo mudou e mais mudará. As necessidades das pessoas, mudam com ele. E uma coisa é o actual nível de PIB e produção de riqueza de um país, associado à sua dimensão, ao actual domínio de tecnologias decisivas para uma economia mais global e um poder hegemónico, outra coisa é o futuro que um país terá, numa base tão desequilibrada, socialmente. E mesmo assim...se olharmos para os EUA e compararmos com o Canadá, e mesmo com a Noruega, a hegemonia é bem diferente, a visibilidade mundial, talvez a produção geral de riqueza, mas os índices de desenvolvimento, a distribuição de riqueza, os indicadores de felicidade humana, as perspectivas de futuro...são bem distintas e nunca comparáveis.

Nos EUA os indicadores dizem-nos que, por exemplo, o acesso ao Ensino Superior é cada vez mais desigual, mas que os mais ricos (filhos dos mais ricos) que podem ter acesso às melhores universidades, estão longe de ser os melhores alunos, ou mais intelectualmente capazes, mas bem ao contrário. São dados oficiais. Em Portugal não há dados...claro. Mas se os houvesse...

Se dentro de uns anos a sociedade americana ficar mais dependente da importação de cérebros, do que alguma foi....não nos espantemos, pois para isso caminham os EUA. E caminha Portugal e ...a Europa.

Dentro de poucos anos, muito poucos, os sinais de decadência da cultura europeia serão gritantes. É um processo acelerado, mais mesmo do que o da degradação climática que é também real. Ou o das migrações de países em desertificação e em guerra civil permanente.

É um cenário negativo, catastrofista, mas é visível. São cada vez mais as famílias de classe média sem recursos e com imensas dificuldades para cumprirem com despesas correntes e fixas. Cada vez com menos possibilidades de sustentarem o ensino dos filhos. É bem real. A par com sinais e notícias sobre o crescente enriquecimento dos mais ricos.

As consequências serão calamitosas, mais no espaço europeu, onde as tradições da providência estatal e das contribuições que a Segurança Social têm permitido são bem diferentes das do continente americano.

O Governador do Banco de Portugal afirmou que Portugal precisa de melhores gestores nas suas empresas, e que o crescimento económico é essencial. Mas que ninguém se iluda com um crescimento que pode até ser pontual, mas nunca sustentado, sem a procura do reequilibro, nunca verdadeiramente existente, em termos de remunerações. Não haverá recuperação do poder de compra e muitos serviços essenciais terão de reduzir custos, ou não terão forma de se cumprirem.

É pelo combate a duas forças negativas na sociedade que temos de começar, ou recuperar: desigualdade e corrupção.

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