Europa e Estados Membros

Marcelo Rebelo de Sousa expôs muito bem parte dos problemas da Europa actual. Também Luis Amado. Mas a meu ver faltou falar de um grande problema europeu: profunda desigualdade entre Estados Membros e dentro de cada um deles. 

Mas Rebelo de Sousa referiu alguns aspectos, sobre alguns Estados (mas havia mais a referir) de grande importância, pela negativa, na recuperação da Europa, que nem chegou a ser construída ainda.

Antes disso, uma referência e uma dúvida: não estou certo da importância de um Governo europeu, um Governo económico como designaram os intervenientes neste encontro da Plataforma para o Crescimento Sustentável. Entendo, do ponto de vista económico e fiscal. Mas não estou muito convicto ainda. É um processo complexo, onde apenas teoricamente podemos vislumbrar alguma eficácia, ou muita, por paralelos despropositados que se fazem com os Estados Unidos. 

Marcelo Rebelo de Sousa referiu então, os problemas políticos marcantes e preocupantes em diversos países. Estrategicamente, omitiu Portugal. Na Grécia a esquerda eclipsou-se, segundo ele, pelo enfraquecimento do Pasoc. Ou talvez tenha ganho influência a extrema esquerda. Em Espanha, a esquerda está despedaçada, o que não admira face às suas governações desastrosas. Estranha-se é que em Portugal não tenha sucedido o mesmo, ou talvez não pois o PSD não tem governado melhor. A indefinição portuguesa e a incerteza dos eleitores será tanto ou mais grave do que o virtual desaparecimento de forças políticas nos outros países. Em França, a direita não sabe o que faz, com  Sarkozy, desastroso e duvidoso a pretender regressar ao activo, não se entende com que projecto. E os socialistas franceses são o desastre habitual. Esbanjadores e demagógicos como os nossos. E sem visão, ideias ou rumo, muito menos sentido de Estado, humildade e valores credíveis. No Reino Unido, Cameron tem-se revelado um menino, como o outro que por cá temos. Fez um referendo desastroso, mas legítimo do ponto de vista dos escoceses e safou-se no último momento. Promete um referendo a prazo sobre a Europa e ninguém entende o que é isso de prometer um referendo para daqui a cinco anos. Quando ele já não estiver lá.

Mas ainda há a Alemanha. A Holanda. A Bélgica, a Finlândia. Onde populistas e extremistas ganham influência, perigosamente. E mesmo os dos tradicionais Partido dizem disparates e não demonstram algum sentido europeu, de solidariedade, de entendimento de um princípio de equilíbrio básico entre países: combater a desigualdade. 



Pergunto-me o que acontecerá se um dia houver um Governo europeu. Se não terá esta como uma das preocupações mais importantes.

E pergunto...se é possível com Estados Membros neste estado, nesta debilidade, incerteza e mediocridade, conseguirem reerguer a Europa. 

Uma Europa com os valores que sempre a distinguiram. O contrário do que Merkel tem dito (Europa com 7% da população mundial e 50% de custos sociais, que uma pessoa amiga diz e muito bem serem investimento social e não custos). Uma Europa que encontre os valores comuns a todos os seus membros. Valores culturais, sociais e civilizacionais. Se se pensa a Europa com um espaço apenas económico, pensa-se em termos do passado. Luis Amado considera que a crise da Europa é a crise do Euro. Não concordo. É bem mais do que isso. É cultural e social. Desemprego inaceitável, num espaço que se gaba de ser dinâmico e ter futuro. Desigualdade nas remunerações e no poder de compra, num espaço que outrora se gabava do sua cultura social distintiva. Era uma marca europeia. Já não é.

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