A Psicologia do Tempo III: O nosso tempo
Uma reacção humana demora 250 milisegundos, um quarto de segundo. Ou seja, a luz que vemos, uma luz que se acenda, só a percebemos um quarto de segundo após ela ter sido acesa. Se for um som, a nossa reacção ainda será mais lenta.
Mas esta nossa limitação, comparada à velocidade de resposta de um computador moderno actual (no futuro será ainda maior a diferença), uma diferença que é de 750 milhões (a favor do computador, pois), tem implicações mais interessantes: um sorriso que vemos na cara de alguém, foi expresso um quarto de segundo antes. Mas os nossos processos mentais internos não são todos tão lentos. O que implica que o nosso raciocínio perante um sorriso, ou uma cara fechada, não tem o mesmo tempo de reacção. Este desfasamento...tem implicações, mesmo de fracções de segundos, na nossa relação com os outros.
Este é um aspecto interessante do tempo e da nossa relação com ele. E da nossa perspectiva do tempo. Outro aspecto interessante é ...devida a esta resposta 'lenta' da nossa mente, um quarto de segundo é bem mais significativo do que podemos imaginar, uma parte do nosso pensamento vive no passado...exactamente. Ora imagine-se as implicações para quem ainda mais insiste em viver de passados, tendo que re-escrever essa memória, esse passado tantas e tantas vezes. Porque a mente funciona como que em camadas e umas, memórias, que a cada momento já as estamos a escrever, com a tal diferença de quarto de segundo nas nossas respostas mentais, a sobreporem-se umas às outras.
Viver em função do presente ou do futuro é bem diferente. É como puxar pelas nossas reacção a cada instante.
Uma observação curiosa: em épocas remotas, os homens e mulheres viviam sempre em função do presente. Porque as ameaças à sua vida eram constantes e reais. A ameaça de um tribo rival, a de um elemento da mesma tribo que cobiçava a sua companheira, ou a sua função de chefe da tribo, ou ameaças da natureza, cataclismos, doenças etc. Se encontrassem uma semente de trigo por exemplo, come-la-im em lugar de a semearem.
Milhares de anos mais tarde, já se misturavam as perspectiva do tempo. Já se preparavam as pessoas para se protegerem, de ameaças de povos rivais, construindo paliçadas, armando-se melhor, aperfeiçoando técnicas e tácticas de guerra. Semeando já algumas plantas e criando animais. Se encontrassem uma semente de trigo, podiam ou come-la nesse instante, ou optar por a semear. Dependia da fome e da ocasião e local (se estavam ou não num local com reservas alimentares).
Mais tarde ainda, as sociedades mais organizadas, digamos pela Idade Média (erradamente tida como uma época histórica cinzenta da criação e evolução humanas, história assim escrita por força da Igreja Católica, numa época em que o Vaticano cometeu as maiores atrocidades e crimes contra a humanidade, comparáveis a um Hitler, mas que hoje se escamoteia...e época que interessa denegrir porque as ideias e a força do Catolicismo ainda não eram seguros e universais...) já os Homens viam o Tempo na perspectiva mais actual, com o uso dos actuais calendários, com a perspectiva mais focada no futuro.
E hoje, no geral, todos temos mais a perspectiva do tempo, visto pelo futuro. Por isso nos protegemos mais, nos cuidamos mais em termos de saúde. Por isso planificamos e fazemos projectos. Mas ainda assim nada destas perspectivas são puras e únicas.
Pensamos todos num misto das várias perspectivas. Passado, presente e futuro.
Sendo, claramente, o balanço da mistura o que conta e a importância de uma perspectiva sobre as outras o que nos vai marcar e trazer mais ou menos sucesso, mais ou menos felicidade.
Viver mais em função do presente tem implicações muito diferentes do que viver mais em função do futuro. É, por exemplo, planificar menos, é, por exemplo, ser mais impaciente em esperar por acontecimentos que não dependem inteira ou totalmente de nós. Mas viver muito em função do futuro é, também, em parte, não fazer no momento o que se deve...
A ponderação ideal tem de ser encontrada por cada um, de acordo com os objectivos que pretende, de acordo com o que somos capazes.
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