A psicologia do Tempo II
"Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado". George Orwell, 1984)
"Todas as nossas escolhas significativas, todas as decisões que tomamos, são determinadas pela nossa percepção do tempo. Esta é a mais influente força nas nossas vidas, ainda que raramente reflictamos sobre ela." Philip Zimbardo, Time Paradox.
Todos os dias tomamos dezenas de decisões que são depois parte da nossa memória, sobre o nosso passado (a que horas despertámos, o que vestimos, o que comemos, com quem estamos, onde vamos, com quem vamos, etc.). No seu todo, isto vais constituir o que nós fomos, o que somos e o que viremos a ser.
Hoje foi um dia mais difícil para mim. Tive de o passar à espera da decisão, ou resposta de outras pessoas. Que não chegou. Ao final da tarde, tive um momento de genuína revolta, incompreensão e raiva. Nos últimos tempos, algumas das decisões sobre o que quero, tenho e posso fazer tem dependido de mais pessoas. Este controlo diminuído sobre o meu dia, os meus dias actuais e futuros, leva-me a repensar sobre a minha própria gestão do tempo. E antes disso, sobre a minha perspectiva do tempo. Não é coisa pouco, é o esforço de percepção e assimilação da minha atitude perante o tempo, que após processamento, irá constituir parte da minha personalidade e condicionar a forma como me relaciono com os outros. Interessa-me especialmente o futuro com as pessoas com quem quero, obviamente.
Hoje, como disse, não foi um dia fácil, particularmente ao final da tarde. Tive, pois, de fazer uma reflexão, não demorada, mas importante, sobre esta gestão das minhas emoções e sobre a perspectiva pessoal do tempo. Um pequeno passei a passo acelerado, uma breve leitura num café da zona, uma ou outra página de ideias e débitos de coisas conexas ou desconexas, numa menta que trabalha em várias áreas, assuntos e decisões, a todo o momento, e cá estou, quase recuperado.
Pelo meio, um telefonema de alguém que precisava de apoio e lé tive eu, num dia de raiva, já explodida, concentrar-me no assunto em causa e dar o melhor de mim, colaborando como pude na ajudar que ele necessitava. Também isto, sem que tivesse sido esperado ou previsto, fez parte da gestão do meu tempo actual.
Como se vê o nosso tempo, se é que se pensa nisso?
Einstein dizia, ou foi-lhe atribuída a frase: se passarmos um ma hora na companhia de uma mulher bonita, parece.nos ter passado um minuto. Mas se passarmos um minuto em frente a uma lareira, parece-nos que passou uma hora. É isto a relatividade" dizia o génio da Física.
Uma mente e uma pessoa orientada pelo futuro e para o futuro, prepara-se hoje. E tem mais hipótese de sucesso. Pensa na sua saúde, resguarda-se de acidentes e problemas psicológicos, programa o seu tempo e 'nunca está atrasada'. Essas pessoas têm melhor preparação, mas ironicamente são menos altruístas. E tinham melhores condições para o serem.
Uma pessoa orientada, em relação ao tempo, pelo presente, tem menos hipótese de sucesso, vive com mais ansiedade, mas tem mais, paradoxalmente, atitudes altruístas. O seu sucesso, porém é mais incerto.
Há ainda quem viva pelo passado. Se paute pelo passado, seja pelas coisas negativas, seja pelas positivas. Estas são as pessoas menos preparadas para suportar o presente que vivem e até o entenderem e o seu inconformismo condiciona-lhe a felicidade e a sensação de vida plena, bem vivida. Nem o futuro o vislumbra positivamente, e preferem designar o 'destino' ou 'deus' como responsáveis ou guardiões desse futuro.
Uma experiência de um famoso psicólogo comprova o que acabei de afirmar. Darley and Batson fizeram uma experiência com estudante universitários, dividindo-os em dois numerosos grupos. Eles tinham como tarefa preparar uma apresentação para ser realizada num qualquer edifício do seu Campus. A uns disseram, os coordenadores, que o tempo se esgotava e que teriam de se despachar pois a apresentação seria a qualquer momento. Individualmente. A outros, disseram o contrário, que teriam muito tempo ainda para a preparar. A caminho do local da apresentação encontravam alguém que se mostrava muito aflito com um forte ataque de tosse.
O grupo que tinha tempo, supostamente, pois o tempo era exactamente igual para os dois grupos, passava pelo indivíduo aflito e parava para o ajudar. O outro grupo, em 99%, não parou e preocupou.se apenas com chegar a tempo da apresentação.
O grupo que sentia urgência pensava pela perspectiva do presente. Não teve atitude altruísta. O outro, actuando pela perspectiva do futuro, teve essa atitude. Entre os dois, havia apenas a diferença da perspectiva que tinha do tempo, mas não do tempo real em si. A atitude altruísta, aqui, teve a ver apenas com a possibilidade de preparação que julgavam ser superior.
Outras experiências demonstraram os ritmos distintos de vida da pessoas em várias cidades do mundo. Robert Levine mediu em todo o mundo, tempos e ritmos de andar na rua, de falar, de escrever etc. Na Europa Ocidental em geral e em cidades americanas como Nova Iorque, os ritmos são muito superiores. Na Cidade do México, o oposto. Comparando com as atitudes sociais das pessoas, o altruísmo surge mais associado aos locais onde os ritmos são mais lentos. E vice-versa.
Por aqui se prova que a nossa perspectiva do tempo, condiciona a forma como vivemos, como decidimos, e como nos condicionamos, a nós e a outros.
Hoje, condicionaram-me. Mas o meu esforço e a segurança da minha capacidade de gestão mental, ainda me permitiram aguentar e recuperar o controlo emocional, instantânea e fugazmente perdido. Mas nem sempre o conseguimos. Ajuda, uma forte certeza do caminho que queremos e uma boa perspectiva do que me é importante, agora e depois no futuro próximo. Saber bem o que se quer e pouco ou nada se deixar distrair com manobras de outras pessoas. Veremos amanhã...
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