A Psicologia do Tempo IV: Uma perspectiva profissional


Houve épocas em que a 'medida' do tempo era efectuada pela perspectiva dos acontecimentos, eventos. Quando a medida do tempo não dispunha do rigor dos dias de hoje, com relógios, e preocupação de pontualidade...

...nessas épocas, antes do século XVIII, e mais recuadamente ainda, o tempo era medido pelos acontecimentos diários e a sazonais: pelo nascer do sol, pela hora da refeição (que podia implicar passar-se um dia inteiro na busca de alimentos), a hora da oração, o pôr do sol, o cair da noite, o tempo da fogueira, da dança colectiva, da maternidade, da mudança de lua, as estações do ano, o de se produzir uma bilha de barro, ou fabricar uns sapatos, etc.

Mais tarde, o relógio trouxe outra perspectiva e outras necessidades. As horas do dia determinavam os acontecimentos. Se antes os estabelecimentos comerciais abriam de acordo com as horas de sol e fechavam ao crepúsculo, ou ainda assim quando os sues propietários entendiam, com o relógio, pessoal, da igreja, comunal ou ainda mais tarde, como os de instalações fabris e as suas sirenas, a forma como se via e aproveitava, ou consumia o tempo, mudou radicalmente.

Se antes um sapateiro, produzindo à mão os seus sapatos, ia-o elaborando ao seu ritmo e contava o número de unidades produzidas e não o tempo de as produzir, em época de industrialização o tempo de produção (cientificamente controlado pelo precursor a gestão 'científica', Taylor) era o que mais contava. Nesta época mais recente, já não se pagava a unidade produzida, mas o tempo do operário e da fábrica. A partir desta mudança surgiram as ideias de Karl Marx, que defendia que o tempo dos operários, a sua força (uma confusão entre tempo, força de trabalho e o que efectivamente se pagava...) nunca eram completamente compensados. O erro de Marx foi não entender a diferença entre o Tempo na perspectiva dos acontecimentos e o 'novo' tempo na perspectiva das suas unidades medidas.

Tomemos um exemplo moderno. Dois advogados trabalham hipoteticamente no mesmo processo ou em processos em 'tudo' idênticos. Um deles preocupa-se com o resultado a obter independentemente do tempo para os obter. O outro preocupa-se com os prazos, o tempo para obter resultados para o seu cliente. Nada nos diz que os resultados não sejam idênticos, equivalentes, ou mesmo perfeitamente iguais.

O que se preocupa com o resultado, leve a obte-lo, semanas ou meses, ou anos...vende resultado. Produto. Não vende tempo. 

O advogado que se preocupa com o tempo para a obtenção dos mesmos, vende tempo. Não vende propriamente resultado. Mas obtém-no na mesma, ou não seria pago pelo seu cliente. 

A diferença é gritante e é a diferença da Modernidade, custe-nos ou não entendê-la. Hoje, todos nós vendemos tempo. 
Mas por paradoxal que pareça, nem todos temos esta noção. 

Ora se vendemos tempo...porque pensamos tão pouco numa perspectiva da vida, do nosso tempo na vida...pelo Tempo?


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