Porque estamos hoje Aqui?

Fareed Zakaria, no seu mais recente livro traduzido em português. Age of Revolutions,  analisa os movimentos, convulsões, revoluções que moldaram o nosso mundo actual. Num tortuoso, e doloroso por vezes, caminho de Progresso e Retrocesso, a humanidade nem sempre avançou. Na verdade, provavelmente teve mais movimentos e eras de retrocesso do que de progresso.



Não será de surpreender, julgo eu, se ainda temos três quartos do nosso mundo actual sem Liberdade. 

Ian Morris, em Foragers, Farmers, and Fossil Fuels, já nos havia alertado que a humanidade nem sempre quis a Liberdade e a Democracia.

Teremos hoje, num mundo que nos surpreende pela velocidade do avanço científico e tecnológico, sociedades que podiam estar assim...há uns trezentos ou mais anos? 

Não fossem guerras, devastadoras, guerras ideológicas, religiões e as suas imposições pela força e pela perseguição, auto-impostas limitações de muitos ou todos nós, quanto a liberdade de pensar e de actuar...e provavelmente estaríamos agora num outro patamar de Desenvolvimento Humano.

Não me refiro a desenvolvimento tecnológico, ou económico, mas também. 

Digo, do nosso desenvolvimento cultural, social, intelectual...da nossa visão da sociedade, em tantos aspectos. Criámos, ou deixámo-lo fazer por nós, a instituições, primeiro religiosas, depois políticas e agora também sociais, que nos limitassem: nas nossas escolhas, mesmo antes disso, na nossa forma de pensar. 

Fomos gerando complexos, limitações e moralismos, que não foram, provavelmente, a melhor contribuição para o que está na base de tudo o que faz mudar o mundo, para melhor: a Inteligência Humana.

Uma das mais impostas e auto-impostas limitações humanas prende-se com a nossa vida social, a nossa vida sentimental e sexual. Não fomos sempre monogâmicos. Não fomos sempre auto-limitativos...tínhamos ainda hão menos de duas dezenas de anos, na nossa legislação, em Portugal, uma curiosa, e bem estúpida premissa legal de "deveres conjugais", estabelecidos na Lei. Têm-nos, por formas escritas ou não, a maioria esmagadora das sociedades e países deste mundo, no século XXI. E não duvido que legisladores e legalistas saberão deitar por terra as minhas dúvidas ou críticas sobre o assunto. Mas elas cá estão e ficarão, porque nunca reconhecerei a qualquer Estado o direito de saber por mim o que é mais ou menos moral ou imoral. O que nada tem a ver com libertarismo ou com anarquismo, ou com o saber que o respeito por outras formas de ver e pensar é de igual valor ao que outros deviam ter pela minha individualíssima forma de pensar.

Mas o tema não é o moralismo social ou religioso, sobre relações amorosas ou sobre o sexo, ou sobre mono ou poligamia ou poliamor. Esses são temas que, não parecendo, estruturam sociedades (se se duvidar, basta ver como se construíram regimes teocráticos contra os direitos mais básicos e fundamentais das mulheres. como num Irão, onde as mulheres têm nível cultural bem superior por vezes ao de muitas sociedades ocidentais e nem que não o tivessem...).

O tema é todo o Desenvolvimento Humano. O nosso potencial arrastado por guerras e regimes, destroçado e espezinhado por ideologias e por essa mania que persiste, vinda de 1789, de haver na sociedade sempre uma clivagem entre "Direita" e "Esquerda" (coisa que há duas centenas de anos serve os interesses, precisamente, de uma dita "esquerda" e não outros), porque, entre outras coisas, uns entendem o papel agregador e impulsionador de desenvolvimento das sociedades e países ricos, onde a liberdade económica tem outros valor, e um valor reconhecidamente superior, por isso, protegido, e outros cultivam e pretendem impor um ódio cuidadosamente alimentado numa ideologia antiga, anacrónica geradora de injustiça social dita Socialismo (que, relembro, é bem posterior ao Liberalismo, intelectual, social e ideológico, não o económico), que sempre levou ao atraso, ao retrocesso à miséria.

E esta dialética. com esta designação já ela ideologicamente marcada, tem sido um dos motores mais fortes e persistentes de Retrocesso e nunca de Progresso.

Pretende-se, em pleno século XXI, o contrário. Substituiu-se "dialética" e diferenciação de pensamento, por "contraditório, na continuação de que nunca certos indivíduos desistem de criar imagens, como a da famosa obra de Delacroix, da "Liberdade que dirige o povo", quando é o povo que a tem de procurar, dirigir e guardar. Porque a ideia da obra de Delacroix é perversa, sugerindo que a Liberdade existe por si, de uma forma "natural" e nos deve guiar. Nem vale a pensa recordar a importância da Revolução de 1789 em França, pelo que significou de bom de muito mau. Se o regime monárquico estava degradado e sem futuro e estava velho de repressão e violência contra as pessoas, o que depois veio, não foi sempre bom. 

Mas como Ian Morris explica, nem sempre quisemos a Liberdade e a Democracia. Hoje, ainda, em várias paragens deste mundo, há quem escolha ser dirigido, ser substituído no seu pensamento, escolhas e opções e forma de vida, por um "líder" autocrático e, no limite, assassino,. Sobre o qual depois se nega, de forma veemente, as atrocidades e crimes. Basta ver quantas organizações temos ainda ou temos mais até, a defender a perda da nossa Liberdade, não num longínquo local do mundo, mas na Europa dos Pensadores e da Cultura. E no sei mesmo do nosso Parlamento.

Quanto anos teremos já perdido de avanço da Inteligência Humana e das nossas formas de vida, com tanta loucura e extremismo, politico e religioso?


Onde estaríamos hoje, na Ciência, no Ambiente, na Alimentação Humana na Agricultura, na Medicina, na Economia, no Clima, no mundo das Ideias e das Relações Internacionais? Duzentos ou trezentos anos no futuro (que ainda é incerto que teremos...)

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