A grande empresa

A maior transformação do mundo. Da vida. Ou como me dizia a minha filha do meio...da vida do mundo.

Foi o meu sentimento mais estranho, mais inesperado e mais aterrador. Mas o mais forte, provavelmente. Podemos, e aconteceu, acontece, ter sentimentos poderosos, intensos e envolventes, que nos cegam, embotam o pensamento, obnubilam. Por alguém que nos prende, por demasiado tempo, embora esse nunca seja, em verdade, um tempo demasiado. Excepto se não correspondido.

Mas o sentimento que um filho nos provoca, e nos mantém agarrados por toda uma vida é tão único que só o sabe quem sofre, no sentido mais feliz do sofrimento sentimental. Várias pessoas me transmitiram e passam ainda essa única sensação, que nos causa dor e sofrimento genuíno quando algo não está bem com um filho, ou mais do que um. Quando sabemos do sofrimento de uma filha, de um filho. Várias pessoas me deram testemunho da alegria e orgulho que nos transporta à comoção, quando do sucesso de um filho ou filha (é importante fazer a diferença de género, neste particular, outra coisa que só pai e mãe dedicados entenderão).

É esse o problema de perceber sequer a desgraça de pais e mães que não têm as condições mínimas para darem a mais ínfima dignidade humana à vida de um filho. Ou o problema que nos traz o conhecimento do sofrimento dos outros, por desgraças grande ou tristezas e desilusões ainda que pequenas. Porque parece que quando se trata de filhos, qualquer coisa é empolada, provavelmente, pouca racionalidade e muita emoção, a expressão do maior sentimento do mundo.

É esse também o problema de lidar com as maiores alegrias, vaidades e orgulhos, que tal como os problemas, nos podem enevoar a lucidez. É distinto. Nada comparável a um outro amor, adulto e com outra configuração. E porquê?

Porque depositamos nos filhos uma imensa, uma esperança única. De serem bem melhores e bem mais felizes do que nós conseguimos ser. Que nunca façam os disparates que fizemos. Com o curso mal escolhido, com não termos feito o esforço suficiente, muito incipiente aliás, para termos o curso que os nossos pais sonharam para nós. Pode um pai, uma mãe ter esse direito de sonhar por eles, pelos filhos? Mesmo que de nada sirva, porque há sempre um momento em que a vida que lhes demos é deles apenas, é evidente a legitimidade. A mesma da compensação que nos leva a desejar a alguém que muito amámos, o melhor de tudo. Coisa esta já não para todos. Mas com os filhos é tudo mais fácil. O orgulho se transfigura e aparece o orgulho neles. É uma transpersonalização legítima, mesmo nos casos em que é frustrada.

E daí o sofrimento pequenino, o apertozinho, ou o imenso sofrimento, o sufoco. Com um grande amor, podemos guarda-lo anos e anos infindos, silenciosamente e mesmo viver, quase a normalidade. Será uma simples quase normalidade. Mas com um amor tão paternal...será possível a incorrespondência desprendida desse amor incondicional?

Mesmo nos dias normais da vida normal, quando podemos transportar a maior das alegrias que o tal amor nos deu e dá, o amor adulto, os filhos estão cá dentro. E ninguém os substitui. Vivemos calados, fingindo serenidade, porque é nossa função responsável mostrar essa máscara social a filhos ou sobre filhos. Mas a verdade não é tão disfarçável assim. Qualquer coisita mais idiota sobre um filho mantém presença consciente e apenas se mostra a máscara por sabermos que a insegurança não é aceitável a pai e mãe. Mesmo que esteja "lá".

O que nos transforma assim, numa fracção indestrinçável do tempo, logo à primeira visão, do primeiro filhos, e se repete a cada um? Um instinto animal de protecção, sim. E uma necessidade de vermos neles o melhor de nós, e nunca a falha que podemos ser. Complicado, difícil e até perigoso, pois se pode reflectir numa atribuição de responsabilidade que não se verifica salutar, para eles.

Mas é talvez o mais básico e mais forte sentimento que nos agarra por toda uma vida!


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