1915...até hoje
Há cem anos nasceu Edith Piaf, mas em Dezembro. Já a 22 de Abril, desse 1915, os alemães usaram pela primeira vez, armas químicas (gás cloro, um dos elementos mais mortais para qualquer ser vivo, ainda hoje um poderoso desinfectante, mas na forma gasosa é dos venenos mais fortes e fatais para um ser humano).
Nesse mesmo ano, um acontecimento, porém, não passou despercebido na comunidade científica internacional, embora hoje pouco seja recordado, ou deixado no cinzento dos dias, pela massificação do mais banal e fútil. Albert Eistein publicou a Teoria da Relatividade Geral (a Teoria da Relatividade Especial havia sido publicada em 1905 e a Relatividade Geral, na sua forma final, em 1916).
Esta Teoria aniquilou a convicção da Física Clássica e da Lei da Gravidade de Newton. Os corpos não são atraídos por uma força proporcional à massa, mas a sua massa provoca uma curvatura no que Einstein designou de Espaço-Tempo. Uma das mais significativas demonstrações desta nova Teoria, agora com cem anos e ainda amplamente reconhecida e aplicada na Física moderna, é a órbita elíptica de Mercúrio. As órbitas dos planetas, aliás, são explicadas pela Relatividade Geral, como sendo consequência da curvatura do espaço-tempo.
Por graça, conta-se que, um dia, Einstein explicava numa recepção de forma simplista a sua Teoria, desta forma: "se estiver uma hora frente a uma lareira a ler um livro, parece que passaram duas horas, mas se estiver duas horas na companhia de uma mulher bonita, parece que passou uma hora".
Mas esta Teoria explica ainda o que hoje é quase universalmente aceite sobre a expansão do Universo. Por ela, se entendem e descobriram os Buracos Negros e ainda a formação da Via Láctea, a nossa Galáxia, por convergência de Buracos Negros. Por ela, se entende a impossibilidade virtual, e matematicamente demonstrável da não existência de mais planetas habitados.
Esse é o pensamento que me surge, vezes sem conta, e que me faz sentir tanta coisa, efectivamente, relativa. Os nossos dias são feitos do que nos ocupa, não ocupa fisicamente, e do que a nossa cabeça preenche em actividade, boa ou má, benéfica, ou prejudicial. E, no entanto, se um dia déssemos com a evidência de vida noutros planetas, mais atrasada, ou mais avançada, tudo mudaria em tantas concepções. E não apenas pela vertente científica, mas também as nossas crenças mais profundas, em tantos prismas.
A importância da física, incansável pela maioria de nós, faz parte do nosso tempo e materializa-se em tanto com que lidamos. Desde equipamentos que usamos, tecnologias aplicadas a diversas áreas, desde navegação, saúde, comunicações, armas (nem tudo é bom...)...
Mas a possibilidade (assim dito apenas pela ainda não descoberta real, neste momento) de vida fora da Terra, mudará um dia muita concepção, e desde logo a da nossa importância como seres vivos. A relativa importância das coisas e das pessoas é um dos temas mais fascinantes, que desde muito gerou discussões, querelas, conflitos e até gerou sentenças de morte, se afrontaram uma religião poderosa.
Se descobrirmos um dia um planeta com civilizações mais avançadas, como reagiremos? E se for mais retrógrada (pondo de lado a acepção pejorativa)? Não será o mesmo com o que se passa no nosso próprio planeta? Porque temos (uns mais do que outros) "superioridade" raciais, ou nacionalistas? Ou o seu oposto? Alguém disse, por exemplo, que as raças diversas que temos na Terra, evoluíram ao mesmo ritmo, a um mesmo passo, e partindo de um mesmo patamar, a partir de uma outra espécie, hoje aceite como de primatas? E, no entanto, não vivemos todos (com a gestão difícil que temos sabido, e eterna gestão das diferenças...) num mesmo espaço. Cada vez mais o mesmo espaço, aliás, onde se misturam e combinam geneticamente, povos distintos, de distintas raças, provavelmente em estádios de evolução (racial) distintos. Ou, obviamente social.
Que espanto nos pode trazer a constatação de diferentes fases evolutivas, em termos sociais e, consequentemente, políticos, culturais e tudo o mais, em diversas regiões do Globo?
O maior espanto, para mim, é que a herança de um mundo inteiro de cultura e evolução, de inteligência ao mais elevado grau, não garante atitudes ao mesmo e expectável patamar. Para mim, é o espanto, o mesmo, que me assoma, quando constato o atraso intelectual de líderes como uma Merkel, o expoente em auto-limitação intelectual na política. Quando se opta pela cegueira em relação ao mundo que nos rodeia, é grave, a título individual. No fundo, acontece-nos a todos, a dado momento, com alguma coisa. Mas quando se lidera uma nação, e se tem presunção em liderar uma região multinacional e civilizacional, é mais do que grave, é crime. Não devia ser assim, sem consequências. Pelo custo elevado para outros, para nós.
Einstein não foi um humano evoluído em tudo. Afinal nenhum de nós o é. Mas foi um exemplo de esforço individual e de liderança intelectual que dura...há mais de cem anos. E perdura, pelos vistos.
Por muito que veja, leia e pense, não estou certo da evolução tão rápida, adequada, certeira e segura da raça humana, em geral. Pontuam essa evolução, felizmente, umas poucas, demasiado poucas, mentes brilhantes, como o foi o físico de Ulm. O resto de nós, pauta-se bem mais pela preguiça intelectual. Custa bem menos...
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