Memórias
Todos os dias passavam por mim, pessoas de todas as idades e distintas situações sociais. Tristes ou felizes. Velhos e novos. Apaixonados ou zangados. Uns falando muito, outros em silêncio pesado. Há anos que eu era o ouvido mais passivo deste passeio marítimo. Assisti a confissões de amor. A traições amorosas. A discussões e separações. Não sei se definitivas. O meu papel era, e é, o de levar com tudo, ouvir de tudo e nada fazer. As minhas memórias misturavam amores e desamores, políticas, raivas incontidas. Até me haviam batido imensas vezes, no quente de discussões insuportáveis. A minha companhia, sem o ser de verdade, foram estas palmeiras, algumas bem mais novas do que, e este rio, esse sim muito mais antigo. Se eu tinha tantos e tão difíceis segredos comigo, tanto como aturar ébrios, sexo pela noite dentro, conspirações políticas, parecera-me., imagino este rio imenso.A diferença é que eu não podia escolher o local onde ficar e o rio, esse, levava tudo com ele, todos os minutos. Ele ali estava e estaria, mas em constante e lenta mutação. As histórias que ele contaria... Um dia destes mudam-me daqui e provavelmente levam-me para fazer de lenha, numa lareira qualquer, talvez de alguém que tenha passado por mim. Por mim passaram, seguramente, revoluções e festejos. Convulsões e momentos de paz e de amor. De lazer ou de crispação. De solidão ou de paixão. Mas no final, nada restaria de mim, para contar. A minha memória só existia nos outros, os que gravaram impiedosamente na minha pele o testemunho do seu amor, as suas raivas sociais, os maiores insultos ou disparates que eu havia ouvido. A memória de mim, não estaria comigo. Sempre estaria com os outros. Se assim o quisessem.
Um dos meus piores momentos foi aquele em que assisti ao lamento de um grande amor não correspondido, incompreendido. Outro, à desilusão de um país, que via passar o futuro, impotente e quase desistia da esperança. Foram muitos assim, mas um houve que me tocou mais. Bem, como imaginam, todos fazemos escolhas e pódios. Eu tenho os meus
A memória, se a tivesse mesmo, falar-me-ia de desilusões e alegrias, é certo. Mas eu tinha comigo a resistência a todo esse tempo e a todos os que por mim passaram.
Um dos meus piores momentos foi aquele em que assisti ao lamento de um grande amor não correspondido, incompreendido. Outro, à desilusão de um país, que via passar o futuro, impotente e quase desistia da esperança. Foram muitos assim, mas um houve que me tocou mais. Bem, como imaginam, todos fazemos escolhas e pódios. Eu tenho os meus
A memória, se a tivesse mesmo, falar-me-ia de desilusões e alegrias, é certo. Mas eu tinha comigo a resistência a todo esse tempo e a todos os que por mim passaram.
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