Os saloios da Europa
Como sempre, desde há algumas centenas de anos que vimos vendo a fazer e (re) confirmar esta nossa vocação nacional de saloios da Europa (com respeito pelos autênticos saloios).
Agora, Freitas do Amaral vem novamente dar mais um reforço nesse nosso papel de súbditos da intelectualidade e da cultura.
Em vez de condenar veementemente as manifestações violentas que dia após dia se sucedem em grande número de países árabes, vem insurgir-se contra os caricaturistas que publicaram o que já se sabe sobre o profeta do Islamismo. Mas porque será ofensivo publicar tais caricaturas? Ofensivo é atentar contra as pessoas e não contra religiões e profetas (todas e todas criações humanas e não ao contrário). E isso fazem-no os árabes quando, diariamente, se manifestam como o têm feito. E isso fazem-no os árabes, e não só o poder político e religioso em muitos desses países - felizmente não em todos - quando mutilam pessoas, como mulheres e presumíveis meliantes, apedrejando umas até à morte e a outros cortando-lhes a mão.
Usasse Freitas da mesma veemência para tais actos condenar, como a têm utilizado para se referir, agora, aos tais caricaturistas e, anteriormente ( e até tem razão nestas críticas) aos USA pela invasão do Iraque. Mas perante esta tremenda e imensa manifestação consertada do mundo árabe, nesta nova versão de medievalismo serôdio... quase que apetece sentir alguma justificação pela atitude de algum ocidente em relação àqueles países e culturas - invasões, guerras, etc...
Mas o medo, o medo de sermos alvos de manifestações violentas e atentados também radica num outro medo, histórico que sempre nos prejudicou, muitas vezes manifestado por reis e personalidades da nossa vida política. Contrastante com muita coragem de um povo que por todo esse mundo andou e, com muito diversas culturas se intrusou e miscigenou. E este medo também é provinciano, no sentido de saloio e retrógrado. Este medo também assola muitos outros políticas europeus, mas em países onde apesar disso o povo pode ter outra intervenção e espírito crítico e não teme ser ele próprio, fiel à sua génese e cultura de respeito por todos e pelo individualismo, que se funda em figuras como Calvino e Lutero, e que também nós podemos nos orgulhar de ter tido, homens como Damião de Góis e mais recentemente Agostinho da Silva, que parece não nos terem ensinado o suficiente, para abandonarmos este nosso culto pelo saloio!
Saloios que somos, incultos com mais de 860 anos de que nos orgulhamos de ser... o que nos tem colocado sempre à mercê destes génios da política que, como Freitas, se têm sempre manifestado da maior inutilidade (há quase um ano escrevi aqui precisamente a minha visão sobre como este Freitas se tem manifestado inútil à nossa política e vida nacional...outro inútil é Jorge Sampaio...-, e simultânea arrogância, para Portugal, só nos resta manifestarmo-nos em espaços como estes de que Pedro Rolo Duarte em certas alturas se colocou numa altitude crítica e também pouco saudável de confundir figuras públicas com inteligência e competência confirmadas, quando se indignava com o facto de homens como Pacheco Pereira ou Pedro Mexia terem os seus blogues e também escreverem em jornais…
Seremos saloios sem solução?
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