Votar ou não, eis a questão

Este é o meu raciocínio actual sobre a coisa. Sei que praticamente ninguém concorda comigo, mas nem procuro isso. Sinto, apenas, uma necessidade de expôr o que penso, já há algum tempo, e agora acho que mais do que nunca, sobre as eleições, com a Democracia como está, os Partidos como são.

Começo, como na Matemática, pelo absurdo. O país vai a votos e apenas decidem votar (Partido A, Partido B, votos brancos, votos nulos, Partido C, etc), votos expressos nas urnas, cinco por cento dos eleitores inscritos, ou seja, válidos (coisa próxima, mas não a mesma coisa). 5% por cento, isso!

E, como a Lei diz, os Partidos distribuem esses 5% de votos entre si. Aliás não é de votos, pois. Mas de votos expressos, coisa parecida, mas não a mesma coisa. Confuso? Talvez, mas apenas para quem pensa. Pouco mais de 8 milhões de eleitores, ou de 9 milhões, consoante a fonte (estranho, não é? Eleitores devem ser pessoas, vivas, e contáveis mas nem o número é rigoroso, enfim), serão os eleitores inscritos em Portugal. Ora, cinco por cento são uns 400 a 450 mil. Menos do que a maior cidade do país. Seria como se...só Lisboa, metade dela, votasse. Mas que conta isso?

Segundo a Lei, uma Assembleia da República novinha, fresquinha, se constituiria, com o mesmo número de deputados, fossem (sejam) eles eleitos por 8 milhões de portugueses, por 4 milhões, ou por 400 mil. Pois ninguém (nunca) tem a culpa de os outros (tresmalhados doidos) se terem "marimbado" para o acto (segundo alguns, quase todos, ao que parece) mais importante de uma Democracia (que eu, veementemente, teimosamente, digo que não é e me escuso neste momento a explicar porquê, mas quem se sentir desiludido com o estado deste Estado, deste Regime, ao que ele chegou, talvez perceba, um dia...porque não é). Os mesmos 230 senadores da Democracia, ou outros fresquinhos e acabadinhos de sair de um maravilhoso acto eleitoral, cheio das mesmas...vulgaridades e de ideia nenhuma, se prestariam a assumir o seu honroso lugar como legítimos representantes do povo. Para, em nome dele, votarem Leis ...a melhorar ou a piorar a vida do povo eleitor. Temos visto tudo a melhorar, só a talho e foice...

Mas claro que é um absurdo. Mas matematicamente possível, incontestavelmente. Mas o absurdo serve que nem luva, ao meu raciocínio, até porque fui eu que o escolhi. Um disparate, mas um cenário, não uma utopia. Se assim acontecesse, que pensariam os "restantes" 95% de eleitores, dos seus legítimos representantes, quando esses votassem o agravamento de impostos, a limitação de liberdades individuais, ou o fim dos contratos de trabalho sem termo? Por exemplo. Em números, que pensariam os 7,6 milhões ou 8,55 milhões? Não interessa nada. A Lei se tinha cumprido, os políticos seriam legitimados. Evidentemente. E...a Democracia, ficaria em bom estado? Claro que sim, pois não ir às urnas é que está errado. Está bem...

E nesse caso, vejamos outro prisma do absurdo. O que este sistema diz é que só devem ser tidos em conta os que votam. Os outros que se calem. O que este sistema diz...não será que não conta nenhum eleitor? Será? Pois se as nomeações, tomadas de posse, escolha de Governo e tudo o mais se fizesse ainda que com uma base eleitoral de 400 mil portugueses, menos do que os mais pequenos Partidos, se não me equivoco, isso não quererá dizer que para os políticos, e para a Lei, não importa quantos votam, quem vota, ou quem nem quis lá ir escolher algum deles? Ou, então, se assim não for, se não retirassem ilações de uma votação tão inexpressiva, sentir-se-iam legitimados para representar e decidir em nome de um Povo? Isto, este absurdo não leva ninguém a pensar que um sistema assim não reforça uma Democracia, mas antes a fragiliza? Então e se...dos 8 milhões e tal, votarem 95% mas desses, 80% votarem em branco, ou votarem nulo? É diferente? Ainda pensam que não votar é não exprimir uma vontade política? 

E mesmo, mesmo mesmo que nem um Partido mereça um voto sentido, sensato e racional, é melhor, sempre melhor do que nem lá ir? E porquê. Fico totalmente aberto a uma explicação. Façam-me um desenho...como se eu fosse uma criança de 5 anos...

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