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A mostrar mensagens de agosto, 2014

Mudamos ou não?

Uma ideia recorrente que tenho vindo a ouvir, desde há muito, um pouco por todo o lado, é a de que ninguém muda. Querem, no geral dizer, "muda", ninguém muda para melhor. Se questionada a pessoa, sobre a eventual mudança para pior, confirma que se muda, só se muda para pior. Sempre achei isto uma ideia fechada, exclusiva, fragmentária. Uma ideia segregacionista. Só se muda para pior. E, pergunto-me eu, se assim for, por hipótese, então o mundo só pode piorar, sempre. E a vida. A nossa, e a de todos, porque, afinal todos mudamos (para pior, hipoteticamente). Se se muda apenas para pior, a mudança nunca devia acontecer, não é necessária, não nos faz falta e até se deve rejeitar.  No entanto, gostaria de relatar experiências pessoais. Em 1993 sofri um grave acidente automóvel, o meu carro tendo sido abalroado e catapultado para embater num poste de eléctrico, evitando o muro à minha frente. Não faço ideia, mas entre o embate no meu carro e o dele no poste, devem ter pass

Processos mentais: o processo decisório, a Certeza, os Impulsos.

Este texto será uma tremenda confusão. Aviso ou advertência (não tenho a certeza...). Há momentos que pensamos serem de reflexão. E há essa associação da reflexão ao consciente e, dizemos, decisão consciente, logo racional. Outros, serão de impulso, logo poderão ser menos racionais e pouco conscientes. Mas talvez não seja sobre isto que quero escrever. E esta frase denuncia um processo de indecisão. Será esta consciente, racional ou inconsciente? E que ligação, julgamos nós ser identificação, há entre racional e consciente? Gosto de evitar escrever sobre assuntos que tenha vivido pessoalmente, momentos e processos mentais inimistas. Mas já o tenho feito. Parece-me que expulso algum "demónio" incomodativo, embora o efeito possa ser demasiado efémero. E, se os escrevo, sinto estar a segui um impulso. Daqui, ocorre-me se um impulso obedece a algum processo, processamento, mental. E, se sim, qual o papel da mente consciente e do ainda tão desconhecido iceberg da nossa mente

Cisne Negro

Parece que a teoria do Cisne Negro, de Nassim Taleb se aplica às nossas vidas. Taleb defende que (em economia) o que parece muito, muito improvável acontece mesmo. E que depois de acontecer, as análises que se fazem pretendem que ele seria, afinal, mais provável do que alguma vez seria possível. Um dos casos apresentados é o do atentado contra as Torres Gémeas em Nova Iorque. Outra situação era a excessiva concentração bancária, que de facto levou a acontecimentos como falência do Lehman Brothers. Nas nossas vidas, como na economia? Pois, eu acho que sim. Há quem defenda que as coisas acontecem “se tiverem de acontecer”, ou acontecem “porque têm de acontecer”. Nunca fui apologista desta ideia demasiado determinística para mim, ou para a minha forma de estar. Pelo contrário, sempre me pautei por uma vida que é por nós mesmos determinada.  Um dos problemas do determinismo, ou da sua forma mais obscura, é a superstição e o seu parente negro, as artes “negras”. Tendo ouvido tanta coisa

Economia com Justiça Social

A Crise abateu-se sobre Portugal com uma força atroz e violenta, como em nenhum outro país europeu. Não bastam os comentários e elogios da nossa política, porque são sobre si mesmos, e porque pretendem justificar uma injustiça a que apenas escapam os mesmos que a crise alimentaram, dela vivem, ou com ela sobrevivem, sem grandes sobressaltos, e sem medo do presente e futuro. Noutros países do Sul da Europa, a crise financeira, por razões idênticas nuns, e distintas noutros, e que ainda não foi totalmente superada, não tem os contornos que teve e tem em Portugal. Porque as causas, por cá não foram ainda desmontadas, e desintegradas. A nosso economia ainda continua na mesma linha de antes, em que a Banca a domina, e em que a própria sociedade no seu todo está em segundo plano. Quando a economia devia servir a sociedade, em Portugal, temos a situação inversa. Este paradigma é a estrutura perversa que não nos deixa respirar ainda e nos estrangula o futuro. Porque a nossa política disto de

No coração da maldade

Durante séculos o Coração era o órgão do Sentimento. Com o tempo, o coração passou a órgão do Amor, o amor-amor, amor-carinho, amor-paixão, o fraternal e tantos amores que só para abordar o tema precisamos de um glossário. Há alguns anos abordei este tema, tentando explicar o que, para mim, consigo destrinçar entre paixão e amor. Há quem sinta amor apenas quando sinta paixão. Um paradoxo em si mesmo, ou talvez não. Há quem fuja da paixão, daquele aperto no peito, o formigueiro, o trabalho acessório, desnecessário e perturbaste dos intestino (telúrico e raquidiano, dizia um professor meu de Inteligência Emocional). Há que considere que uma é o princípio do outro, que são fases do mesmo processo (que não nos tira 'do sério', mas tira o sério). Deixo para mim a minha escolha pessoal no cartaz mais procurado do Universo. L'amour... E depois há o ódio e seu corpo físico, a maldade. O anjo negro do amor.  Quantos de nós já conheceram esta face necrótica da vida? Todos

Fundamentalismo

fun·da·men·ta·lis·mo   ( fundamental  +  -ismo ) substantivo masculino 1.  [Religião]    Doutrina   que   defende   a   fidelidade   absoluta   à   interpretação   literal   dos   textos   religiosos . 2.  Atitude   de   intransigência   ou   rigidez   na   obediência   a   determinados   princípios   ou   regras . "fundamentalismo" , in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,  http://www.priberam.pt/DLPO/fundamentalismo  [consultado em 23-08-2014].   Ninguém aceita para si a esta definição. E…no entanto, para os que soubermos ser honestos, connosco, parece-me que teremos todos um pouco disto, uma vez por outra, num ou noutro assunto.   Será uma defesa, será um resguardo, um reduto pessoal, quando dele necessitamos. Mas nunca será a atitude que nos leva a “aprender” e “apreender o mundo”, através do “outro”. O maior perigo, está de ver, é em colectivo.   Porque num processo colectivo, que começa pela divulgação de uma ideia, geralmente que r

Desfiando novelos

Temos uma natural tendência para procurar razões, motivos, causas e origens para muita coisa. Queremos, histórica e hereditariamente saber porquês de quase tudo. Excepto o clube de futebol de eleição. Neste caso, normalmente, nunca nos questionamos. Nos acontecimentos destes últimos anos e meses, há quem se ponha a discutir as razões que assistem a uns e a outros, para justificar um dos lados do actual conflito entre Israel e a Palestina do Hamas. Como membros de uma cultura ocidental, de matriz cristã e europeia, pode haver um inconsciente colectivo que nos impele para condenar palestinianos, e justificar Israel. Ou, pela saturação a que nos conduz esta permanente incompreensão, sobre como um Estado que tem um enorme potencial bélico (a que foi conduzido e condicionado, pela defesa dos seus, perante a constante ameaça a que está exposto), e a sua também raiz cultural ocidental, tendemos a condenar Israel. É algo que se insere na nossa tendência de justificar o quase, ou totalmente

A Causa de muitas (das?) coisas

«Há uma instituição portuguesa que é única no mundo inteiro. É o "já agora". Noutras culturas, tratar-se-ia de um pleonasmo. Na nossa, faz parte do pasmo.O "já agora", e a variante popular "Já que estás com a mão na massa...", significam a forma particularmente portuguesa do desejo. Os portugueses não gostam de dizer que querem as coisas. Entre nós, querer é considerado uma violência. Por isso, quando se chega a um café, diz-se que se queria uma bica e nunca que se quer uma bica. Se alguém oferece, também, uma aguardente, diz-se: "Já agora...". Tudo se passa no pretérito, no condicional, na coincidência." Miguel Esteves Cardoso in “A Causa das Coisas" Mas há muitas causas e ainda mais coisas. Há as causas de um conflito entre dois povos, duas nações. A causa da actual guerra pro-fraticida Israel-Palestina/Hamas (apetece-me esta provocação, aos dois lados, que, de facto, nunca entenderam quão irmãos são). A causa, de uma dívida coloss

Da matéria inexplorada à mente (ainda) desconhecida

Séculos de Pensamento, de Investigação, desde a aurora da Ciência, e da combinação dos dois, ainda nos deixam provavelmente no adro da nosso templo cerebral. Razão, Pensamento, Racionalidade, Consciente, Inconsciente, Emoção, Predisposição, Indisposição, Saciedade, Felicidade, Saudade, Desespero, Percepção…as maiúsculas para que tudo tenha uma relevância do mesmo valor no ponto de partida. Não foi difícil, há milhares, ou milhões de anos, para o primórdio humano, o protótipo do que somos ter percebido a sua diferença quando comparado com os animais (que dizemos irracionais, mesmo agora em que se relativa a racionalidade, perante a emoção, o poder do inconsciente sobre nós, se descobre um pouco mais a forma como o cérebro funciona, como entendemos o mundo, como pensamos e como decidimos). Está a ser muito mais difícil entender outras vertentes, natureza mesmo, do nosso cérebro, e como se diferenciam conceitos, de forma cabalmente compreensível (já nem direi cientificamente) como me

Catalunha e BES

Durante anos ouvi a doutrina da "Catalunha exemplar". Trabalhava na altura, por volta de 1997, numa multinacional alemã, onde antes, de 91 a 97, dependíamos directamente da Alemanha, e passámos, após uma "restruturação" das que na altura estavam em moda pela Europa e pelas maiores empresas europeias (organizar cluster de dois a três países, uma moda peregrina...), a depender da "eficiente e hiper sapiente Barcelona". Um desastre total. Nunca vivi tamanha incompetência, de gente que se julgava superior, bem preparada e muito profissional. Tudo mentira do pior nível. Não falavam quase nenhum idioma que se entendesse, eram pueris em tecnologias e uso de informática e, ainda pior, eram hilariantes em teorias de marketing. E...nunca aceitavam, ou aceitam que alguém 'de fora', mesmo de fora da Catalunha, mas de Espanha, tivesse uma opinião, excepto contribuir para um ego muito imerecido. Anos mais tarde, tive um chefe catalão, novamente numa empresa, o

Sob a copa das anoneiras

Há árvores que nos dizem mais do que outras, nos impressionam pela sua dimensão, pela forma da copa, do que ela abraça. Imagino, como li em Steinbeck, a copa de um enorme carvalho, que é de facto uma bela árvore, um verde límpido e vivo, luminoso aos raid de sol que tentam penetrar. Uma anoneira grande, de muitos anos, é uma árvore imponente, Não tem o belo de um carvalho nas suas folhas, ou tronco. Mas no verão, os muito poucos raios de sol que se aventuram a chegar ao solo, após ultrapassarem a densidade das suas folhas, ganham um valor especial, e constroem uma teia de pequenas pérolas luminosas, para quem está deitado no solo a admirar tal espectáculo. Também nos oferece um aroma que poucos outros seres vegetais têm possibilidade. Era debaixo de anoneiras que os meus pensamentos, as minhas leituras também, ganhavam a serenidade que esses dias de criação de um mundo que eu ainda não sabia existir, tomavam forma e corpo. Mas numa dessas tardes, a minha avó passava por baixo de u

O Caso BES e um Regime à espera de mudança

O caso BES é paradigmático. De má gestão nas grandes empresas portuguesas, ou, como diz o povo por estes dias, de uma gestão que só foi má para a empresa e para os outros, mas excelente para os seus gestores. O caso BES não é como diz Sousa Tavares. Respeito a sua opinião, mas afirmo que ofende a minha inteligência e o meu direito, exactamente o mesmo tamanho do dele, de democrata e eleitor, mas muito mais, de membro de pleno direito de um povo massacrado com escândalos sempre sem uma justa solução. O Caso BES ofende-nos, aos impotentes e aos justos e honestos, que somos muitos. Ofende a quem tem de pagar, como veremos muito brevemente, a leviandade e o dolo.  Mas um pensamento ocorre-me de cada vez que me recordam este caso e a vergonhosa família sem qualquer nível moral e social, contrariamente ao que muitos ainda pretendem defender, entre eles Sousa Tavares e todos os que ao silêncio cauteloso se votaram sobre isto.  O Governo e a Democracia. O Governo não tem respon

Sonhar sonhos antigos

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De Steinbeck, A Leste do Paraíso, com Beethoven e a sua fulgurante Quinta, ou a romântica Quarta, enchia-me a cabeça de coisas grandes, de sonhos impossíveis de não se realizarem. Lá fora, os ramos mais finos da anoneira afagavam as janelas de vidros de pequenos rectângulos, por si mesmas um sinal do tempo da construção desse que era o "quarto novo", da casa onde vivi, pelo meu avô construída. Vivia um tempo de onde não se podia prever o tempo de hoje. Um tempo onde todos os sonhos cabiam. Um curso, uma carreira, seguir o sonho dos grandes cientistas, das descobertas marcantes, ou dos escritores que dançavam pelos meus dias com as suas palavras ritmadas, a sua música poética, as descrições de paragens que contava conhecer. Steinbeck enchia-me o imaginário. Eram as suas descrições de pormenor, onde imaginava o aroma das ervas e montanhas da califórnia, ou me deixava entristecer com o insucesso e falência de Trask na sequência de uma greve de comboios que impedem a exp