O Domínio do Ocidente. Ainda?

Três obras, ou lidas na totalidade ou (ainda) em parte, têm marcado uma parte do que 'vejo' deste Mundo Europeu e Ocidental, onde alimentei a minha natureza e inseri numa cultura, que por vezes já nem parece existir.

Ian Morris, O Domínio do Ocidente, Bertrand, Lisboa, 2014.
Jacques Barzun, Da Alvorada à decadência, Gradiva, Lisboa, 2003
Jared Diamond, Collapse, Penguin Books, London, 2005.

Barzun, que já diversas vezes mencionei, escreveu uma obra monumental, que discorre sobre a cultura europeia desde 1500. Uma análise histórico-filosófica, fundamental na compreensão do que fomos e somos.

Diamond, a par de outras obras, como Armas, Germes e Aço, analisa a razão do colapso de várias sociedades, países e culturas, e regiões dentro de países desenvolvidos, como os EUA, por alteração de paradigmas tecnológicos e económicos (perda do domínio do carvão e de alguns minérios, com a quase desertificação de vastas regiões da América).

Morris escreveu uma referência, ao que parece (ainda não lido), construindo um romance, um ensaio histórico e uma análise sócio-económica.

Nada têm a ver uma com outra, estas três obras. Mas podemos 'vê-las', interligadas por uma temática, pautada pelo título de Ian Morris. O meu 'ponto' é um pouco outro, partindo desta mesmo tema, cada dia mais premente, em minha opinião.

Parece ser consensual, entre estes autores e muitos mais, e pensadores anónimos, que há muito a dita Cultura Ocidental pode estar a viver uma crise acentuada. Sobre esta mesma crise, se criou um espaço europeu de trocas económicas, nunca desenvolvido a este nível social, menos ainda cultural. Mas persistem instituições e políticas e políticos, e seguem-lhes, ou mesmo 'orientam-nos' nesta triste caminhada, como tem vindo a ficar evidente, rumo a qualquer coisa, excepto a um futuro de sucesso. Pelo menos sucesso universal, no universo da Europa. São as profundas desigualdades que nos separam hoje, europeus, mais do que nunca, eventualmente. São porventura essas desigualdades, que matarão um dia este dito Projecto, ou Sonho Europeu. Os Americanos já se gabavam há muito do seu Sonho. E não podia a Europa, altiva no seu estático e já anquilosado, talvez anacrónico, domínio. Que domínio algum é já. Mas por falhas graves e enganos de visão.

Vejo, falo e troco opiniões, com quem me mostra todo o seu potencial de inteligência, de experiência, o brilho intenso e profundo no olhar, sinal de uma energia criativa, intelectual ou outra, há muito 'encarcerada'. Nos últimos tempos, muitas são as pessoas que me confirmam o que de há longos anos suspeitava, comparando com povos e países por onde antes me encontrei. Não consigo ver superioridade num alemão, num sueco, num francês, homem ou mulher, seja a dimensão profissional, ou (para mim bem mais significativa) a humana. Pessoas com inteligência a saltar-lhes pelos olhos, dizem-me, sem dizer, que estão ao mesmo nível, ou muito mais acima, em cultura, em capacidades humanas e profissionais, e em ...um aspecto que me marca de forma indelével, emoções inteligentes.

Não consigo assim, entender a razão deste forçar de inferioridade generalizada contra latinos, contra nós portugueses, porque apenas perderam a sua hegemonia tecnológica, económica por consequência, e entraram num ciclo depressivo, ou melhor, numa espiral. Por mim, há muito que me pareceu identificar que quem dominar uma tecnologia, genericamente, ou traduzindo, uma dominante expressão económica, por via de tecnologia proprietária de um país ou cultura (portugueses que dominaram por séculos a navegação, o comércio empático e pacífico, com distintas civilizações, em tão longínquas regiões do globo; ingleses que lideraram a revolução industrial, por via da máquina a vapor e da energia fóssil do carvão, americanos e a sua liderança na informática, a perder-se ou localizar-se noutras regiões onde o custo de produção é a tónica chave).

A tal energia transbordante, hoje um sinal dos novos tempos que se movem e nos dinamizam, devia ser líder, socialmente, economicamente e mesmo a nível micro social. Mesmo nas relações pessoais. Mas pessoas fantásticas continuam a ser relegadas para um plano nada condizente com a sua efectiva capacidade. E nunca tive a negação desta capacidade. Vi sempre, e hoje mais do que nunca, esse brilho incrível e fascinante, sinal de uma inteligência tão mal aproveitada e respeitada.

É o que nos tem feito este absurdo domínio do medíocre, apenas porque tais pessoas, tais sociedades, com mais potencial Conceptual, não se regem por princípios de agressividade interpessoal, mas antes se movem entre nós e pelo Mundo, da forma mais encantadora e harmónica que um Humano deveria justificar, no seu distanciamento do 'animal'.

Fica assim o meu elogio a tantos que hoje andam pelas franjas sociais, ou por lá perto, e ainda assim transferem essa superioridade intelectual a todos nós, em histórias bem contadas, em conversas brilhantes, em olhares incandescentes de intensa actividade interior. Bem acima de tanto medíocre que nos pseudo-lidera. E fica esta marca de uma Cultura que não valoriza os seus, e se deixa encantar por meras razões de economia fria e, desculpem-me, meramente estúpida.

Como pode um Ocidente alguma mais sentir-se dominante, com tanto desbaratar de capital humano superior?

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