Governar contra os outros (privados)

 


A ASAE efectuou "inspecções" em várias lojas da grande distribuição alimentar. Foi oficialmente comunicado que se tratava de verificar se havia especulação em produtos alimentares, com a justificação baseada no momento inflacionário que vivemos.

A comunicação que nos chegou foi a de terem encontrado margens superiores a 50 % em vários produtos, alguns do designado (mas não padronizado, como nem pode ser) "cabaz alimentar básico".

Surgiram-me várias questões, e observações ou comentários:

  1. Como determina o Governo o que é uma margem aceitável? Qual o critério?
  2. Que verdadeira intenção tem o Governo?
  3. O que pretende o Governo com estas acções policiais, ao estilo de regimes ditatoriais, que por norma, interferem em todas actividades privadas, não regulando, mas controlando e estabelecendo limites, normas e mais normas, medidas aceitáveis e não aceitáveis?
  4. Porque acha o Governo que tem autoridade para interferir sobre margens de negócios privados?
  5. Que consequências virão de tais acções e da defesa delas, se não a de se criar um muito grave precedente de fiscalização constante e demasiado próxima, de activades económicas sobre as quais o Governo e o Estado nada têm a ver (excepto no que à segurança alimentar concerne e às práticas legais das actividades, e, claro...ah pois! os impostos sobre tudo e mais alguma coisa, aos níveis que conhecemos!)
Muitas pessoas vão, previsível e evidentemente, considerar como positivas estas acções de "fiscalização". Porque vivemos tempos de escassez, extrema para algumas famílias, de poder de compra. Tempos de muita dificuldade e de ansiedade. E. logo, actuar sobre margens comerciais, parece o mais legítimo, lógico desejável e defensável.

Para outras pessoas, que consigo entender bem melhor, já era tempo das "autoridades" (lembro que autoridade é um termo perigoso, que encerra dois conceitos não necessariamente convergentes, um sendo o que vem da legalidade, outro o que vem de se estar bem dentro de um assunto, ser-se especialista sobre o assunto, ou ser-se respeitado de forma natural, o que, nesta segunda acepção, é manifestamente falso que o Estado entenda minimamente desta matéria. Ignora e, diria, até forma, atroz) intervirem junto de tais agentes económicos. Nomeadamente porque estas grandes cadeias de distribuição detêm demasiado poder negocial, tendo como uma das mais perniciosas e lamentáveis consequências, chegarem a estabelecer os preços de venda dos produtores agrícolas, seus fornecedores. 

Imagine-se, de facto, que os distribuidores de equipamentos electrónicos, ou automóveis, pretenderiam estabelecer o preço a que compram aos fabricantes os ditos equipamentos. Mas em economia e gestão há o terrível e demolidor conceito de Poder Negocial... e este, não o têm infelizmente a maioria esmagadora dos produtores agrícolas e pecuários.

Dito isto, penso que fica claro que nunca irei defender o enorme poder negocial de uma cadeia de distribuição, por que sempre estou do lado de David e nunca de Golias. 

Outra coisa, razão que me levou a escrever estes comentários, é permitir num país ocidental, teoricamente democrático e envolvido num mercado relativamente livre, onde se pretendem defender os princípios da iniciativa privada, e os sectores privados, o seu trabalho e a sua importante dinâmica (e, de novo, não sou cego às evidentes anomalias, desigualdades e imperfeições do "Privado"), que um Governo estabeleça de forma arbitrária e abusiva, margens comerciais brutas (Brutas, não esqueçam!) de agentes económicos. 

Permiti-lo, e provavelmente ninguém fará nada para impedir este abuso socialista (verdadeiramente típico deste Partido que nos governa e abusa todos os dias do poder que angariou, por culpa dos seus potenciais opositores e da iliteracia dos portugueses, é criar um precedente muito grave. 

Mas ainda falta analisar, ou melhor, referir, o que para mim é demasiado óbvio, as verdadeiras intenções deste Governo incompetente e que abusa do Poder.

O Partido Socialista não quer em caso algum, não aceita de forma ligeira, a perda do seu lugar no Poder. Do Poder dependem todas as vidas, a maioria das quais nunca teve uma profissão, que fazem parte desse Partido e as dos amigos do sistema por eles criado.

Assim, ao fim de um ciclo tremendo e muito ameaçador da perda do poder, para este Governo e Partido que o sustenta. havia que passar culpas da pobreza ou miséria crescentes no país, para o odiado (e nunca entendido, por eles) sector privado. 

Há que, de acordo com o PS, passar ainda a mensagem de o Governo e do seu Partido, se constituírem Protectores e Reguladores, a favor dos pobres portugueses indefesos, vítimas do Lucro do Grande Capital.

Há também que distrair o povo de tanta trapalhada, abusos e incompetência de quem nem faz ideia de como governar, de como fazer seja o que for e, principalmente, de quem não sabe actuar sem mandar, ter a mania marxista da educação do povo...ter esta doentia e autocrática atitude que temos passivamente aceitado.

E podem estar certos de que pensar assim, como o que comento e opino, traz mais inimigos que amigos: ainda hoje conheço quem, sendo simpatizante de partidos "de direita" (esta anómala e patológica classificação das opções e ideologias, que muito bem serva ao abusivo incompetente socialismo pseudo-democrático) não simpatiza nada com Passos Coelho, porque este lhes tirou temporariamente, umas dezenas ou centenas de euros, ou de cêntimos. Porque há quem veja a política sempre do ponto de vista da carteira pessoal (afinal o que fazem os socialistas, precisamente...).

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