Uma fracção apenas
Temos momentos e tantos momentos. Aquele em que tentamos gerir o ruído à nossa volta, da pressa automática e nervosa de tudo. Aquele em que não queremos ouvir nada do que nos parecem querer dizer, sem o querer, por quase gritarem num locar público, as suas vidas, as suas opiniões, desaforos, ou até as suas declarações de amor. Não é nosso, nem para nós e não queremos saber. Só queríamos ter um espaço de silêncio para pensar, ou tentar inclusive a impossível ausência de pensamento. Temos momentos em que o silêncio que até procurávamos nos é tão pesado, que tudo daríamos por um bocado de ruído dos outros. Temos momentos musicais. Temos momentos de assombro por alguém. Momentos de emoção e comoção. De auto-comiseração, sempre julgado ilícito por alguém. De altruísmo, puro ou maculado. De egoísmo saudável, ou condenável. E temos tudo, em momentos, estanques ou confusos e entrelaçados. "I am a strange loop", escreveu Douglas Hofstadter. E somos todos, a vida toda. Há...