Demagogia, hipocrisia e a Actual Crise governativa
Há dois lados e duas (muitas mais, mas duas, pelo menos)
perspectivas gerais, neste momento, que jogam o futuro da nossa Democracia.
A perspectiva, ou melhor, a visão, segundo os políticos. E a
visão, que não tem contado, mas que um dia se pode definitivamente impor, pela
necessidade e urgência, a o povo português (que são muitos ‘povos’, digo, visões,
claro, mas que em termos gerais, em termos de uma generalizada insatisfação
sobre a classe política, eu arrisco-me a considerar mais ou menos homogénea).
Os políticos. Continuam a persistir numa lógica de Poder, de
alternância no Poder, de eventual pertença ou de tradicional oposição a ele. De
acordo com esta lógica, hoje cada dia mais, a caminhar para um real e fatal
desajustamento da realidade, há dentro desta visão, formas distintas, ou incorporações
mais ou menos diversas. No fundo, porém, há uma mesma lógica: fazer parte do
Poder político, ou ser-se oposição a ele, sem efectivamente o ser, sem transpor
alguma barreira sem retorno.
Neste momento, vejamos de que lado, e como se corporizam os políticos,
e as suas facções. Os Partidos actualmente no Governo, querem lá permanecer. Os
que estão fora, querem voltar a lá estar. As razões, em tempo de crise e de
muitos insucessos, vá-se lá saber quais são, vá-se lá entender. Sabendo (nós e
não ‘eles’) que a probabilidade de sucesso no Poder é ínfima e o custo é enorme
(excepto se continuarmos a não os saber responsabilizar, sendo esta a razão
maior por todos quererem para lá ir… fora distinta a atitude dos eleitores e
talvez de lá quisessem fugir…).
O Presidente da República não sancionou a proposta do PSD e
CDS, de remodelação governamental e contrapôs um acordo governativo entre os
três Partidos do ‘arco (não da velha, mas) governação. O PSD e o CDS disseram
logo irem estudar o assunto e ver a sua viabilidade e a sua realização. O PS,
embriagado com as sondagens, cego pela sede de Poder, nem pensa e logo rejeita.
Admito que o PS pense poder governar de forma distinta, contrapor soluções a
esta injusta e absurda austeridade que nos impuseram. Mas admito também o seu
oposto: que têm perfeita consciência de nada de diferente poderem fazer, na
eventualidade de esta solução do PR não ser aceite e não avançar, e se terem de
realizar eleições ainda este ano. Se acreditam que podem fazer melhor e
diferente, sem cortar mais custos ao Estado, que passem por cortes em
funcionários, em pensões e em reformas, ou mesmo outros custos sociais, talvez
então o perigo de se tornarem Governo seja maior e a calamidade se torne irreversível.
Porque, na verdade não o conseguem fazer.
Uma conta simples, que o PS tem de conhecer, mas escamoteia,
tal a sede de Poder: a nossa dividida tem de ser reduzida dos actuais cerca de
80 mil milhões (era de mais de 90 mil milhões quando Sócrates saiu e de 70 mil milhões
quando ela lá chegou…) para uns mais sustentáveis 70 mil milhões. Tudo o que
for mais do que isto, é insustentabilidade de Portugal, com autonomia
financeira e económica. Que ninguém duvide. O que Portugal produz, não permite
que se ultrapasse a barreia dos 70, acima indicada. E os cortes neste momento ‘em
cima da mesa’ ainda só são de 4,7 mil milhões. Donde… como se pode facilmente
perceber, os cortes no Estado ainda não acabaram. Mas o PS…propõe, à exaustão,
mais investimento público, mais custos no Estado Social (incomportáveis) e regresso
a uma estrutura do Estado totalmente insuportável. Tudo a bem da Demagogia.
António Costa, entre outros, insiste na necessidade de
eleições. Os portugueses, em resposta, deviam cuidar de que o PS não
regressasse tão cedo ao Poder, pelo menos isolado, ou sem controlo bem mais
apertado, do que no passado. Se virmos o próprio Costa, o que fez na Câmara de
Lisboa é um escândalo. Tem até hoje escondido o maior défice de que há memória
em Portugal, tal como os Açores. Mas nestas coisas, os políticos sabem bem
calar-se, em prol de um estranho e perigoso compromisso de secretismo e quase ‘irmandade’.
Talvez a mão da Maçonaria esteja a funcionar, bem mais do que diz Henrique Monteiro,
mas suspeito que nunca o iremos saber…
Os portugueses deviam, nesta fase exigir. Com conhecimento,
com fundamento, mas exigir. Antes de mais responsabilidade. Dos que governam,
mas nem um pouco menos, dos que se lhes opõem, visto poderem ser um dia,
também, Poder. Talvez a maior exigência devesse, porém, ser a de Transparência.
Sobre a capacidade da Banca em efectivamente Mandar em Portugal. Sobre o mesmo,
no que toca a grandes empresas, como EDP, PT, GALP, etc. A corrupção vem da
falta de transparência. Tal como a nossa estranheza, perante o que nos vêm a
dizer membros destacados do PS.
Porquê esta fome de Poder, se o que lhes acontecerá será inevitavelmente
queimarem-se?
Sabemos todos muito bem, o que esta austeridade imposta nos
tem custado e ainda nos irá custar. Sabemos bem as asneiras que este Governo
tem feito. Que nos levou a um desemprego insustentável, num país onde a
Economia talvez não veja muito melhores dias nos próximos dez anos. O
desemprego poderá manter-se acima de 15% por um prazo de mais de sete a dez
anos. E que significa isso para tanta gente, muita com excelente formação, da
classe média, que não mais voltará ao mercado de emprego e cuja idade anda, em
termos muito representativos pelos 45-55 anos?
Que pretende o PS? Que acha que consegue Cavaco Silva? Que
pensa ainda poder fazer a coligação? Porque pedem tanto eleições os ‘famosos’
do PS? O interesse do Partido está acima do do país? Acham mesmo, MESMO (!!!)
que sabem, podem e os deixam fazer diferente?
É este o impasse, e não o da mera (e já grave) crise de
governação. E o impasse, uma vez mais, embora não pareça, vem sempre do mesmo
problema. E dos mesmos erros.
Primeiro, o PS desbaratou as finanças de Portugal. Não foi
só o PS, ou não o foi sozinho, outros governos, do PSD o haviam feito, ainda que
em menor escala. E mentiram de tal modo que ainda hoje há inquebrantáveis
defensores do clube, cegos por essa ideia de que nas veias de cada um há sangue
bom ou sangue mau (sendo o bom, o de um socialista, claro).
Primeiro, também (a ordem é, como se sabe, indiferente), os
amigos corruptos do PSD e do CDS andaram a comer do Estado, a delapidar-nos, a
favor de empresas suas e de amigos (também o fizeram os amigos do PS). Poucos
escaparão, mas todos se escapuliram.
Do Estado, vivem e têm desde há muito, desde Salazar e com
mais ênfase e gravidade, muitas empresas e quase todos os grandes grupos
portugueses e até alguns internacionais. Tudo com a ignorância dos portugueses,
que, cegos, aina acreditam no Pai Natal, e quase tudo têm sancionado. Ainda
hoje há quem defenda as energias alternativas…(eu também, pelo primas do Ambiente,
mas nunca, NUNCA, pelo do acréscimo insuportável no custo da nossa factura
eléctrica, que continua).
O Estado até para o insuportável e aberrante insultuoso
Acordo Ortográfico serviu, para contentar um dos lobbies nacionais. Um, como
tantos outros: Construção civil, Farmácias, Medicina privada (e pública),
energias (já referido), agricultura, telecomunicações, sociedades de advogados,
certificações ambientais…
Portugal o país maior dos interesses e redes de influência.
Que continua, e até mesmo agora, em situação tão grave, com esta coligação
governamental e com a oposição, se continua a fazer sentir.
O problema, sempre por resolver é este: Corrupção, redes de
influência, interesses corporativos, sociedades secretas, interesses
partidários pouco ou nada claros.
A crise política pode agravar tudo isto, e acelerar a
situação de calamidade, mas a sua resolução não resolverá o Problema de fundo.
Se não fazem os actuais agentes polítcos (todos, de que não
excluo os sindicatos, agora também opinitivos sobre a política e a política
parlamentar e geral…, e os Partidos da Assembleia, mesmo os mais pequenos,
igualmente responsáveis) o que se espera deles, quem o terá de fazer?
Uma das soluções, pequena e não suficiente para ultrapassar
a crise, não a da governação, mas a financeira, social e económica, parece-me
ser, ainda, a substituição das actuais lideranças partidárias, nos três
Partidos, PSD, PS e CDS.
Porque, todos sabemos que Portugal tem de continuar!
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