Pelo bosque ou junto ao rio?
Estar a passear sozinho num bosque, numa manhã fresca de Primavera, num desses fins-de-semana em não que apetece ficar em casa a ler, ouvir música, ver televisão ou fazer arrumações e limpezas, o sol penetrando pelas altas árvores e o vento fresco, agradável. Sozinho com os pensamentos frescos, livres a fluírem, reflectindo sobre mim mesmo e sobre os outros. Sobre e vida, o que nos deu ou há-de ainda trazer. O aroma das ervas novas a florescerem, transmite a tranquilidade e inspiração adequadas. Nada fazendo, excepto uma fotos, pensadas com tempo. Sente-se alguma música que nos sai da mente e se enquadra naquele ambiente bucólico e renovador. Uma Sinfonia pastoral de Beethoven, ou uma obra de Dvorák, ou ainda a Fantástica de Berlioz. Tudo parece perfeito e terapêutico.
Ou estar numa cidade como Lisboa junto ao rio, numa manhã fresca de Primavera, num desses fins-de-semana em que não apetece ficar em casa a ler, ouvir música, ver televisão ou fazer arrumações e limpezas, o sol penetrando pelas altas árvores e o vento fresco, agradável. Sozinho com os pensamentos frescos, livres a fluírem, reflectindo sobre mim mesmo e sobre os outros. Sobre e vida, o que nos deu ou há-de ainda trazer. Ao lado do Tejo, onde tanta gente se passeia a pé, ou de bicicleta. O sol reflecte-se nas águas e puxa-nos para ideias e pensamentos, distintos do turbulento quotidiano. Mas o ruído, mesmo que um tanto distante da carros nas marginais ali próximas, não nos permite uma interiorização total das nossas atitudes ou dos outros. O burburinho ainda assim presente, não nos liberta na realidade, de forma inspiradora. Surgem músicas que levamos com os nossos passos, músicas da nossa memória recente e algo transitória. Por dentro, canta-se em silêncio, uma balada dos Outlandish, um ‘Agarra-te a Mim’ de Jorge Palma, talvez um andamento do irrequieto terceiro andamento do terceiro concerto de Rachmaninov.
Quantos de nós temos a oportunidade destes momentos de reflexão e auto-análise? Pensarmos no que somo, por nós, para nós e com os outros? Pensar no que queremos e que julgamos poder conseguir? Reflectir sobre atitude, nossas e dos outros, sobre comportamentos, emoções, paixões, amizades, conhecimentos, aprendizagens, leituras, vivências e convivências?
Se não nos interiorizamos e não nos esforçamos por nos conhecermos, como podemos entender os outros? Se não conhecemos, nem que superficial e subjectivamente os outros, como podemos ajuizar sobre elas e eles?
Para a análise de nós, emocional e racional, não necessitamos de uma base? Uma sólida base, dinâmica de conhecimentos, uma base fundada em aprendizagens, num caminho de busca constante, numa procura, culturalmente apetrechada, do nosso lugar na vida e com os outros. Do que são esses outros para nós?
Num país em que necessidades primárias são ainda muito a ocupação mental e preocupação diárias de uma imensa parte das pessoas, como analisar o caminho a fazer, nosso e dos outros, e com elas e eles, e as oportunidades que nos surgem ou que conseguimos criar? Como saber quem em política se deve escolher? Que rumo dar à vida? Que formação perseguir? Que profissão procurar. Que negócio construir?
Como escolher correctamente um político para administrar o nosso Estado ou, mais difícil ainda, como entender a importância, hoje demasiado presente e na mesma medida carente de interesse nosso e merecedor da nossa confiança? Como podem surgir elementos válidos de uma sociedade assim, tão preocupada com o imediatismo da vida, com o materialismo da mesma, o sucesso fácil e plastificado, sem visão e consequente preparação, planificação de futuros?
Como não hão-de surgir políticos apenas medianos, como os que actualmente ocupam os lugares de destaque nesta triste sociedade? Com foi possível um Partido Socialista eleger um José S. Pinto de Sousa, que se empenha cada vez mais em nos controlar a vida e cercear a liberdade? E um adormecido Luís Filipe Menezes que tanto se empenha em produzir gafes, disparates e envergonhar o partido que, em momento de cegueira colectiva o elegeu? Que ganhámos ou podemos vir a ganhar com estas escolhas que fizemos?
E as nossas escolas que professores, programas e métodos têm que não se orientam por elevados padrões de exigência, competência e qualidade. Quando hoje, num contexto globalizado, os riscos de más escolhas nesta área, levam ciclos de mais de dez anos a corrigir.
E os piores gestores da Europa - com felizes excepções, sempre as mesmas, em promíscua constante rotação pelas grandes empresas - que não valorizam ou remuneram os valores humanos que tanto se empenham perante uma ingrata e incompetente direcção nas suas empresas?
Porque somos tão pouco criativos, ou quando somos não valorizamos esse nosso capital?
O nosso espírito crítico devia ser mais objectivo, auto-avaliador, reflectido, criativo, positivo, construtivo. Mas para tal, temos de ser melhores, mais cultos e esclarecidos, como pessoas e e elementos de uma sociedade.
Os sinais e mensagens que nos chegam quotidianamente dos valores humanos que ainda abundam no nosso país, não têm sido reconhecidos. Esses tantos valores, em tanta gente, conhecida ou incógnita são o melhor capital de um país, que no caso do nosso os tráficos de influências tantas vezes aniquilam.
Todos devemos, uma ou outra vez passear por um bosque, o mais próximo de nós, dentro de nós mesmos e deixar-nos inspirar pela atmosfera limpa e reveladora que nos pode guiar a melhores atitudes, mais responsáveis, críticas e autocríticas, num caminho de empatia com quem vamos tomando contactos. Usando do melhor da nossa emocionalidade, temperando com a racionalidade clarividente que pudermos.
Para compreendermos os outros, temos antes de nos conhecermos melhor. Para, assim, fazermos escolhas nossas ou sobre outras pessoas, temos de criar empatias e dominar emoções, mas não usar em demasia de racionalidades artificiais, que nos conduzem a impulsos e atitudes menos sensatas e que acarretam uma potencial carga de insucesso ou sofrimento futuro.
Esta é uma área onde a psicologia e a sociologia se encontram. É um campo de batalha intelectual, moral e ético, onde cada um de nós, encontra a paz que lhe advém do conhecimento, do controlo emocional e da razão. Ou nos defrontamos numa batalha contra a incompreensão, frustração e desencanto, por não termos sabido preparar-nos para avaliações, criticas e escolhas responsáveis, apaziguadores connosco mesmos, sensatas e dignificantes. Escolhas para nós ou sobre outros. Por não termos enveredado pelo caminho do auto-aperfeiçoamento, na busca do conhecimento e da cultura.
Os nossos actuais governantes pautam-se pela nossa obscuridão, individual e colectiva, limitando as nossas liberdades no que aos interesses secretos deles e dos seus amigos lhes parecer ameaçador.
Só um indíviduo informado, esclarecido e culto é verdadeiramente livre. O mesmo se aplica a todo um povo.
Comentários
ruinzinha :)