Instrumentalização e purga no PSD?!?
O PSD entrou na democracia portuguesa com Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Mota Pinto e outros fundadores como uma força política reformadora, com uma atitude de transparência e com uma prática de independência, face a correntes político-filosóficas internacionais desgastadas e comprometidas.
Os seus fundadores pretendiam um partido sem vícios, decorrentes, no caso de outras forças partidárias, como o PCP e o PS, de compromissos ideológicos internacionais e de vícios de prática diária muito ancorados num passado que naquele período de 1974 a 1976 estava precisamente a transformar-se. O PSD, na altura ainda PPD, por razões de dificuldade de registo da designação social-democrata, queria trazer uma frescura à nossa vida política e social para, com isso, mudar o país, sem âncoras ideológicas. Queria "fazer de novo".
A atitude de tal partido era, na altura e ainda muitos anos após Sá Carneiro, a de um partido, ou seja de um grupo de personalidades influentes, cuja individualidade e objectivos não se compadeciam com este teatro todo, esta tentativa a que agora se assiste de manipular, instrumentalizar, independentemente de eles próprios poderem sofrer com o arredio do poder.
Explico: um partido formado por gente que gosta de se sentir democrata até à medula e de respeitar a liberdade dos outros, sem condicionar, quando o interesse nacional assim obrigar, isto é, estiver acima do interesse partidário, a liberdade de pensamento, de expressão e de actuação. Pode isto parecer não ser possível num partido. Numa máquina cujo objectivo é estar chegar, estar e manter-se no poder para, assim, ter a responsabilidade de mudar Portugal. Pode parecer incompatível, mas não o é.
Não o é, se se deixar manter a pureza original de tais princípios de liberdade de expressão.
Vou concretizar: não gosto nada de assistir a processos de saneamento, ou purga, como aquele que se ameaça concretizar presentemente no PSD. Como cidadão independente, sem filiação partidária, mas que há muito compreendeu que Portugal só beneficia por ter dois, pelo menos, partidos fortes e de boa sanidade interna, não admito este tipo de "caça às bruxas" contra tão importantes, porque influentes e de qualidade intelectual ao mais alto nível, tais como Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, Cavaco Silva...
Inadmissível!
Num momento de reflexão, pelo qual o PSD tem de passar, para bem deles mesmos e do país. Num momento de reconstrução de estruturas dirigentes do PSD, iniciar um processo de truncagem de algumas das suas personalidades mais eminentes é, no mínimo, anti-democrata.
Ora, pode parecer que para bem de um parido as coisas devem funcionar com uma disciplina a toda a prova. Como se fez em tempos e ainda se pratica, com a disciplina de voto na Assembleia da República. Também isto é um ultraje!
E nada disto tem que ver com ingenuidade ou pensamento purista ou pior, näive. Não! O que tem é de se manter princípios democráticos em toda linha de actuação e em todos os momentos. Há aspectos sagrados numa actuação democrática.
Processos de expulsão, por discordância de pontos de vista ou mesmo de crítica aberta- e pelos vistos o povo até deu razão aos críticos e não aos criticados- não são processos ortodoxos e que possam aceitar-se num plano de respeito pela liberdade individual. Um partido não está acima da liberdade e da democracia. Faz parte delas.
Se os processos em causa forem em frente, por absurdo- pois não acredito que tenham continuidade- um dia concluir-se-á que se perderam valores importantes, ideias importantes e que o país, uma vez mais, empobreceu.
Admita-se, admitam os senhores que defendem (pensando defender, desta forma, o seu estatuto e carreira na política...) assim tais “saneamentos”, que os tais “críticos” têm razão. Admitam que mesmo à custa de uma tão expressiva derrota eleitoral, o PSD pode vir, no futuro a ganhar com esta “travessia do deserto” que se aproxima.
Ao contrário do que defendem tais justiceiros, deve é aproveitar-se e comprometer-se o mais possível tais personalidades agora postas em causa, para a reconstrução estratégica do PSD.
Para bem de todos nós!
Não nos esqueçamos que o PS não oferece garantias de sucesso governativo. Apenas de sucesso na carreira, breve embora, de individualidades socialistas- as mesmas de sempre. E se não tiver sucesso (e também não terá insucesso em tudo, convenhamos!)...todos nós perdemos. E voltaremos a necessitar de alternativa, DEMOCRÁTICA!
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