Reitor de Harvard?

Reitor de Harvard, Lawrence Summers, diz que os "rapazes têm mais jeito para as ciências do que as raparigas, devido a diferenças genéticas" (in Público de 19.01.05)

No momento em que se comemora a Teoria da Relatividade e o génio que a criou, Albert Einstein, elogiando assim a sua personalidade criativa, tanto como a sua personalidade como cidadão, que entre outras coisas se demarcou do uso da sua Teoria para fins bélicos, não pacifistas e sempre se bauetu por uma atitude tolerante, mesmo da ciência, parece estranho que um reitor (de minúscula... de facto) de uma das mais influentes Universidades ocidentais tome esta posição.

Estranho é pouco, porém, se soubermos que aquelas palavras foram proferidas durante uma conferência sobre o papel das mulheres e das minorias (esta sim, estranha associação de grupos..) nas ciências e engenharias, promovido pelo Centro Nacional de Investigação Económica norte-americano.

Talvez a genética que Summers evoca lhe tenha obnibliado o pensamento. Mas essa mesma genètica, se lhe permite tais conclusões (duvido, mas sempre desconfiei da ciência, mais do que das artes, por exemplo, numa lógica de procura do conhecimento) tal também se dev, seguramente ao marcante papel de muitas mulheres no seu desenvolvimento (da ciência, naõ de Summers, que demonstra o oposto a desenvolvimento).

Quantas mulheres trabalham para Summers em projectos científicos?

Ainda como nota final: segundo o Público, parace que apenas uma estudante abandonou a sala onde decorria a prelação do iluminado Summers. As outras deviam estar com sono...

Comentários

Passada disse…
Vivo numa era de alguma liberdade de expressão, mas ainda por vir a da mente liberada. Já estarei morta nessa altura mas olharei para o mundo com satisfação e quem sabe paz de espírito. :)
vanus disse…
Eu percebo o ponto e o choque, especialmente num tempo em que nos "consideramos iguais", mas o facto é que quer queiramos quer não, homens e mulheres são geneticamente diferentes, e se pensamos que a biologia favorece a manutenção da espécie, a frase, por muito descontextualizada que possa estar, é verdadeira.
Contudo, não somos apenas material genético, somos sobretudo vivência aprendizagem, ou se quiseres fenótipo, somos a espécie com o mais elevado grau de comportamento aberto, o que significa que tudo podemos aprender, ou quase tudo, desde que normais, com os mesmos genes, mas no meio disto tudo não deixamos de ter codificado à partida genes que foram selecionados durante milhões de anos para determinados comportamentos, e neste sentido a frase acima é perfeitamente verdadeira. Sabe-se até por muitos estudos realizados que mulheres que sofreram uma exposição de excesso de testosterona quando no útero materno, têm à partida mais facilidade para trabalhos manuais e de abstração, tal como se sabe que as mulheres numa elevada, muito elevada percentagem, são capazes de reconhecer os recém-nascidos pelo cheiro, coisa que os homens não fazem tão bem :)
Se pensares que os comportamentos são por si só codificados, em nada esta frase choca se for olhada do ponto de vista puramente biológico, mas como te disse não somos só isso, e cada vez somos menos, pois cada vez estamos mais libertos dos comportamentos que previnem o desaparecimento imediato de espécie, e é natural que daqui a muitos milhões de anos, geneticamente as mulheres venham a ter as mesmas capacidades que os homens, pois as diferenças comportamentais vão-se esbatendo cada vez mais, mas por enquanto ainda não, e depois há sempre os vestígios genéticos que ficam associados a determinada selecção de qualquer gene, que provavelmente serão impossíveis de desaparecer...pois são impossíveis de reverter num processo evolutivo.
Vanus:
Até posso concordar com a perspectiva biológica, embora a considere, assim tal como exposta, muito limitada e limitante, ou então por essa via muitas outra atitudes mais primárias - instintos-poder-se-im justificar...mas não iremos por aí. Afinal um Reitor também tem responsabilidades públicas... parece-me. Mas este comportamento, chamar-lhe-ia assim, ainda me lembra outra atitude pior: imagine-se que um político diz publicamente que o povo, por natureza, é estúpido, ou que ...olha, diz o mesmo que disse o Reitor, sobre aptidões diferentes- e diferentes apesar de tudo não é o mesmo que inferiores- ficar-lhe-ia bem? Há uma diferença enorme entre pensar-se uma coisa e dizê-la publicamente, ainda mais se tivermos em conta a função, o cargo e o local onde se dizem as coisas.

Quanto ao conhecimento da biologia, da genética e de outras ciências, mesmo sendo eu de formação próxima dessas áreas, tenho as minhas dúvidas e mais, as minha críticas.

A arte, sim é o conhecimento mais acabado!
vanus disse…
O-A:
não contradisse em nada o teu argumento, e sim considero o meu um tanto ou quanto limitante, numa perspectiva mais global, mas as coisas podem dividir-se em várias fatias, até porque como referi várias vezes somos muito mais que genética, embora seja ela que nos permita ser mais que ela. Uma coisa são as constatações, neste caso a diferença, e outra coisa são os usos destas, aqui seriam as justificações para determinados comportamentos. Estas últimas dão-se sempre ao nível do social, pois é aí que vivemos quer queiramos quer não, e não não estou de acordo com o uso das diferenças para determinado tipos de justificações como pretendes inferir, e bem. O uso da ciência e das constatações, ou verdades, sempre foi e é perigoso, e também me ocorrem muitas dúvidas sobre as suas aplicações, mas não invalida, nem me choca as diferenças, muito pelo contrário, no seu devido contexto, considero-as bastante proveitosas ao conhecimento, e isso também se acaba por circunscrever no tipo de sociedade que temos e criamos, bem como no tipo de educação e adaptação que vamos sofrendo.
Quanto às responsabilidades do reitor, ok, podem ser vistas sobre a perspectiva que referes, mas também podem ser vistas por outro lado, é que apesar da genética dar um certo hadicap (e aqui estou a usar o terno no sentido de uma teoria biológica, em que os animais com determinado handicap mas que conseguem obter o seu objectivo serão os mais bem adapatos e os escolhidos pelas fêmeas para procriar – repara novamente na diferença sempre entre machos e fêmeas :)) às mulheres, elas estarão bem melhor adapatadas do que os homens, contando ainda que numa universidade deve ter-se o espírito aberto e conviver com as ditas verdades sem ser de uma forma prejurativa, ou seja sem o valor comportamental e o julgamento social que lhes pode ou são atribuidos. O que torna em tudo diferente dos políticos, pois aí o tipo de pretensão é bem diferente, e o tipo de manipulação também.

Foi só dar-te outro olhar, outra perspectiva, como calculas sou mulher e não me sinto mais apta ou menos apta apenas pelo meu sexo e a minha inerente genética, mas sim por muitas outras razões, quase todas elas sociais. Como se a genética fosse apenas o cenário de uma história, o que lá está, mas é claro que consuante o tipo de coisa que fazes vai variando, não o necessitas descrever no cinema ou no teatro, mas na escrita ou na oralidade o caso já é bem diferente, para que tenhas ou possas pasar o minímo de coerência à história.

Quanto à arte, confesso que sou uma ignorante, talvez das minhas maiores lacunas em termos de pensamento ou reflexão, embora me pareça que um “conhecimento acabado” é um tanto ou quanto limitativo também, para usar as tuas imagens ;)
Hmm, hmm. (Isto sou eu a pensar).

Ainda bem que os pontos de vista não são exactamente coincidentes.
Também não estou a retorquir por querer, ou me apetecr estar 'contra'.

És bem vinda à discussão, obviamente. Era até desnecessário dizê-lo.

EStou de acordo contigo em muitos aspectos. Noutros menos.

Só mais dois dados, a propósito:

O Reitor de Harvard- ou presidente, como lhe chamam, foi político também. É economista. Era o ministro (Secretário) de Clinton para a área económica.

Ele também afirmou, na dita conferência, que o que dizia não tinha de ser obrigatoriamente o seu ponto de vista pessoal, e que lhe havia pedido para ser provocador. Estranho tudo isto, para ser admitido por uma pessoa com as suas responsabilidades.

Outra coisa curiosa: contou ele que um dia ifereceu dois camiões de brincar á sua filha. Ela tratou-os como se fossem bonecas, dando a um o nome de camião-pai e a outro o de camião-mãe.

Queria ele com isto exemplificar o tal ponto de vista em relação às mulheres.

Bem americano, não achas?
vanus disse…
Lol,
o problema é que na América a diferença entre ser um político ou um reitor de uma conceituada universidade é praticamente o mesmo :)
Mas sabes como é, neste tipo de coisas as variáveis são tantas que é quase impossível não enviezar os resultados, daí ser contra, como tu calculo, as generalizações abusivas, podia-te dizer que ao meu filho acontece precisamente o mesmo e esse ainda não sendo totalmente homem (espero que para lá caminhe), apenas mimetiza o comportamento da irmã mais velha :)
beijo boa noite

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