A infelicidade de ser Acidental

Há uns anitos li um livro de Constantin Virgil-Gheorghiu, o escritor romeno mais conhecido pela sua outra obra, A 25ª Hora ( livro que foi adaptado ao cinema). Aquele livro a que me quero referir designa-se, em português (nunca de mais salientar em que língua se intitula um livro, tão famosas que são algumas das nossas traduções...), “A infelicidade de me chamar Virgílio”.

Trata-se de um livro autobiográfico em que o autor “reza” ou ”prega” a infelicidade que uma pessoa, como ele, na Roménia tem se o seu nome não tem correspondente em nenhum santo católico, pois no seu país é costume comemorar-se, para além do dia de nascimento, o dia do santo onomástico. E não há, segundo ele, nenhum santo de nome Virgílio. Todos os seus amigos e colegas de infância comemoravam, assim duas vezes, anualmente, o nascimento e o dia do santo como o seu nome. Ele obviamente, não podia.

Aquele livro tornava-se, após percorridas umas vinte a trinta páginas quase insuportável, uma verdadeira via sacra de leitura. Sendo católico não praticante (se isto se pode dizer desta forma, tratando-se de um dogma, que ou se pratica ou não se é...) não me conseguia interessar e concentrar no livro, tendo acabado por ao abandonar, aos santos.

Eram santos e santos, e porque os havia, e porque não os havia, e os nomes dos santos e os santos dos nomes, agrhhhhh!

Foi nessa altura uma desilusão, após ter lido a 25ª Hora (para mim, um dos melhores romances sobre o tema que tive oportunidade de ler) que tanto me havia impressionado, com as suas descrições do martírio dos judeus nos campos nazis e ainda após outros dois que li, do mesmo autor, também razoavelmente interessantes.

Mas isto não é o assunto que aqui me trouxe.

Acontece que eu, tal como o desgraçado do “Virgil”, por ter um nome que começa com a letra “A” (Acidental, acidentalmente, claro) tenho outro tipo de infelicidade, esta mais contemporânea: a das chamadas involuntárias de telemóvel.

Pois é. Isso mesmo. Muitas pessoas conhecidas, família e amigos, telefonam-me sem saberem que o estão a fazer. Imaginam isto?

Há telemóveis que bloqueiam automaticamente os teclados, se assim os programarmos, mas outras há que não têm essa muito útil função. E como frequentemente o meu nome é o primeiro da lista nesses telemóveis, lá levo eu com chamadas, até mensagens (SMS) sem que o chamador o quisesse.

E assim, são conversas no supermercado “ficas aí no carrinho e não sais, ouviste?” na sala de espera de um médico- estas felizmente em tom mais baixo (ufff)- concertos de autocarro com acompanhamento de conversas sobre telenovelas de fundo, e...mesmo assim tenho tido muita sorte. Qualquer dia ainda ame sai uma daquelas...que me irá fazer corar, acreditem! Um dia levei com umas doze mensagens SMS, sem assunto, claro. Gratificante.

Tentei informar e sugerir alguns fabricantes de telemóveis, de que seria muito útil introduzirem a função de auto-bloqueio do teclado, em todos os equipamentos, mas sem sucesso

Já pensei e acho que terei de mudar de nome. Por isso mesmo venho pedir sugestões: que acham de, em vez de “(Ocidental-)Acidental”, mudar para qualquer coisa como (Ocidental-)Incidental? Sempre passava para o meio de um lista de telemóvel. Não era?

Ou mesmo (Ocidental-)... aghhh, agora não me lembro de nada...com uma letrinha do fim do alfabeto, ajudem-me lá!

Bem... já entenderam?

É só sofrer, acreditem.

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