Mudança
Por um momento, fiquei em suspenso sobre o título desta mensagem. A tentação era expressar no título a falta de optimismo sobre 2020, mais um ano "redondo", uma nova década, sem que o factor numérico possa ter qualquer influência sobre acontecimentos que queremos venham a mudar um pouco, um tanto, ou muito o rasto do que foi pior, mau ou mesmo catastrófico.
Não é muito relevante a uma escala grande, dissertar sobre o populismo político dos nossos governantes, com todos os indicadores e sinais a apontar para uma degradação gradual, não sei ainda se acelerada, mas segura da qualidade da Democracia e, em consequência de quase tudo o resto.
Mas à escala grande da Europa, ou do Mundo mesmo, nem tudo é política, felizmente, mas quase tudo passa ou pode passar por ela, infelizmente.
Nos últimos meses, o alerta geral sobre alterações profundas no nosso Ambiente e Clima, têm sido a tónica repetida em noticiários por todo o lado. Sem se saber muito de países como a China e a Rússia, que roubaram aos seus povos o contacto livre, aberto e directo com o exterior, como é típico e norma em regimes totalitários, centralizados e sem Liberdade, mas contrário à abertura comercial que pretendem e reclamam para a sua indústria e empresas, elas mesmas controladas e suportadas pelos respectivos regimes.
Várias obras de autores de referência, nos EUA ou na Europa, têm alertado também para a mancha que se alastra sobre as democracias ditas liberais, do Ocidente, que após a Segunda Guerra Mundial e, em particular, após o fim da Guerra Fria, se tinham como o bastião dos regimes políticos mais progressivos, modernos e apetrechados para o futuro, mas que se tem vindo a confirmar não terem tido sucesso noutras regiões do Globo, como na Rússia, ou mesmo na China que podia ter efectuado uma transição, que afinal nunca quis, ou nunca pode. As nuvens cinzentas sobre as democracias liberais e de cariz ocidental, continuam a crescer e expandir-se, tendo Trump dado uma machadada na esperança de que recuassem, com Le Pen e a extrema esquerda francesa, Farage no UK com o AfD na Alemanha, Órban na Hungria, os malucos da Turquia, Espanha, Portugal, Holanda e os já conhecidos perigosos e desiquilibrados ditadores da Rússia, China, Coreia do Norte, Venezuela e ainda tantos outros na Ásia, África e América do Sul.
Uma mudança não é suficiente, porque muitas são necessárias. Em Portugal, a exemplo de Órban na Hungria, o controlo das notícias, a propaganda do regime, a mentira oficial, o controlo dos sistemas bancário e judicial, lançam sobre o novo Ano de 2020 poucas esperanças de melhoria, e muitas certezas de tudo piorar ainda mais. Não temos, portugueses, europeus e americanos apenas a preocupação das economias e poder de compra mínimo com dignidade, porque sem essa sonegada liberdade, roubada por via de um sistema fiscal asfixiante, já a democracia iria adoecer gradualmente mais. Temos um controlo político sobre a visão que o povo tem do governo e do regime, que julga ainda ser muito democrático, e ignora ser de uma democracia muito doente, controlada por uma ideologia conservadora e anacrónica marxista mas, pior, factor principal de desigualdade e empobrecimento generalizado. Temos ainda, como todos os outros, mas nós como mediterrânicos de forma bastante preocupante, alterações muito sensíveis e graduais, mas cada vez mais irreversíveis, do nosso clima, ou seja da nossa produção agrícola e do ambiente saudável que permita a vida.
Não estão melhor nos EUA, com um populista irresponsável e manipulador, que até por cá ainda engana gente que julgamos ser inteligente. Mais ou menos a mesma que nega as Alterações Climáticas, e ainda mistura tudo com conceitos religiosos, sociais e humanos anacrónicos. Gente que acaba por abrir mais caminho ao populismo irresponsável e decadente de socialistas.
No fundo, em 2019 assistimos a algum acentuar de extremismos, e ainda de gente antes sensata que se agarra a posições insensatas e perigosas, e a outras gentes de pendor idêntico, numa ânsia de cariz clubístico, com eventuais consequências no atrasar da Mudança.
A Mudança aconteceu tantas e repetidas vezes. Já antes de Cristo, há mais de dois mil anos, a Mudança era tentada como nos testemunha o livro descoberto de Lucrécio "De Rerum Natura" (vide ensaio fabuloso de de 2011, de Stephen Greenblatt "A Grande Mudança", ), cujo pensamento era mesmo à luz da actualidade mais evoluído do que se tem visto nesta onda ou manha cinzenta que avança, com extremos religiosos a buscar a regressão humana, e extremos falaciosamente progressistas, com ideias de apenas cem anos, mas de uma injustiça social e uma incompetência económica e democrática atroz.
A Mudança, seja no Clima, no equilíbrio político mundial, a Mudança necessária para que os ditadores conhecidos deixem a liberdade dos outros, a nossa, em paz, pode não chegar com o Novo 2020, mas já uma simples atitude nova seria um grande passo no sentido de alterarmos o que, ao não fazermos, nos levará outra vez para trás.
No nosso canto português, a Mudança podia começar por combater sem tréguas a Corrupção que, entretanto, nos últimos quatro anos cresceu imenso.
Essa já seria uma Esperança boa para o Novo Ano.
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