Mário Soares


Assisti aos primeiros 50 anos da Democracia, desde a minha adolescência. Em Abril de 1974 tinha catorze anos e meio. Nada sabia do mundo, da vida ou da política, mas despertei, não de uma só vez, pois não tinha maturidade e ainda tinha muita imaturidade, e, com isso, muito pouca noção do que havia acontecido. Mas tive a sorte de ter um pai que, ele sim, tinha vivido atento ao país, embora silenciosa e sigilosamente. Na família não havia nenhum resistente ao regime de Salazar e Caetano, mas isso nunca nos retirou o direito de nos sentirmos sempre do outro lado desses tempos e das suas políticas, e nunca, por isso mesmo, fazermos qualquer conceção à Liberdade. A Liberdade, na minha família, melhor, da geração dos meus pais, na família, foi sempre um bem inegociável e tivemos sempre a consciência do reconhecimento aos militares que fizeram a Revolução do dia 25 de Abril. 

Como intransigentes, e eu, assumidamente, em crescendo, nos anos consecutivos a 1974, defensores da Liberdade, nunca deixámos de reconhecer a contribuição decisiva e corajosa (e momentos houve de preocupação e de incerteza, acreditem) de Mário Soares para a actual Democracia! E ao 25 de Abril, digo, aos militares que o fizeram, precisamente  agradecimento maior. 

O 25 de Novembro não foi, nem na altura, nem depois, uma efabulação de direita, uma tentativa de contragolpe fascista, ou da direita conservadora, mesmo que, tal como os comunistas, esses sim, um perigo e risco maior nos primeiros momentos, ou desde  Verão desse ano de 1975, tivesse havido alguma frágil ideia de reverter o 25 de Abril do ano anterior.

Soares foi, nesses tempos e, intransigentemente depois, um baluarte da Democracia Parlamentar. É inegável. Nunca fui "soarista", nunca fui socialista, e a única coisa que fui distinta do que hoje sou e penso politicamente, foi simpatizar com o PPD no início, com o PSD mais tarde e, há alguns anos atrás, militante pouco activo. Quando militei no PSD já nã sentia ímpeto algum para tentar alguma vida política activa. Por esses tempos, e, principalmente por ter assistido a desastrosos governos socialistas, vário deles de Mário Soares, com duas bancarrotas (e uma mais tarde com Sócrates), fiquei mais crítico, ou mesmo mais antagónico do PS, do seu rumo e das suas consequências, que nos trouxeram onde hoje estamos, ainda bem asfixiados em impostos que mais nenhum país europeu da UE tem. Isso, o roubo ao nosso futuro, perpetrado pelo Partido Socialista, quase me fez esquecer o contributo político democrático de Mário Soares. 

Porque, ainda hoje acredito e confirmo, se o seu papel na defesa da Liberdade e no barramento do Partido Comunista foi inegável, o seu contributo para o crescimento económico, e com isso outra forma fundamental da Liberdades de um povo, foi extremamente negativo. Soares tinha perfil de líder que muitos outros não tiveram. Como ele, poucos mais, para além de Sá Carneiro ou Álvaro Cunhal. Esse foi um tempo de líderes, que só esporadicamente surgiram mais tarde. Mas Soares foi também um dos responsáveis de um Estado Social ao estilo francês, para que Portugal não esteve, nem está, preparado.

Foi com ele, defensor da Liberdade, que também o PS iniciou um certo controlo (muito acrescido mais tarde com Sócrates e mais ainda com Costa) da Comunicação Social, da manipulação dos jovens nas escolas, criando um mundo e um passado histórico para condicionar todo um povo ao Socialismo, à dependência do PS e do Estado. Um erro histórico, que, estou convencido, se hoje Soares cá estivesse e fosse jovem, entenderia o que os outros dirigentes do PS nem quiseram entender, e preferiram até construir, e agigantar: que um Estado Social só pode existir num país extremamente rico, que Portugal nunca conseguiu.

Portugal deve muito a Mário Soares, sem dúvida. Mas também lhe deve este país de dependentes do Estado, dependentes de um Partido de incompetentes e de falsos preocupados com as pessoas, mas antes apenas interessados com o Poder e a sua perpetuação no mesmo. É dessa dependência do Estado, como miseráveis sem Liberdade económica, que vive o país socialista e o Partido que  construiu. Não foi Soares o que mais contribuiu para este actual estado asfixiante de duvidosa saída com sucesso, mas com as suas governações desastrosas, deu o seu impulso que até fez escola no Partido que fundou. Hoje, poucos socialistas são capazes de reconhecer este desastre que se foi construindo no país com o nome do Partido deles. 

Não consigo atribuir as culpas do desastre económico de Portugal a Soares, afinal já vinha de trás do regime anterior a 1974 (mas alguns pretendem o contrário, ignorando o país miserável e preso ao passado retrógrado e avesso à modernidade que Salazar deixou). 

A Soares, agradeço sim o seu ideal de Liberdade, que é também o meu. Mas como outros, ele teve medo de perder o controlo quando no Poder, e penso que o que iniciou, com esse outro erro histórico, e grande mentira da "Direita", do "monopólio cultural da Esquerda", do perigo de uma "Direita amiga dos Patrões, esses malandros", isso devemos boa parte a Soares, com o mestre da mistificação da verdade, o Senhor da Mentira, António Costa o verdadeiro sacerdote dessa enorme mentira. À custa disso, continuamos um país de nenhum ou pouco Projecto e escasso, muito escasso, e espero que não efémero sucesso económico.

Mas volto a meu Elogio a Soares como Político da Liberdade que foi. E deixo estas as palavras finais deste texto, parte memórias, parte preocupação, parte...alguma esperança...ainda.

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