O drama que conta

Somos instrumentos. Já sabíamos. Ouvimos notícias e vêm filtradas. Dias, semanas, meses que sejam, após tanta notícia e vamos ganhando anti-corpos, estereotipando, enchendo prateleiras da memória com simpatias, antipatias, amigos e inimigos de estimação. Parte dessa colecção de "tipos" que vamos fazendo crescer, é da nossa responsabilidade. Mas boa parte é-nos oferecida, como cromo de colecção já organizados por temas.

Uns de nós simpatizam com todos os países que prosperam, que passam pelas crises aparentemente incólumes, feridos ligeiros, os países desenvolvidos ricos. Há amigos da Alemanha e de todos os supostos defensores do que "está certo", contra tudo o que e quem, lhes seja evidente, estar errado. Há-os de todos os que são..."países de bem", como os há de "pessoas de bem". Uma ideia tão repugnante como a dos amigos das "coreias do norte" que ainda subsistem e persistem, venenos permanente, como que nos lembrar de quanto ainda há de incipiente no desenvolvimento humano. Mas essa incipiência há-a entre nós. Um conhecido qualquer que é um exemplo de sucesso no mundo empresarial, pode ser uma besta humana do mais básico e condenável que os princípios de uma civilização evoluída podem identificar, mas não rejeitar.

O mais próximo dos conhecidos, ou amigos ou familiares, pode ser a mais incrédula crença num ser abjecto que toda a raça humana já percebeu não merecer mais do que um esgar.


Podemos estar em presença, simultânea, de dois opostos tão extremos, como os cenários acima. E, no entanto, passa-nos, transparente e desconhecido o verdadeiro problema, o drama humano essencial, esse que nos merecia a atenção e a acção.

Podemos ter criado anti-corpos contra russos, chineses, árabes (generalizando), americanos, alemães...e não termos visto, porque não nos foi mostrado, ou não estávamos atentos, ao que conta. Ao que conta, de verdade.

Os refugiados sírios. Os refugiados de todos os actuais conflitos de África, Ásia. Os que sofrem na ditadura de um Maduro, de um Putin, do regime chinês- o país que se gaba de uma Revolução horizontal e única, uma revolução "cultural" onde a Desigualdade ganhou foros e pergaminhos nunca vistos num país "do Capital", "liberal económico"- do regime norte-coreano, do regime Angolano...Os que sofrem nos países que criaram ou desenvolveram a civilização que os que a usurparam dizem defender (Alemanha e Grécia, Alemanha e Portugal). Os dramas são todos dramas. São milhões de tristes histórias humanas para que contribuem os poderosos, directamente, e os indiferentes, indirectamente. São vidas perdidas, das quais nunca se saberá o valor que teriam, se não para nós todos, para eles apenas, com toda a legitimidade.

E a Informação, mesmo sendo o que hoje é, da Comunicação Social às notícias e informações passadas pela Internet, não são ainda suficientes para nos dar a real medida de tantas vidas despedaçadas.

Um pai sírio que se agarra a um filho ao seu colo, olhos marejados...vale menos do que um Alemão arrogante que opina sobre a inferioridade grega e portuguesa, como o desprazo que lhes adivinhamos e de que eu estou bem certo?

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