Eloquente discurso de Sampaio da Nóvoa
Um
dos melhores, ou mesmo o Melhor discurso que ouvi em trinta e oito anos de
Democracia (pelo menos desde os meus 14 anos, quando se deu o 25 de Abril
movimento essencial, ao qual, apesar, faltou uma eloquência que hoje é notória.
Mas não culpo o 25 de Abril que me trouxe à Liberdade. Culpo sim, e não me
esquecerei nunca dos que ao meu país, que muito amo, tanto mal fizeram, e da
sua condição de irresponsáveis, de criminosos, de indolentes, ou apenas de
indiferentes, nunca foram imputados. Tantos homens e mulheres de valor, por
séculos e séculos do país mais antigo da Europa, disseram muito do que neste 10
de Junho nos lembrou este Homem inteligente e culto, o Reitor lúcido. Um país
com um povo hoje em melhores condições de luta e de participação pelo seu próprio
futuro, que se escusa a activamente dizer o que quer e deixa que outro pensem e
actuem por si. Adoro o meu país. Nunca o substituiria na minha preferência e
orgulho por nenhum outro, o daqui do lado, por exemplo, que tanto mal fez e
continua a fazer a Portugal. Tenho consciência bem lúcida dessa influência
altamente perniciosa e intencional, com as tomadas de posição em muitas e
importantes empresas, a partir de Espanha. Tenho perfeita noção da qualidade,
também, de tantos homens e mulheres que a Portugal deram a sua clarividência,
inteligência e eloquência na palavra e na acção, e tal como este eloquente
Reitor da Universidade de Lisboa, não foram tidos em conta, mas antes
preteridos por gente, nem sempre menor na pessoa, mas sempre muito inferior na
acção e na herança que deixaram. Temos nas empresas grandes homens, mas que
hoje, embora indispensáveis, nada contarão para o nosso futuro. É isso que diz,
também, o Professor Nóvoa. E antes dele, tantos grandes homens o disseram, aos
quais o poder político e económico fizeram ouvidos de mercador.
Temos
assistido, nos últimos tempos, que farão memória triste desta época, a um
desfile da maior vergonha a que um país se pode deixar sujeitar. Na política e
nas empresas. É verdade o que diz Nóvoa, que na ciência demos saltos de
gigante, fruto de condições entretanto libertadas, fruto da ânsia enorme dos
nossos universitários e investigadores, mas também dos homens de cultura em
geral. Mas já não me sinto capaz de dizer o mesmo dos nossos gestores, em
primeiro lugar, e dos políticos em segundo. Por esta ordem e não ao contrário.
Porque para mim, por piores políticos que tenhamos, o futuro far-se-ia na
mesma, o progresso e a justiça social surgiriam, tivessemos nós gente decente e
respeitável, e inteligente e bem formada, nas rédeas das nossas empresas. Nem
os melhores exemplos de sucesso, alguns deles, pelo menos, me servem para mudar
esta ideia, que a cada dia se torna mais clara, na mesma medida em que vejo o
negrume cobrir o céu do meu país. Cada dia um pouco mais e não menos. Por mais
que pergunte a amigos e conhecidos, por mais que tenha conhecimento de gente de
muito valor, bem necessária a Portugal, o que lhes sucede quando procuram
emprego, a resposta é sempre a mesma: desprezo e ausência, até, de uma simples
e cordial carta de resposta. É deste calibre ínfame e ínfimo que se fazem os
homens de negócios e os nossos gestores. Quando perguntados, recebem, por
norma, carta-resposta das empresas internacionais. Diferenças pequenas, que
fazem toda a diferença e explicam muito da nossa postura na vida, na vida com
os outros, em Portugal. Desprezo pelos outros, a somar à inveja. E a somar a
uma profundamente enraizada incompetência. Se me perguntassem...assim, em
geral, de súbito, diria logo, que os nossos gestores são os maiores burros e
incultos, abrutalhados que conheci em toda a minha vida profissional. Somam a
uma completa falta de visão sobre os negócios, uma ganância sem título. Um
profundo desrespeito pelos seus colaboradores. Hoje estive numa loja de assistência
técnica 'extra' da TMN. Parecia um pardieiro sujo e impoluto, apenas disfarçado
por um grande cartaz na fachada. Uma vergonha. Sem estacionamento para
clientes, porque o único disponível era para 'as viaturas da TMN'. Coisa
impensável no Norte da Europa e nos EUA. No serviço de atendimento a net não
funcionava e para deixar lá o meu telemóvel teria de ter a factura e aquisição-
de há um ano- como se a empresa não tivesse todos os meus dados, mais os do
telemóvel, registado na Samsung e na TMN, e a minha identificação, caso fosse.
Em resumo, meia hora para estacionar em transgressão, para que nada se pudesse
resolver e dali saí sem nenhuma explicação mais da TMN. Para mim é um pequeno
exemplo apenas dos muitos, milhares e milhares da nossa improdutividade e falta
de interesse e incapacidade em resolvermos os problemas aos clientes das nossas
empresas. Não sabemos ser profissionais responsáveis e nem disso queremos
sequer ouvir falar. Queremos, e volta o exemplo de uma classe, não a única, mas
uma apenas (faltaria falar de médicos, funcionários dos transportes, serviços
públicos em geral...) que mais se preocupa com a sua carreira de pés de barro,
do que com as pessoas a quem deve servir: os alunos de Portugal, no caso. Não
lhes perdoo, nem esqueço! Por nada! Porque os meus filhos têm estado nas mãos
desses iletrados e ignorantes irresponsáveis. Sei muito bem do que falo, podem
estar certos. Admito sempre opiniões distintas, exemplos que me contrariem, mas
não vi, nem vejo nenhuma razão para mudar o que penso. E gostaria de ver.
Gostaria de ver o meu país ser diferente. Oito séculos e meio de história que
se deixa afundar por qualquer coisa? Não podemos permitir tal coisa. Há meios.
Temos todos de nos interessarmos. De uma vez por todas. E sem 'camisolas' de
(desculpem mas tem de ser) dessas Merdas de Partidos! Essa mania da defesa da
camisola do Partido, contra tudo e todos, tem sido a pior atitude de todos em
Democracia. Quem quer ser de um Partido e bem o servir, tem de começar por
querer e saber pensar pela sua própria cabeça. E não seguir o líder, apenas
porque sim. Tivémos tantos medíocres em 38 anos...Acordem portugueses! Isto
ainda vai a tempo. Mas só acordados, com espírito responsável mas crítico, sem
que seja tão-só destrutivo, façamos ouvir o que queremos, façamos ouvir a nossa
voz. Chega de Merkel-austeridade. Chega de mentirosos do PS e do PSD, de
anti-democratas do BE e PCP! Chega de profissionais egoístas que apenas se
defendem a si mesmos. Chega de maçonaria e opus-dei. E chega de Patriarcas e
Bispos a meterem-se na nossa vida, de que nada, nada sabem. Ouçamos homens com
esta lucidez, do Professor Nóvoa. Ouçamos os nossos eloquentes e honestos!
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