O Preço da Genialidade


"Por que será que as pessoas inteligentes e dotadas se encontram invariavelmente atoladas numa miserável vida particular? Por que será que os sobredotados, os intuitivos, os que são capazes de ler no livro da Natureza, hão-de ser tão incautos e tolos?" (sinopse do livro Morrem mais de Mágoa" do grande Saul Bellow). Interessante...se analisarmos as vidas de Einstein, Beethoven, Robert Schumann,Van Gogh...Galileo, Luther King, e muitos outros.

Beethoven, que era claramente superior e mais avançado do que os compositores da sua época, que conseguiu criar um estilo tão próprio que ainda hoje, muitos musicólogos o catalogam num estilo pessoal, próprio e independente dos movimentos artísticos da época (classicismo e romantismo), passou toda a sua vida em crises de paixão e amor, de sentimentos não satisfeitos e incumpridos e, até, com a sua família teve conflictos, alguns que lhe perturbaram os dias e a sua criatividade. Desencadeou uma tremenda e longa batalha judicial com a sua cunhada, pela custódia do sobrinho, conseguindo provar em tribunal que ela não tinha meios e condições para cuidar do filho, uma vez falecido o irmão do compositor, e ficou com o sobrinho à sua guarda. Mas, como a sua capacidade criativa e a sua genialidade não lhe eram compatíveis com a vida quotidiana, esquecia-se com frequência de deixar comida ao sobrinho, de o tratar e cuidar com a higiene mínima e, ao fim de algum tempo, perdeu a guarda e custódia do sobrinho. A vida mundana, real e prática eram um quase sofrimento para o, considerado por muitos, maior génio da música desde sempre.

Einstein, tido como super simpático e afável entre os amigos, após ter tido um desentendimento de anos com a sua família e a sua mãe, por causa da namorada e futura primeira mulher, fez a vida muito difícil à mulher, e mesmo após a separação não lhe tornou a vida mais fácil, nem ela a ele, segundo parece. Referem alguns que tinha um filho deficiente, quase desconhecido, que esqueceu e ostracisou toda a sua vida.

Schumann, outro genial compositor, sofreu durante anos e anos de uma doença mental que o levou ao descontrolo total e ao suicídio. Foram anos de uma vida sofrida na qual passou por traições da sua mulher a afastamento de alguns amigos.

Van Gogh, um pintor também genial e uma mente super criativa e superior, teve também uma vida dura e de sofrimento, não tenho inclusive vendido um só quadro toda a vida. É conhecida a sua atitude descontrolada que conduziu à auto-mutilação, com o corte de uma orelha.

Muitos outros criadores e homens e mulheres de grande mentalidade e de superior inteligência tiverem vidas privadas muito difíceis e complexas, onde o sofrimento pessoal esteve bem presente.

Não existe, seguramente, um padrão, que nos possa dizer que ser-se mentalmente superior, ou sobredotado implica uma desconexão com a vida prática e mundana, que conduz invariavelmente a uma infelicidade sentimental ou outra. Mas a constatação de tantos e tantos casos conhecidos leva a que nos interroguemos por que razão há esta quase incompatibilidade entre a superior e criativa inteligência e a ligação saudável a uma vida tranquila, onde possa existir amor, amizade e felicidade, como tanta gente normal a consegue encontrar.

Existirá mesmo uma correlação entre a superior capacidade e actividade da mente e a inteligência, e a incapacidade de gestão de uma vida prática tranquila, emocionalmente bem sucedida, serena e saudável?

É, pelo menos, curioso...

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