Procura-se: Ruptura com Passado Miserável
Portugal viveu, desde o Século XVI num estado de uma quase apatia social e económica, deixando passar ao lado o desenvolvimento, também cultural que ia sucedendo noutros países europeus. Mas até o Século XVIII essas diferenças não se fizeram sentir tanto como no momento da conhecida Revolução Industrial, quando o grande impulso dado pelas novas formas de produção de energia e produção nas indústrias catapultou vários países do Norte da Europa para novos patamares, impossíveis de acompanhar para um pais eminentemente rural.
A classe politica e os monarcas e aristocratas em geral, viviam numa espécie de sociedade marginal á do demais pais. Não chegavam, com frequência a ter plena consciência da situação social. O resultado foi o drástico e violento fim do Regime e uma instauração da República muito pouco consensual. Mas por outro lado nem havia uma noção muito real do que estava a passar, e o cinco de Outubro surpreendeu a generalidade do país.
Mas o que me interessa aqui referir ou comentar é a analogia, bem pela negativa, e instauradora de alguma desesperança, com o que hoje se verifica na nossa sociedade.
Hoje, se bem que já se confirmam sinais evidentes de evolução social, extensamente até, ainda temos uma certa fracção da sociedade com uma vida apartada dos demais. O que não se pode dizer das sociedades do Norte da Europa. Mas neste nosso ainda triste país, temos dois grupos sociais que vivem numa espécie de sistema protegido e imune às conturbações e crises: uma certa prole de políticos e uma massa generalizada de gestores, sejam de grande ou reduzida envergadura, de grandes ou pequenas empresas. O imenso desdém que caracteriza uma certa classe politica e uma vasta massa de gestores, tem conduzido à situação em que hoje nos encontramos, com as maiores diferenças entre ricos e pobres de toda a União Europeia. Com a estigmatização da classe média e, mais extensamente, dos mais pobres. Com o desprezo total pela informação e evolução pessoal e cultural da generalidade dos portugueses, menos capacitados ou com mais dificuldade de acesso a informação e formação diferenciada. Somo o país mais antigo na Europa, com as fronteiras estáveis mais antigas e somos os mais iletrados e menos críticos, de acepção positiva. Não temos capacidade de geração de mentalidade crítica e, claro, de consciente participação social. Não possuímos a mesma capacidade de gestação de novas ideias e, consequentemente, de produtos e tecnologias, que poderão fazer a diferença num futuro próximo.
Não tendo esta capacidade, agora ainda mais espartilhada, pela dominância e omnipresença do Estado e da sua Administração, que se substitui a tudo e todos, num papel que competia a uma sociedade maioritariamente, numa extensão superior a oitenta por cento, privada. Um Estado que está presente, mesmo onde não está, porque faz depender dele a subsistência de muitos privados.
Quando em muitas sociedades mais esclarecidas ou informadas se procura deixar mais capacidade económica nas pessoas e famílias e, em particular, na classe média, em Portugal a atenção, em medidas fiscais e em apoios de monta, vai toda, ou quase, para as empresas e de preferência as maiores (onde estão as possibilidades de clientelismo dos Partidos...).
A gestão socialistas, à imagem do que tem sucedido por toda a Europa, só tem acentuado as diferenças entre os mais ricos e os mais pobres e retirado a capacidade de algum dia nos aproximarmos de uma desejada Europa. Nos últimos quinze anos retrocedemos em relação a essa Europa, com a qual pretendíamos convergir.
Afinal, quando os objectivos eram mais de cariz social, tornaram-se apenas mais do que já haviam sido: os socialistas foram mais gastadores em grandes obras e menos em obras sociais. Foram mais despesistas na multiplicação de Entidades Reguladoras, inúteis e estéreis, do que alguém antes havia sido. Perdeu-se tempo e recursos e continuamos à procura do lugar no Mundo que um dia alguns valorosos nos fizeram sonhar. E, fundamentalmente, temos perdido muita da nossa já má qualidade de vida.
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