Eterna Nona
Beethoven.
Um amante da Liberdade. Um compositor único, talvez o maior criador de sempre na História da Música Ocidental.
O seu espírito irreverente levou-o a inúmeros dissabores e desentendimentos com os seus protectores, mecenas e 'financiadores'. Sentia dificuldade em lidar com a mediania dos seus contemporâneos. Sentia-se completamente 'à parte'. Uma espécie de 'escolhido', pelo menos no que à criação musical dizia respeito.
Não compunha como um Mozart, de improviso, embora improvisasse e com imensa qualidade e virtuosismo, mas sim com tempo, digerindo cada obra sua e fazendo-a evoluir, pouco a pouco. Escrevia e corrigia. Cortava e re-escrevia. Mandava fora o trabalho já feito e recomeçava-o. Mas a sua imensa capacidade intelectual, a sua memória impressionante dotavam-no de meios que, de facto, um humano normal não possuía.
Escreveu nove sinfonias (há quem afirme ter descoberto uma décima, mas ainda não é consensual). Haydn escreveu cento e quatro. Mozart, quarenta e uma.
Cinco concertos para piano. Mas fantásticos, perfeitos. Magistrais, principalmente o quinto.
Dizia-ze que não conseguia escrever uma grande obra para violino, porque a sua especialidade era o piano. Mas escreveu um dos mais belos concertos para Violino e Orquestra e, provavelmente, o mais elaborado e mais difícil de interpretar.
Obras sacras, escritas por um homem religioso, mas de espírito livre e liberal. Nunca se deixou subjugar completamente pelo menos, pelas ideias de outros. Nem na sua especialidade, nem noutras áreas.
Dedicou inicialmente a sua quarta sinfonia a Napoleão, mas após os exageros do Imperador francês, retirou-a, irado. Podia admirar uma personalidade, mas sentia que lhe deviam também, intelectualmente, lealdade. Lealdade nas suas ideias imbuídas de de profunda sensibilidade humana.
Quase toda a sua obra tem a sua marca, única, ao ponto de muitos musicólogos não o incluírem em nenhum movimento artístico ou musical. Mas...Beethoven, ele mesmo!
Ouça-se, como sugestão o seu Concerto para Violino em Ré Maior, Op. 61. Os seus dois Romances para Violino e Orquestra, ou o seu belíssimo e inspirador Concerto nº 5 para Piano e Orquestra, Op. 73 'Imperador'.
Beethoven sofreu de uma surdez progressiva que se tornou total. A grande maioria das suas Sinfonias (género que se viu grandemente desenvolvido com Beethoven) foram já compostas em total surdez!
Oiça-se a Nona Sinfonia deste compositor e génio único. Em particular o terceiro andamento. Com a sua harmonia e melodia que parecem obra de tudo menos de um humano. Uma Música Superior!
E imagine-se uma obra tão fantástica, quanto bela e superior a ser composta por um homem privado da sua audição, um autêntico génio, cujo cérebro superior nos ensinou tanta coisa sobre a beleza e sobre as capacidades humanas. Tal como sobre a liberdade, que permite a criação de obras como as dele.
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