Bach e outros: case study do humano
Ouvir Bach (J.S. Bach) hoje é, para quem aprecia o género musical, uma experiência transcendental. Uma música dos deuses, é uma das expressões mais frequentemente ouvidas. Bach é considerado por muitos, especialistas musicólogos ou apenas melómanos o maior compositor do Barroco ou mesmo o maior compositor de sempre (outros consideram Mozart, ou Beethoven, ou Wagner, ou Mahler). Mas Bach, no seu tempo não foi tão reconhecido, em vida, como hoje se poderá imaginar. Nem popular. Era um compositor metódico, que criava sempre de acordo com os cânones, nunca fugindo muito a tais princípios. Mas também dever reconhecer-se que inovou, e muito, mesmo usando as clássicas regras da composição. Criou pérolas de música bem evoluídas para a sua época, como as fugas, invenções, suites para instrumentos solistas, sinfonias e partitas. Obras sacras de grande vulto e fôlego, pequenas obras com base em temas simples por vezes sugeridos por outros como pelo seu admirado o Kaiser Friederich II da Prussia, como a famosa e inovadora Musikaliches Opfer, sobre um tema do Imperador.
Alguém me disse um dia que se tivesse de escolher música para levar para uma ilha deserta, como último consolo da alma, seria música de Bach.
Estranho que nem sempre se saiba que até o Século XIX, quando Mendelssohn reabilitou J. S. Bach, quase que o grande compositor do Barroco Alemão, poderia ter caído, até hoje, no esquecimento. Bach esteve quase para nem se tornar conhecido da corte da Prússia, no seu tempo, pois só pela desistência de Telemann é que conseguiu obter o lugar de Kappelmeister em Leipzig. Pois Telemann era o mais afamado e considerado compositor canónico da época, em terras da Prússia, bem visto. E um outro compositor, que, no seu tempo foi o maior no género, ainda hoje permanece como um grande desconhecido: Reinhard Keiser. Este foi o mais importante, inovador e popular compositor da ópera alemã no período Barroco (termo que, curiosamente vem do português e significava originalmente, tosco, pesado e complexo).
Keiser compôs inúmeras óperas, das quais hoje só uma existe gravada e editada em CD (Croesus, da Harmonia Mundi)
Uma lista de óperas de Keiser podia ser esta :
Der königliche Schäfer oder Basilius in Arkadien (probably Braunschweig 1693)
Cephalus und Procris (Braunschweig 1694)
Der geliebte Adonis (1697)
Der bei dem allgemeinen Welt-Frieden von dem Großen Augustus geschlossene Tempel des Janus (1698)
Die wunderbar errettete Iphigenia (1699)
Die Verbindung des großen Herkules mit der schönen Hebe (1699)
La forza della virtù oder Die Macht der Tugend (1700)
Störtebeker und Jödge Michels (2 sections, 1701)
Die sterbende Eurydice oder Orpheus (2 sections, 1702)
Die verdammte Staat-Sucht, oder Der verführte Claudius (1703)
Der gestürzte und wieder erhöhte Nebukadnezar, König zu Babylon(1704)
Die römische Unruhe oder Die edelmütige Octavia (1705)
Die kleinmütige Selbst-Mörderin Lucretia oder Die Staats-Torheit des Brutus (1705)
Die neapolitanische Fischer-Empörung oder Masaniello furioso (1706)
Der angenehme Betrug oder Der Carneval von Venedig (1707)
La forza dell'amore oder Die von Paris entführte Helena (1709)
Desiderius, König der Langobarden (1709)
Der durch den Fall des großen Pompejus erhöhete Julius Caesar (1710)
Der hochmütige, gestürzte und wieder erhabene Croesus (1710, revised edition 1730)
L'inganno fedele oder Der getreue Betrug (1714)
Fredegunda (1715)
L'Amore verso la patria oder Der sterbende Cato (1715)
Das zerstörte Troja oder Der durch den Tod Helenens versöhnte Achilles (1716)
Die großmütige Tomyris (1717)
Jobates und Bellerophon (1717)
Ulysses (Copenhagen 1722)
Bretislaus oder Die siegende Beständigkeit (1725)
Der lächerliche Printz Jodelet (1726)
Lucius Verus oder Die siegende Treue (1728)
…
Isto, para falarmos de um aspecto mais do Homem e das sociedades, neste caso ocidentais, da sua cultura e da importância relativa das coisas. Imagine-se que se convidava alguém, uma bela mulher por exemplo, conhecedora ou não, para um concerto para violino de, digamos, Karol Szymanovsky, por Ilya Kaler.
Na Naxos está disponível uma edição excelente por esse artista notável, uma gravação imprescindível. Mas um violinista não muito conhecido e uma editora low price, reservam-lhe lugar de menor destaque. Um compositor não muito popular e um intérprete menos conhecido não eliminam a possibilidade de se poder assistia a um concerto único, ou a uma gravação, como é o caso.
Tal como no tempo de Bach e após ele, muitos compositores e músicos ficaram no esquecimento, e noutras áreas da arte, de forma idêntica. O ser humano é mesmo um case study. Há valores que passam sem serem notados, diria, todos os anos, ou meses…e são relegados ao esquecimento, tal é a nossa preocupação com o marketing (de que sou praticante activo e admirador, diga-se), publicidades, técnicas de comunicação, criação de imagem, marcas ou griffes…
Dito de outra forma, talvez cada um de nós possa, afinal, ter acessível a criação de algo de grande valor mas nós mesmos desprezamos essa possibilidade, quando não o fazem outras (sem critério e no uso da sua plena ignorância) pessoas por nós
Comentários