Violência psicológica, física e sexual


Nas últimas semanas ouvimos e vimos notícias sobre o abuso sexual por parte de pais, presumo eu perturbados ou gravemente doentes mentais, sobre as suas filhas.

O caso mais falado, na Áustria, não se tratou apenas de abuso sexual, mas violência física, pelo que implica restringir a liberdade, ou, no caso concreto negar a total liberdade à própria filha.

Não consigo, nem com o maior esforço, não digo entender, mas no mínimo imaginar como pode um pai, perpetrar um acto de tão grande violência sobre a sua filha. Como o pode fazer durante vinte e quatro anos!

Não consigo imaginar um ser humano, normal, ao menos, ser capaz de um acto de violência contra um filho ou filha. Mas durante vinte e quatro anos, aquele homem conseguiu, cá fora da sua casa, levar uma vida aparentemente normal.

Se isto é assim, abre-se a possibilidade de que muita gente, aparentemente normal, possa praticar actos de semelhante desumanidade, de idêntica violência e criminalidade.

Hoje ouvia uma notícia sobe uma francesa que, ancorada nesta divulgação do caso da Áustria, veio agora a público trazer o seu próprio: o seu pai, que lhe fez vários filhos!

Ás vezes dou por mim pensar se chegarei a conhecer este mundo de bestas humanas que podem inclusive estar ao nosso lado, no trabalho, num grupo de amigos até…
E de que somos feitos?

Serão graves problemas psicológicos, aliás do foro já da psiquiatria, a justificação para tais actos tão abjectos? Ou existe uma maldade intrínseca e em potencial em nós, que apenas uma educação e convívio, familiar e social pode prevenir? Se não se prova que tais actos e tais indivíduos são na realidade doentes, seres que até tenho dificuldade em tratar como humanos, por respeito a tanta gente normal que nos merece respeito a todos, que numa cegueira febril se entregam a tais comportamentos, simplesmente horrendos e que nem entre os animais os presenciamos?

Uma violação, que até já é menos do que tais actos que aqui menciono, é seguramente um dos crimes mais horríveis e condenáveis que um, vá lá, um ser qualquer pode perpetrar sobre outro. Mas envolvendo crianças o agravamento é exponencial, e não tenho forma de descrever a raiva que me perpassa na cabeça por tais pessoas, que cometem tais crimes.

Para mim, um simples acto de pressão contra vontade, para um prática sexual ou para uma outra coisa, contra a vontade de uma pessoa, são não só inadmissíveis, como após tantos anos a falar-se em liberdade e respeito pelos outros, não se consegue já conceber. Mas todos os anos se ouve falar de tamanhas abjecções. E, provavelmente, por muitos locais deste mundo, todos os dias se cometem tais sub-humanidades.

Sou totalmente contra práticas judiciais que condenem pessoas à pena capital. Mas confesso, que ao dar-me conta de casos destes, as minhas convicções vacilam.

Há em nosso redor imensas pessoas, mais ou menos próximas que padecem de desequilíbrios mentais ( a mente não é uma entidade, mas um conjunto delas, a explorar num texto posterior…), perturbações, doenças mais ou menos crónicas. Quando, uma vez ou outra, me dei conta de tal ser o caso de alguém conhecido ou próximo, não só a minha atitude mudou, como mais me tentei agarrar a uma amizade, que se viria a confirmar bem difícil. Ainda hoje me custa aceitar a perda de amizades, que por via de tais situações se verificaram quase e impossíveis. Ficou-me apenas o desejo de alguma felicidade possível para tais pessoas, a quem só quis e quero bem. Mas nem isso logrei que fosse entendido. A nossa mente é extremamente rica e complexa. Os factores que levam pessoas a esconder os seus problemas mais graves são diversos. E nem a mão estendida de um amigo desinteressado pode ser aceite por quem tanto sofre por uma simples exposição dos seus problemas aos outros. E estes tratavam-se de perturbações que não conduzem a extremos ou a actos já de natureza criminal. Tão só podem levar a mais algum sofrimento do que se desejaria.

No caso destes indivíduos que praticaram e praticam tamanhas violências, que se pode pensar, dizer ou fazer? Temos de conter toda a nossa humana e compreensível raiva e aversão, para que o nosso próprio caminho de sensatez e sólidos princípios se mantenha inalterável. Todos sabemos isso.

Mas custa tanto saber disto, como nos comportarmos com elevação.

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