Crise Financeira e Optimismo desproporcionado do nosso governo
Será de elogiar o aparente optimismo de Sócrates quanto à crise financeira mundial que se começa a alastrar?
Não me parece...
Portugal está inserido no espaço económico europeu e é uma das economias mais dependentes, nesse espaço, da situação económica e financeira tanto de países europeus, como dos Estados Unidos da América e de países orientais.
É que Portugal deve o seu parco, muito parco crescimento do PIB às exportações para países como os da União Europeia e os EUA. Mas também depende, no equilíbrio da sua balança comercial, das compras feitas a oriente, e também, principalmente a Espanha e Alemanha. Se Espanha tem neste momento um superavit, tem também uma crise crescente, pois o comportamento bolsista das empresas de construção - quase o único e verdadeiro motor económico espanhol devido à forte imigração do norte África- tem sido muito negativo e as maiores empresas do sector apresentam já fortes perdas, muito comprometedoras dos seus resultados. Mas em Espanha há outros problemas, noutros sectores e o governo espanhol debate-se agora com uma economia que começa a desacelerar.
Portugal depende, pois, muito do exterior e estas são apenas algumas razões e há mais. E não estamos tão preparados, pois nem o equilíbrio orçamental nos há-de valer. Não esqueçamos que esse equilíbrio, o famigerado défice, tem sido um estrangulador do nosso crescimento económico e um esforço para cada família, já que tem sido conseguido quase exclusivamente à custa de aumento da carga fiscal.
Além disso há que esperar um aumento de juros (não nos esqueçamos que a perda acentuada de poder de compra contínua dos portugueses, desde há oito anos e maior nos últimos dois anos, trará um risco acrescido nas análises de crédito da nossa Banca), a todos os níveis, mesmo com a previsível redução da taxa de referência do Banco Central Europeu. E ainda temos de contar com a baixa nos rendimentos da Banca portuguesa em 2007...
Uma economia que tem mais o reduzido crescimento económico da UE, abaixo dos 2% quando no tempo de Cavaco Silva tinha mais do dobro e mais do que a Espanha, mesmo tendo em conta um défice, na altura de mais de 6%...estará tão protegida para esta crise financeira mundial?
Uma economia que não consegue, ao contrário da de Espanha, sustentar-se, em parte sequer, no aumento do consumo interno, só pode sofrer e muito quando, com ao factor acrescido da forte valorização do Euro, depende tanto das condições de outras economias. Assim não é pelo optimismo - “confiança” como dizia Sócrates, aliás Carvalho Pinto de Sousa de seu nome de família – que vamos ficar melhor do outros, nem talvez igualmente atingidos por esta crise, mas sim atingidos em muito maior escala.
O problema do optimismo provinciano e desproporcionado do Governo é que normalmente os mercados financeiros reagem muito mal ao irrealismo. Além disso um ministério das finanças em contra-corrente com as opiniões generalizadas, incluindo a do Banco de Portugal, não inspira confiança nos agentes económicos, bem pelo contrário!
Como tal, e não explano aqui muitas mais razões para recear o tempos próximos e para nos prepararmos para um época mais difícil a exigir de todos nós contenção e poupança, devemos esperar um 2008 muito duro para todos.
Melhor contar com isso, realisticamente, do que padecer de um optimismo puramente por propaganda ("balofo", por sugestão do ministro das finanças), que este governo não se cansa de usar e abusar.
Comentários
Gostei do texto e volatrei para ler mais, assim vou me mantendo actualizada
Obrigado