Maria João Pires e os socialistas
Maria João Pires. Indiscutivelmente a nossa maior artista, na música clássica, desde há muitos anos, talvez mesmo a mais reputada desde Vianna da Motta.
A ida de Pires para o Brasil sugere-me dois pensamentos: indignação e um sentimento de indisfarçável satisfação (embora me possam acusar de ser uma satisfação um pouco cínica).
Indignação porque Maria João Pires é, de facto um enorme, um imenso nome da música clássica mundial. É uma das melhores pianistas internacionais, numa área cultural em que não abundam grandes nomes do nosso país. É uma das artistas que mais admiro e admirarei. E já por diversas vezes confessei a minha paixão pela música clássica. Que vive comigo todos os dias, em casa, no carro, num hotel (em formatos, hoje, mais modernos como mp3, iPOD, etc.).
Maria João Pires tem uma forma muito inspirada de interpretar, magistral, própria apenas de génios.
A sua partida para o Brasil, num óbvio divórcio com a política deste Governo- só não assumida pela sua declarada simpatia com o PS, deixa-me pleno de tristeza, de frustração, de indignação. Um país com um tão pobre panorama musical deve acarinhar artistas de tão gigante valor. Maria João Pires poderia ser comparada, neste tempo em que vivemos a uma Clara Schumann do século XX. Sem exagero. Apenas com a diferença de esta ter também composto algumas obras, mesmo assim, pouco conhecidas. Mas Pires teve e tem o mérito, não menor, de ter iniciado um projecto artístico absolutamente imenso, fantástico e único, mesmo a nível internacional.
O Governo Sócrates mais uma vez não sabe dar valor a quem o tem, nem mostrar reconhecimento. Já Guterres o havia feito e provocado a mesma indignação em Maria João Pires.
Mas este facto também me traz uma mórbida satisfação: a de verificar que, numa altura em que Prado Coelho ofende Rui Rio, no seu último artigo no público, apelidando-o de saloio intelectual, por este ter tomado uma acertada decisão, quanto ao destino do Rivoli do Porto, uma sua confrade e amiga de partido se afasta da orientação do pertido comum a ambos. Mesmo que Maria João Pires não o assuma, por pura solidariedade intelectual, política e partidária.
Prado Coelho, também ele declarada e tão fanaticamente socialista (tanto quanto os iranianos são, de forma cega, pelo Ayatollah Khamenei, agride Rio pela sua decisão, confirmando, assim a sua visão errada de uma política cultural fora de tempo: a de o Estado ser, ou ter de ser um bastião da cultura. Mas Prado Coelho, tal como todos nós lê - e gosta de ler, obviamente por livros editados por…privados. Em toda a Europa, em todo o mundo é normal teatros, e outras salas de espectáculos serem propriedade de privados. Em Portugal também: um seu amigo socialista, também, é proprietário de uma sala em pleno coração de Lisboa: o Politeama, de La Féria…
Esta mesma visão tem Maria João Pires: Cabe ao Estado apoiar a cultura. E é verdade, mas só parcialmente, e cada vez menos. Pois o Estado, hoje, fruto de uma política propagandística - quase Salazarista - do PS, a cultura é demasiado, asfixiantemente, politizada. E cultura e política não se deveriam confundir assim tanto, tal como defende. Prado Coelho e Maria João Pires, precisamente.
Pires foi para o Brasil. Mais uns nove milhões de portugueses gostariam de ir atrás… e deixar este PS aqui, sozinho…
Pires vai obviamente construir no Brasil o que aqui não poude fazer, pois lá terá a tal política de subsídio, do seu amigo Gilberto Gil, que comunga da mesma visão do Século passado.
Isto não retira nada ao mérito e à qualidade do projecto de Pires, e muito menos à sua excelência artística.
É a fuga de uma grande senhora, uma enorme artista, uma pessoa superiormente inteligente. A fuga desta mediocridade nojenta em que subsistimos, por culpa de PS's, de PSD's e de um povo ignorante, mas sem culpa prórpia, todos demasiado instalados num marasmo doentio. É a fuga onde tudo o que tem valor acaba por mirrar, se chegou a germinar. Apenas porque orgulhositos caseiros e pessoais, como o da Ministra da (in) Cultura e da de José Sócrates, esse amanuensse demérito...
É um dia triste e de mais uma vergonha nacional este da notícia da saída de Pires...
...mas é bom não confundirmos tudo.
Comentários
Mas por isso não tem que se lhe aguentar as birrinhas de intelectual que neste País de subsidiodependentes, acontece frequentemente. Eu, que apenas sou um actor amador, provinciano a quem ninguém dá valor ou subsidíos que se vejam fico indignado e com vontade de dizer cinquenta palavrões seguidos quando tudo isto acontece e ainda por cima em tempo, que dizem ser de crise. Milhões para Belgais ?
Certo. Se ou souberem gerir e mostrarem que foram bem empregues. Birrinhas de gente famosa ? Não vou nessa. Evidentemente que a questão aqui tratada deve ser de ordem politica segundo vejo no título. Isso não me interessa. Se o Autyor é do PPD ou doutro qualquer tanto me faz. Os milhõezinhos que saíram do meu e dos outros bolsos isso sim. Deixemo-nos de depressões de gente rica. Tratem-se porque têm dinheiro com fartura para os seus riucos psicólogos. Nada disso me impede de ir ouvir já de seguida o último CD da Senhora. Boa noite aqui de Albufeira. Hélio
--- QUe possamos melhorar são os desejos de todos nós...penso eu. Mesmo que a partidarite às vezes fale mais alto. Boa tarde. Emanuel G.
Gostei dos seus comentários, porque sou pluralistas, ao contrário de muita gente-PS...
Obrigado.
Ainda podemos melhorar, mas é cada vez mais tarde, mais difícil e mais duvidoso, pois se ainda é subsistem dúvidas sobre esta incompetência que nos (des)governa...