A dificuldade de um português ser optimista
Num primeiro impulso, talvez pueril, ou consequência de uma análise superficial, sou tentado a dizer que os últimos tempos têm uns... quatrocentos anos (tendo o nosso declínio, se tivemos apogeu, se iniciado exactamente logo após a grande época das Descobertas). Mas, contendo-me, vou esforçar-me por assumir uma sensatez que se me torna cada dia mais difícil encarnar.
Limitemo-nos, pois, a uma análise de duas épocas: antes do 25 de Abril e os últimos dez anos.
Do “antes de Abril de 1974”...nem é preciso escrever muito, pois já muito foi dito, nem sempre a verdade, tal como a sentimos todos nós, os “sem nome”. Mas para esta minha reflexão, basta-me uma simples constatação: nem tudo o que de mau se passou se deveu a um homem apenas mas, também , a uma Igreja pactuante, a uma classe política entre colaboracionista e radicalizante, numa lógica de constituição de duas facções...de um mesmo povo, para um mesmo povo. Resultado: nem os governantes confiavam no povo governado, nem o povo se sentia bem- aliás sentia-se oprimido e era-o de facto- com tais governantes, corporativos, arrogantes... e muitos outros adjectivos que muitos, bem mais informados e iluminados do que não se cansaram, e não se cansam ainda hoje de repetir, à exaustão.
Inquestionável!
Resultado: Portugal não avançou social, política, económica, religiosa e – o que mais me preocupa, por se tratar de um motor de tudo o demais- culturalmente. Direi até que a Portugal lhe sobrou em atraso o que lhe era desejável em avanço.
Tantos anos depois – á escala de uma vida, pois em termos nacionais, convenhamos que trinta anos nem não muito, para um país com mais de oitocentos- em que ponto estamos nós?
Economicamente é incontestável reconhecer avanços reais. Não tanto quanto desejaríamos, e muito menos do que outros, agora parceiros e concorrentes simultaneamente, lograram. Mas houve avanços, principalmente em termos de melhor distribuição da riqueza, mas precisamente neste capítulo temos ainda um longo caminho de aproximação a uma paridade europeia.
Socialmente...bem ou estou míope- coisa normal ...- ou nem sei se avançámos!
Politicamente, é óbvio que houve avanços, por alguns designados de “conquistas”, por lhes ser própria a linguagem castrense de que acusam outros.
Mas, neste âmbito quero deter-me um pouco mais: Após um líder forte, mesmo que não consensual, mas na realidade, eficiente, que foi Cavaco Silva, Portugal escolheu para Primeiro-ministro um político que se lhe apresentava como um homem de diálogo e consenso, mas que se veio a notabilizar pela falta de capacidade de decisão, porque as decisões poderiam ser-lhe desfavoráveis, por impopulares- Guterres, no seu melhor, como sabemos.
Nem pretendo debruçar-me sobre os breves Governos (sugestão: ler O breve reinado de Pepino IV de Steinbeck) de Durão Barroso, nem de Santana Lopes, pois pessoalmente tenho dificuldade em analisar tão efémeras acções. Posso, de forma curta e sucinta- e injusta, obviamente- considerá-los de pouco efectivos e um tanto trapalhões.
Agora estamos novamente num período de maioria absoluta.
Maioria de um partido que sempre acusou a anterior(s) maiorias, adversárias políticas, de arrogância, precisamente por má utilização dessa larga expressão parlamentar.
Maioria que acusou Cavaco Silva de, durante as suas maiorias absolutas se ter tornado arrogante, insensível à expressão popular e principalmente à actividade jornalística- que vive exactamente da caça às notícias da política nacional.
Esta actual maioria acusava Cavaco de silêncio abusivo, por “ter de prestar contas” e ter de “ser fiscalizado”. Houve até quem abordasse o perigo de uma nova ditadura- e esta menção veio precisamente do Presidente da República da altura, Mário Soares.
Esta maioria, talvez pelo fascínio secreto que o actual Primeiro-ministro nutre por Cavaco Silva, ensaiou agora um estilo de governação e de relacionamento com a sociedade portuguesa, com a imprensa e com os adversários políticos, bem mais arrogante e de secretismo do que Cavaco foi capaz.
Que críticas tem sofrido da mesma comunicação social que antes acusava e detestava Cavaco? Nada!!! Mas, sejamos claros, estão no seu direito. Embora isso mau profissionalismo, estão no seu direito. Como eu estou de não os ler ou ouvir.
Atrevo-me a comparar esta fase da nossa vida comum com a de Salazar: para mim, Sócrates daria um bom Salazar, noutra época...
Sócrates atira-se aos adversários, na Assembleia da República, como se desejasse que ali não estivessem, com raiva, agressiviade e arrogância. (" o PS tem a sua agenda..." diz e repete, Jorge Coelho).
Se uma estratégia não lhe corre bem actua em resposta com a mesma arrogência e agressividade, em tom revanchista- caso do referendo sobre o aborto.
Muda tudo e todos os que com o partido anterior tem a ver -caso das dministarções dos Hospitais, Governos Civis, etc...("fazem o mesmo que fizeram os outros", dizem-me alguns amigos; não percebo, eles não se dizam diferentes?!).
Coloca-se uma mordaça na comunicação social, agora de forma mais eficiente, através de lobbies e (tráfico de) influências. Ou não? É excesso meu? Nem o Governos fala, nem dele se exige nada...estranho! Há ministro que nem ainda apareceram - estão na fase dos projectos, os famos projectos socialistas, de que já se ufana o candidato deles a Lisboa. Projectos sim, realizações logo se vê.
Até vim um Prós e contras só com socialistas...que giro! Os outros, essa raça detestável e inferior, não culta dos outros, ou seja os não socialistas, estavam apenas no público e chega!Que sucedeu entretanto? Sócrates fala pouco e, diz J. António Saraiva, no Expresso, “quem fala pouco, erra pouco” Como???? Que tem a ver falar, muito ou pouco com eficência?
Sócrates podia falar pouco e de facto ser eficiente, mas analisemos um facto da maior importância e verdadeiramente condicionante do nosso futuro próximo: Campos e Cunha, o Ministro das Finanças foi aconselhado a alterar os seus planos para 2005. Nada de aumentos de impostos (seria impopular e dá poucos votos e assim pode arredar o PS do Governo); Nada de aumentar os impostos dos combustíveis (seria, também impopular e dá poucos votos e assim pode arredar o PS do Governo...). Não pode haver redução de efectivos da Função Pública (seria ainda mais impopular e... dá poucos votos e assim pode arredar o PS do Governo...)
Parece de pouca monta, mas isto a seguir assim, já me disse tudo sobre as nossas possibilidades de recuperação económica nos próximos anos.
Se não tivermos uma economia saudável, a crescer, com contas de boa saúde, que nos permitam viver um dia-a-dia melhor, com esperança, como europeus, afinal, como havemos de ter ânimo para pensarmos em tudo o resto. E no resto está, na verdade, o mais importante de tudo: a cultura.
Se um dia formos mais cultos, também havemos de fazer melhores escolhas políticas e não esta coisa de colocarmos no Governos arrogantes incompetências como estas dos últimos tempos.
Mas vou ainda ser positivo: vou acreditar ainda, neste Governo. Vou ser mais crente, que é uma atitude mais religiosa do que cultural ou política e de científica não tem nada. Apenas fé e nada mais!
Comentários
(depois venho comentar a sério, eheheh)
Do tipo:
"!--[if !supportEmptyParas]--"
... seja isto lá o que for...
:))))
Contudo, não posso deixar de pensar se, mesmo como região autónoma espanhola, conseguiríamos governar-nos...lá dizia o Julinho César...Se calhar tínhamos um movimento de libertação e andávamos armados em terroristas!
Espanha, uma matrona gorda e toda pintada, com um vestido às bolas a apertar quase até sufocar um Portugal tipo "Chico Fininho" e a dizer-lhe "Anda cá que és meu!..."
(Não sei como se diz em castelhano)