Um exercício de vacuidades



O último programa de Fátima Campos Ferreira, prestigiada jornalista (mais pela oportunidade dos temos, pela qualidade na moderação ou pelo ritmo que serenamente impõe aos debates, do que pela inteligência nas perguntas e, mais importante, pela sua relevância ou quase-exigência da parte dos portugueses sobre perguntas nunca colocadas...enfim, um programa demasiadas vezes politicamente correcto para que se sinta como útil, ou contribuinte efectivo como opinion-maker), escolheu um interessante debate com os ex-Presidentes da Republica, nesse dia intitulados Doutores Honoris Causa pela Universidade de Lisboa.

Interessante, por curioso e ...porque podia ter sido oportuno. Mas bastamente inútil, pois que o único ex-PR que alguma coisa disse que roçou a utilidade, foi o menos preparado dele, o menos culto, o menos político e de quem menos se esperava, até pela sua mediania intelectual: Ramalho Eanes.

Soares, agastado e gasto, claramente desiludido com o seu Partido e com o seu líder, a dada altura voltou a gabar-se, coisa em que é Doutor de Cátedra reconhecida, referindo, falsamente, que um dia, em tempos idos, talvez há dois anos, no início da Crise internacional, avisou Sócrates de que a mesma, a crise, 'vinha aí' (o que só pode ser uma inverdade, dado que repetidamente o vimos na TV a repetir a cartilha do optimismo provinciano e irresponsável de Sócrates-Teixeira dos Santos). Ora...dito isto, nada mais disse a noite toda, que já não soubéssemos e o tivéssemos dito e repetido antes, muito antes dele, em teoria um homem com informação privilegiada.

Sampaio adora ouvir-se. Mas, como antes e como sempre, troca os pés pelas mãos e ...nada diz. Repetiu a ridícula doutrina gasta de mais de quarenta anos (ou sessenta) do marxismo e do anti-capitalismo, mesmo do alto da sua vida capitalista e super-privilegiada. De novo, de útil, nada lhe ouvimos.

Eanes, de quem menos se esperava, sintetizou numa frase o seu pensamento sobre uma das géneses da nossa crise, depois de afirmar, o que todos (os que não venderam a alma ao clubismo rídiculo, estúpido e cego do Partido do Governo) sabemos: que esta crise foi influenciada e vítima da internacional, mas que já cá estava antes de sequer se falar da outra (dos americanos maus e bandidos...os maus do capitalismo, contra os bons dos marxistas europeus que persistem em fórmulas, com provas dadas, de insucesso e desgraça miserável, por toda a Europa, por todo o mundo e, responsável primeira, após o Salazarismo e o Catalocismo anacrónicos e socialmente injustos, porque provincianos e obscurantistas, pelo nosso atraso, atroz, e imobilista, pela nossa miséria cultural, social e económica). Disse o mais esclarecedor, segundo a sua opinião e acertou, em parte, mas em cheio, na causa principal, aspecto fundamental para se procurar uma solução, sempre que há um problema (saber a causa, reconhecê-la, e depois ataca-la): o nosso Estado Social, construído nos anos da Democracia actual, e necessário e bem-vindo, não encontra base de suporte numa sociedade que não aumentou a sua riqueza ao mesmo ritmo. Esta, segundo Eanes, a causa fundamental para esta crise que não nos vai largar por muitos anos.

E o resto do debate foi um desfile de asneiras e anacronismos, um triste desfile de sombras do passado, imagem degradante de um país em depressão...

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