Da "Casa das Anoneiras"
Tantas têm sido as vezes em que pensei e me inibi de escrever como tudo começou. Ou não começou, mas onde e quando tudo ganhou a importância que fez sentido. Decidi há pouco chamar-lhe a Casa das Anoneiras, pela profusão de árvores de fruto e dessa fruta tropical com que cresci e descobri o mundo vegetal, mas era a casa das Rua das Mercês.
Mas não é da casa, que muitas boas memórias me traz, e, seguramente, aos meus irmãos também, mas é da memória do homem que marcou definitivamente o meu rumo e a minha vida. O prazer pelo conhecimento, a curiosidade por mil assuntos e esse deslumbramento para com quem sabe... estou certo de o dever a esse homem curioso e marcante nas vidas que tocava, e sempre com uma energia para viver a vida que, grande filha da mãe, o levou tão novo aos sessenta e sete anos. Ainda sem conseguir ter conhecido todos os netos (e algumas tempestades difíceis nas vidas dos filhos que tanto amava). O meu pai não foi a minha vida toda. Tendo ela mesmo começado pelo sofrimento na minha querida mãe que se viu "grega" com o meu nascimento. Mas a minha mãe era uma doce e quase submissa mulher, que tinha feito na sua juventude esse esforço por ser independente pelo seu trabalho e, não pelo meu pai, mas pela sua mãe, a minha avó que todos dominava, ou tentava, e havia amputado a carreira profissional da minha mãe. Já o meu pai, não era homem de se ir abaixo com um percalço na profissão.
Ele foi o homem que me marcou, sem dúvida. E Novembro, o meu mês, o mês que o levou de nós. Um mês cheio de ironia, de maldade e de felicidade, porque também me trouxe a maior mudança na minha vida, a minha primeira filha.
Mas não é um mês fácil. É de sorrisos e lágrimas, intenso, como eu gosto de ser. E é lixado ser intenso, para o mês e para mim.
Um dia, penso...hei-de escrever essa história que começou, para mim, com a Casa das Anoneiras, ou eu gosto de pensar que sim.
Hoje, com aquele estímulo que me costumam dar os livros (nem podia ser de outra forma, os livros são boa parte de mim, e, novamente, "culpa" do meu pai que os amava, como eu), deu-me para isto.
E com essa imensa vontade de saber do meu, do nosso pai, penso que começou a minha. Sem dúvida que foi ele.
E hei-de contar essa história, que vai longa, mas é simples. Simples no alcance social. Nada simples nas voltas todas da vida. Espero superar esses teus sessenta e sete anos de uma breve vida e contar a tua, a minha e a nossa história. Afinal, até assistimos a muito neste nosso país e neste mundo que o meu pai não iria poder acreditar...
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