A propósito do Museu de Pamuk

 Orhan Pamuk é dos meus autores favoritos (mas, afinal, são uns quantos...). Escreveu sobre o seu país, sobre as diferenças culturais, as paisagens urbanas de Istambul e sobre as paisagens humanos e os romances inerentes.

Pamuk escreveu "O Museu da Inocência", título para um pretexto com história de amor, para, de novo, estabelecer as diferenças e as semelhanças entre a cultura do seu país, a Turquia, e a cultura europeia (admitamos como Uma Cultura a amálgama de culturas que nem ainda hoje se entendem).



O Museu, das memórias de um amor impossível entre um jovem herdeiro de uma família rica e a sua prima afastada, no momento em que decorria a preparação do seu casamento com uma também herdeira de outra família da alta sociedade de Istambul, estabeleceu-se no livro como a colecção de objectos da memória do que "era o momento mais feliz da minha vida, mas eu não o sabia", segundo narração de Kamal, o jovem em causa.

São memórias que nos podem lembrar, a cada um de nós, as colecções, físicas ou mentais, de momentos que foram felizes, ou assim quisemos guardar como tal, ou que podiam ter sido e não há como saber se o iriam ser.

A ideia da falta de noção sobre o momento no passado que foi o "mais feliz", é de uma nostalgia quase se pode dizer aterradora. É a ideia que pode ter havido um momento nas nossas vidas que não conseguimos quando o vivemos assim identificar, como o mais marcante e que nos podia ter trazido outro rumo. 

Ou, a negação de uma eventual ideia ou pensamento desses, levou-nos a aceitar. A aceitar, ou resignar, com o rumo que demos, ou a vida nos deu e não escolhemos. Esta mesma, pode ser associada à liberdade individual em si. A liberdade de optar, a liberdade de usarmos do nosso poder discricionário.

Kamal, no livro de Pamuk, não conseguiu decidir pelo momento, melhor, pelo que fez ter vivido um momento mais feliz que outros, o Tal momento, em que tudo podia ter sido diferente. 

E quem de nós pode dizer ter tido a sorte e o poder de conseguir decidir pelo Melhor, na sua vida. Ou, mesmo ter conseguido ter a noção de ter vivido um momento especial e decisivo, o momento mais feliz? Falemos de amor, de relações, ou mesmo de decisões profissionais.

O tema do livro, uma obra bela de Pamuk, é um pretexto ou não. Mas é um pretexto (pode ser, se quisermos) para pensar. Em momentos.

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