Desaparecida
Um filme, que revi há alguns dias no fim de semana, de que tinha lido o livro "Em parte Incerta" de Gillian Flynn ("Gone Girl"), é um bom pretexto para uma sessão de cinema a dois, se os dois apreciarem este género. O livro é ainda mais interessante, mesmo não se tratando de uma obra de grande literatura, mas é uma história bem urdida.
A história é claramente policial, mas componentes psicológicas e sociais enriquecem-na e também a tornam em algo um tanto provocante, não chegando a polémico, mas mais por ser inquietante.
Um casal que se conheceu de forma original e que parece ter uma enorme cumplicidade, rapidamente vê o seu casamento envolvido em perturbações e começa a viver uma situação de rotinas diárias, dando lugar a uma traição pelo marido (Ben Affleck no filme, no papel de Nick Dune). Amy, a bela esposa, filha de um casal de escritores, que publicam desde a infância da filha livros juvenis com o nome dela, presenciou a traição do marido e decide vingar-se.
O que torna esta história cativante é não apenas o enredo divido em duas fases, a primeira lançando a dúvida sobre o marido como assassino, a segunda apresentando Amy a planear todo um esquema para incriminar o marido, como suspeito de um assassinato de que muitos o pretendem acusar, mas que não se verifica uma acusação viável, pela inexistência de um cadáver.
A tensão do final da história, ou mais concretamente a partir de metade, quando aparece Amy e percebemos ser ela que urde este plano maquievélico, cresce em volta da incompreensão sobre a resposta do marido, injustamente visto como criminoso, embora sem ter sido formalmente acusado.
A parte pouco explorada da relação conjugal deixa no entanto subjacente ao móbil do enredo que um casal pode facilmente entrar em desgaste assim que um se tenta sobrepor ao outro, ou o pretende moldar à sua visão do mundo e da vida. A história defende subtilmente, a capacidade intelectual superior de um face ao outro, e desse modo, as tensões aumentam entre os dois, que deixam de sentir a partilha como elemento essencial, assim como o respeito mútuo, e passam a viver em ambiente crispado mas um tanto tacitamente aceite. Até que Amy decide planear um apagamento do marido, e o faz com rigor e sem quaisquer escrúpulos.
Nick é o lado fraco da história a todo o tempo. E ninguém tece muita simpatia pelos fracos, com a excepção da sua irmã Go que se mantém firme a apoiá-lo. Esperava-se um desenlace distinto, com alguma capacidade de justiça imposta por Nick que finalmente percebeu o que lhe havia acontecido, mas verificou-se, de novo, que se resignou a uma subalternizarão perante Amy, ficando-nos assim um sabor um tanto amargo. Mas na vida real, não haverá muitas histórias assim, em que ganham os que menos merecem, ou mesmo os que deviam ser revelados como perversos ou criminosos?
O filme, como o livro, é, a meu ver, um pouco superficial na exploração das tensões conjugais, conducentes à situação gerada por Amy, mas trata-se de uma história cujo principal motivação é o lado policial e, nesse sentido, é bem sucedida e nos deixa presos quer ao livro, quer ao filme.
A história é claramente policial, mas componentes psicológicas e sociais enriquecem-na e também a tornam em algo um tanto provocante, não chegando a polémico, mas mais por ser inquietante.
Um casal que se conheceu de forma original e que parece ter uma enorme cumplicidade, rapidamente vê o seu casamento envolvido em perturbações e começa a viver uma situação de rotinas diárias, dando lugar a uma traição pelo marido (Ben Affleck no filme, no papel de Nick Dune). Amy, a bela esposa, filha de um casal de escritores, que publicam desde a infância da filha livros juvenis com o nome dela, presenciou a traição do marido e decide vingar-se.
O que torna esta história cativante é não apenas o enredo divido em duas fases, a primeira lançando a dúvida sobre o marido como assassino, a segunda apresentando Amy a planear todo um esquema para incriminar o marido, como suspeito de um assassinato de que muitos o pretendem acusar, mas que não se verifica uma acusação viável, pela inexistência de um cadáver.
A tensão do final da história, ou mais concretamente a partir de metade, quando aparece Amy e percebemos ser ela que urde este plano maquievélico, cresce em volta da incompreensão sobre a resposta do marido, injustamente visto como criminoso, embora sem ter sido formalmente acusado.
A parte pouco explorada da relação conjugal deixa no entanto subjacente ao móbil do enredo que um casal pode facilmente entrar em desgaste assim que um se tenta sobrepor ao outro, ou o pretende moldar à sua visão do mundo e da vida. A história defende subtilmente, a capacidade intelectual superior de um face ao outro, e desse modo, as tensões aumentam entre os dois, que deixam de sentir a partilha como elemento essencial, assim como o respeito mútuo, e passam a viver em ambiente crispado mas um tanto tacitamente aceite. Até que Amy decide planear um apagamento do marido, e o faz com rigor e sem quaisquer escrúpulos.
Nick é o lado fraco da história a todo o tempo. E ninguém tece muita simpatia pelos fracos, com a excepção da sua irmã Go que se mantém firme a apoiá-lo. Esperava-se um desenlace distinto, com alguma capacidade de justiça imposta por Nick que finalmente percebeu o que lhe havia acontecido, mas verificou-se, de novo, que se resignou a uma subalternizarão perante Amy, ficando-nos assim um sabor um tanto amargo. Mas na vida real, não haverá muitas histórias assim, em que ganham os que menos merecem, ou mesmo os que deviam ser revelados como perversos ou criminosos?
O filme, como o livro, é, a meu ver, um pouco superficial na exploração das tensões conjugais, conducentes à situação gerada por Amy, mas trata-se de uma história cujo principal motivação é o lado policial e, nesse sentido, é bem sucedida e nos deixa presos quer ao livro, quer ao filme.
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