Clubes exclusivos
As duas revistas de actualidade de maior circulação em
Portugal decidiram na mesma semana, o mesmo tema de capa: os clubes privados em
Portugal. Os clubes dos “poderosos”. As frases introdutórias são sugestivas,
tanto dos clubes, dos grupos ditos mais exclusivos dos nossos mais “influentes”,
como das redacções editoriais das referidas publicações.
Em tais clubes, rezam (é mesmo coisa de culto, não sabemos é
se meio, todo ou nada secreto) a “Visão” e a “Sábado” há salas exclusivas, onde
se discutem e decidem negócios e, parece claro, mas não é, a sociedade.
Qualquer ser normal entende que se discutam negócios em
privado, em “exclusivo” ou “reservado”. Intrigante é, porém, entender onde
andam esses negócios, num país que carece tanto deles e tanto eles escasseiam.
Pelo menos para que a sociedade e o país (se incluirmos a administração do
Estado na sociedade, coisa que ainda me dá que pensar…) vejam os chamados
resultados, ou benefícios de negócios tão em grande secretismo discutidos. Mas
talvez seja coisa que não se entenda, uma compra qualquer de acções quaisquer
de um dado grupo, ou empresa. Ou será que andam sempre a surgir investimentos
em negócios que irão tornar Portugal um país (re) emergente?
Imagino que a exclusividade envolva gente de muito saber,
gabarito cultural e económico. Imagino mesmo o odor a fósforo de tanto pensante
e pensador reunido em torno de umas quantas garrafas de Lagavulin ou The Macallan
com 25 anos. Imagino a juventude e dinâmica intelectual de tais elites. Imagino
mesmo que já devem ter gerado as ideias basilares das economias, das
tecnologias e mesmo das ideologias do futuro.
E, assim, acho mesmo admirável que, em circunstâncias de pré-crise,
financeira e social (mais uma) as nossas revistas revelem este iluminismo
surpreendente e nos presenteiem com edições ao estilo da futilidade de uma
Exame. Ou seja, a mesma passerelle de inutilidade que nos tem enriquecido
(empobrecido) de ideias.
Talvez, se abrirmos um pouco os olhos, consigamos vislumbrar
o resultado (numa sociedade tão culta e evoluída...e com um futuro tão promissor) de tão ilustres tertúlias, de tão exclusiva prole de filhos da
Pátria, num país onde a quase generalidade e inovações são meras e pobres
cópias do que nem lá fora se inventou. Só para recordar que…os programas de
austeridade são uma cópia da “invenção” de Salazar e do seu programa de
recuperação do país. Coisa que resulta em Economia fechada, com importações e
exportações controladas, em mercado quase todo ele interno e anémico. Talvez
ainda recordar que tão brilhantes inteligências não foram ainda capazes de
gerar uma ideologia nova desde há mais de cem anos, ou sequer conseguir escapar
da dicotomia anacrónica, de Direita e Esquerda, nascida em França em 1789.
Admiro muito as nossas elites, geradoras, quase só, de novos
oligopólios, de empresas super fantásticas, capazes apenas de operar em mercado
de poder negocial desequilibrado e injusto, como as nossas eléctricas,
petrolíferas e algumas mais, nacionais ou internacionais.
Termino, questionando-me como somos um dos poucos países, ou
o único onde um Partido Comunista ainda tem voz e surge na nossa comunicação
social. Mas talvez essa seja também uma das estratégias desenhadas em
exclusividade de clubes restritos, onde só os nobres pensantes conseguem ver o
que ninguém mais quer ver: o poder de alguns face ao desprezo pelos muitos
outros. Onde se inclui a Maçonaria, o Opus Dei, Bilderberg…
Gente de elite, evidentemente.
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