A prova social e a falácia

Viver em sociedade é um caso de estudo. Desde há muito. Mas há algumas falhas fundamentais, nos estudos sociológicos, muito vincados à disciplina da investigação. Um problema da Ciência, que a ela mesma nunca quer reconhecer. O simples facto de muito investigador se dedicar a um mesmo assunto, ou a assuntos próximos, perverte o raciocínio e principalmente os resultados, feridos de demasiada estatística. 

Em sociedade vivemos todos, mesmo que os nossos dias se limitem a acordar e adormecer numa povoação remota, numa habitação isolada, apenas com a família e o trabalho nos campos adjacentes. Uma família é também uma organização social, ou a sua célula mais elementar.

E viver em sociedade pressupõe, ou deveria, um comportamento colaborativo, teoricamente existente. Ele existe, quando entramos num transporte público, e há mais pessoas a entrar às quais não podemos ser indiferentes, ou pelo facto de todos os lugares estarem ocupados e nos termos de cingir a ficar de pé, mesmo sem contarmos com a cordialidade e compreensão para com alguém idoso, alguma criança, ou alguém enfermo. O reconhecimento apenas da ocupação de lugares, lembra-nos o espaço social onde estamos e obriga-nos a esse comportamento de reconhecimento dos outros, desconhecidos, mas identificados como parte do mesmo ambiente social. 

Mas a colaboração esbarra com alguns aspectos da nossa mente estereotipizante. Esbarra ainda com outros pensamentos e modos de vida mais segregantes. Embate frontalmente com aversões mais complexas e porventura criticáveis. Nem tudo o é, apesar do politicamente correcto de dizermos que temos de aceitar todos. 

Mesmo quando conseguimos reconhecer a nossa tendência natural para o afastamento, para a estereotipização e para a consequente organização em grupos e células sociais mais identificáveis connosco, o que corresponde à falácia de que somos povos unidos, em cada país, em cada sociedade e outras afirmações anexas, todas desconexas da verdade, que é bem outra, somos levados num comportamento de grupo, numa corrente comum, de imitações de grupo, onde a moda, a tendência e a atitude de conjunto se repetem a cada dia e mesmo a cada instante.

Fumar, porque outros o fazem é bem mais comum do que se imagina e muito provavelmente ninguém se iniciaria nesse vício, não fosse por uma questão social. A moda, é um outro grande exemplo de imitação social, o que Rolf Dobelli designou de Prova Social. Uma espécie de prova de que nos inserimos num grupo, numa sociedade. Mas há exemplos bons e outros muito maus. 

Um bom exemplo de prova social foi a atitude nacional dos portugueses na solidariedade para com Timor que conduziu à pressão internacional pela independência.

Maus exemplos, contudo, são muitos. O apoio massivo a Hitler nos anos trinta do Século XX, um dos piores exemplos. Mas há outros, bem menos evidentes. Alguns deles nunca reconhecidos, como a aceitação deste actual Governo pelos portugueses que, precisamente, votaram contra o Partido que agora o formou. Não foram indiferentes, votaram contra, pois o normal seria votarem contra quem antes governou Portugal, se fosse por esgotamento de Poder, ou condenação de políticas, na tradicional alternância de Poder em países democráticos, ao que acresce a difícil governação em tempo de crise económica e social profunda. Outros exemplos de prova social, ou seja, de comportamento apenas explicável pela imitação irracional apenas pela nossa inserção em sociedade é a filiação partidária e a associação num clube de futebol. Há exemplos graves, como o são as emulações colectivas em grupos de inspiração religiosa, ou seitas se assim lhes quisermos chamar, ou o actual fanatismo islâmico. 

Há casos de pouca gravidade que até determinam hábitos e costumes de um povo, e se transmitem entre gerações, como a moda, ou antes até, a tendência para esperar pela próxima moda, e pelo seu seguimento. Ou as tendências musicais, ou mesmo modas gastronómicas, como a actual sobre o sushi. Há situações de mediana gravidade, ou de extrema gravidade (pelo meu prisma pessoal pelo menos) como as reprovações sobre comportamentos de pessoas e casais, quanto a uniões, casamentos, atitudes ou preferências sexuais. Há uma prova social tacitamente aceite como benigna (maligna e causadora de muito mal, fundamentalmente de mentalidades, a meu ver, apenas) como a religião em si, e as crenças colectivas em geral. 

Há sociedades onde ideologias política nunca serão aceites de forma significativa ou mesmo perceptível, como o comunismo nos EUA, ou o fascismo em Portugal. Mas o oposto nunca é condenado. Quando afinal, a título individual e com a excepção de quem se insere nesses grupos condenáveis, por condenarem todos os diferentes de si, as preferências e tolerâncias seriam bem outras.

Há nesta tendência social, da prova social, algo de patológico, algo de impensado e insensato, pois a maioria dos nossos comportamentos, se fossem individuais puramente, seriam tantas vezes o oposto do que o são.

Há milhões de exemplos e há milhões de pessoas a seguirem comportamentos, ou apenas ideias, por este fenómeno e erro crasso, da Prova Social. O erro mais grave é nunca se parar para pensar e pôr em causa, mesmo que se decida seguir algum grupo ou tendência.

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