Um mundo triturado pelo dia a dia necessário
Deslocava-se pelas ruas com o pensamento noutros momentos, noutras pessoas, noutros locais. Como o livro que vinha a ler, pouco a pouco, em cada comboio e cada transporte que o conduzia ao trabalho, no qual o mundo do escritor se ia desenrolando, desnudando, aos olhos de todos os que o liam, ou leram. Eram pensamentos sobre a razão das coisas, a razão de ser. Do trabalho, do mundo assim construído, que já não levava ninguém a mais do que ir, sem interrogações. Eram as pessoas todas estranhas, uma, algumas, normais, as suas conversas, sobre os seus dias, o que alguém lhes havia dito e irritara, o que alguém lhe havia dito e encantara. Uma promessa, uma ilusão dita, ou uma promessa cumprida com prazer. E o prazer, onde estava por estes dias? O prazer, que em tempos se pretendeu encerrar numa gruta das vontade e naturais impulsos humanos, defendido publicamente há muito, demasiado tempo para que consigamos entender cabalmente como foi ele capaz de ler a mente humana e a felicidade necessária. Epicuro, depois defendido por Lucrécio e por muitos e muito depois dele, que as religiões se têm esfalfado a combater, a denegrir. A felicidade em si mesma, houve um tempo em que rir era uma quase pecado. Rir era coisa duvidosa e perigosa, que podia esconder sarcasmo, crítica e uma inteligência de que desconfiar como perniciosa, e era fundamental dar-lhe luta. O riso não fazia parte das artes da obediência, era precisamente o seu oposto, uma expressão expontânea de um qualquer pensamento, ou sentimento, talvez de satisfação, geralmente, talvez de sarcasmo e arma de crítica política, social e, claro, religiosa. Epicuro dava ao riso um lugar na história, defendendo-o com doutrina. Lucrécio que nunca negou Deus, defendeu que se deve tentar viver à margem de uma protecção divina e de uma predestinação, por nós mesmos e que o riso, o prazer eram, afinal, um mesmo lado da virtude e das mais nobres qualidades humanas.
Saberiam todas as pessoas ali ao lado, as que passavam, as que se sentavam ao lado, à frente e atrás, num comboio, que há mais de dois mil anos, alguém, num ambiente social muito marcado pela força das crenças religiosas, numa mistura perfeita e intricada com a política da época, pôs em causa a defesa oficial da abnegação e da abstinência da felicidade pessoal? E quantos anos pensavam todos esses que encontrava e o rodeavam nas ruas e nos transportes, ter a Humanidade perdido com a caça sem tréguas a pensamento livres e a humanos livres. E a obras libertadoras. E quanto tempo havia perdido a mente humana com toda a história como ela aconteceu, com tudo o que sabemos de regras, impedimentos, limitações, condenações e fogueiras a tudo o que pulsasse de inteligência e pensamento estimulante? Saberiam todos aqueles à sua volta como a sua própria mente havia sido capturada, hereditariamente, sem apelo, pelo desenvolvimento e rumo que o mundo tomou? O mesmo mundo que hoje pretendemos defender, por o vislumbrarmos em decadência, ou mesmo constatarmos, e que devia, podia, muito bem ter tido outro rumo? Mas forças, normalmente brutais e demolidoras, pelas armas e pelo sangue, expulsaram a mente humana do seu caminho natural de crescimento e libertação. Libertação.
Onde estaríamos hoje, sem as regras e as obediências que nos aconteceram? Onde estaria o desenvolvimento humano, não fora o processo violento de cortar com qualquer vontade própria e natural de pensamento próprio, individual, ter cortado pela raiz, ceifado, ou como uma gadanha, decepado uma mente que teria sofrido outro desenvolvimento, muito provavelmente superior e bem mais acelerado. A mesma mente que há dois mil anos indicava ser a matéria constituída por pequenas partículas, átomos, o que se veio a confirmar muitos e muitos séculos após, e que defendeu o universo como tendo surgido dessas combinações de matéria e não provindo de uma decisão deítica.
Mas o dia a dia e o pulsar imparável dos dias e dos espaços não permitia a alguém pensar em mais do que em manter a possibilidade de ir pagando despesas. Nem o mundo que hoje percebemos não se encontrar a si mesmo, mas antes ir desabando à nossa volta, envolto em mentiras e meia-verdades, se podia dar conta do tempo que o Mundo perdeu...
Saberiam todas as pessoas ali ao lado, as que passavam, as que se sentavam ao lado, à frente e atrás, num comboio, que há mais de dois mil anos, alguém, num ambiente social muito marcado pela força das crenças religiosas, numa mistura perfeita e intricada com a política da época, pôs em causa a defesa oficial da abnegação e da abstinência da felicidade pessoal? E quantos anos pensavam todos esses que encontrava e o rodeavam nas ruas e nos transportes, ter a Humanidade perdido com a caça sem tréguas a pensamento livres e a humanos livres. E a obras libertadoras. E quanto tempo havia perdido a mente humana com toda a história como ela aconteceu, com tudo o que sabemos de regras, impedimentos, limitações, condenações e fogueiras a tudo o que pulsasse de inteligência e pensamento estimulante? Saberiam todos aqueles à sua volta como a sua própria mente havia sido capturada, hereditariamente, sem apelo, pelo desenvolvimento e rumo que o mundo tomou? O mesmo mundo que hoje pretendemos defender, por o vislumbrarmos em decadência, ou mesmo constatarmos, e que devia, podia, muito bem ter tido outro rumo? Mas forças, normalmente brutais e demolidoras, pelas armas e pelo sangue, expulsaram a mente humana do seu caminho natural de crescimento e libertação. Libertação.
Onde estaríamos hoje, sem as regras e as obediências que nos aconteceram? Onde estaria o desenvolvimento humano, não fora o processo violento de cortar com qualquer vontade própria e natural de pensamento próprio, individual, ter cortado pela raiz, ceifado, ou como uma gadanha, decepado uma mente que teria sofrido outro desenvolvimento, muito provavelmente superior e bem mais acelerado. A mesma mente que há dois mil anos indicava ser a matéria constituída por pequenas partículas, átomos, o que se veio a confirmar muitos e muitos séculos após, e que defendeu o universo como tendo surgido dessas combinações de matéria e não provindo de uma decisão deítica.
Mas o dia a dia e o pulsar imparável dos dias e dos espaços não permitia a alguém pensar em mais do que em manter a possibilidade de ir pagando despesas. Nem o mundo que hoje percebemos não se encontrar a si mesmo, mas antes ir desabando à nossa volta, envolto em mentiras e meia-verdades, se podia dar conta do tempo que o Mundo perdeu...
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