O Exemplo do Ouriço e a Condição de ser Raposa
"A Raposa sabe muitas coisas, mas o Ouriço sabe uma coisa importante". Não sei se esta é a mais fidedigna tradução da frase atribuída a Arquíloco, poeta grego da mesma Antiguidade agora menosprezada pelos 'centro-europeus'. A Grécia que nos deu o início da nossa cultura, escrita e prazer pelo pensamento. O prazer simples e imenso de se ser Humano. Essa mesma Grécia agora vilipendiada, desprezada ou ofendida, tratada como um 'resíduo' da Europa, em urgência de reciclagem.
A Raposa, pela interpretação de muitos os que se têm dedicado a tentar perceber esta analogia, está para a vida como muitos de nós, vivendo em várias frentes, usando de recursos variados, de 'artimanhas' (se atendermos à ideia parva, pueril, que temos de uma raposa) várias, de ardis ou de artes, ou ainda melhor, segundo Howard Gardner, teórico da Múltiplas Inteligência, usando de recursos intelectuais múltiplos, para, numa lógica mais de sobrevivência, porventura, do que de vivência efectiva e determinada e decidida, se manter tanto quanto puder, no controlo das situações. A Raposa, que somos, pode até parecer mais eficiente, mais apetrechada, e mais consequente, intelectualmente superior, do que o defensivo Ouriço, outros de nós.
Mas o Ouriço sabe uma coisa, na sua atitude tida como defensiva, que à Raposa, causa imensos problemas, e a impede de atingir o seu objectivo. Essa simples forma de ser, essa determinada, ainda que passiva, ou não, se é o seu melhor (e único recurso), faz com que por ele passem todas as Raposas e, afinal, a sobrevivência fica com ele, Ouriço simples e aparentemente menos apetrechado.
Os conhecimentos actuais sobre o nosso cérebro, segundo alguns neurocientistas ainda muito na pré-história da ciência, permitem-nos saber que os dois hemisférios cerebrais têm formas distintas de funcionar e de nos fazer funcionar a nós. O lado esquerdo é sequencial, esquemático e analisador. O direito dá-nos a visão geral de conjunto, uma imagem instantânea do que vemos, uma ideia, erradamente superficial, mas um reconhecimento do mundo, distinto, mas igualmente revelador, e determinante.
O lado esquerdo será a 'Raposa', o direito o Ouriço. Múltiplas análises são 'apanágio' do nosso hemisfério esquerdo, e a síntese é o terreno, a praia, do hemisfério direito. A nossa interpretação do mundo, dos acontecimentos, é, como facilmente se imagina, uma boa mistura da actividade dos dois hemisférios cerebrais. Mas pode haver um desenvolvimento desigual de um em ralação ao outro, podemos ser todos influenciados por esse funcionalismo desigual, e até há quem distinga os sexos, pelo desequilíbrio, entre homens e mulheres, por essa via. Mas estas são interpretações empíricas e provavelmente especulativas até.
O nosso lado esquerdo (não político, esse...duvido que exista...) relaciona-se com a linguagem, com a escrita, que na maioria das línguas se constrói da esquerda para a direita, e, tal como os movimentos (se levantamos o braço direito a 'ordem' veio do lado esquerdo do cérebro, se ao contrário, for o esquerdo que levantamos, a instrução vem do hemisfério direito. Por aqui podem entreter-se os téoricos e os defensores das 'esquerdas e direitas nas políticas...). Nos idiomas e escritas em que os textos de elaboram da direita para a esquerda, as coisas serão mais complexas, pois as instruções cerebrais vêm do lado oposto ao dos idiomas de origem 'ocidental', tal como o hebraico e o árabe. Mas a elaboração sequencial das palavras virá do mesmo lado do cérebro de onde vêm para o caso de escritas esquerda-direita.
Interessante esta análise...
Há muitas formas de analisar e interpretar o nosso mundo por estas 'dualidade-em conjunção'. A interpretação da matemática, por exemplo, é mais uma tarefa do hemisfério esquerdo, do que do direito. Tal como a escrita. O nosso 'lado Raposa' é o lado analítico, e durante demasiado tempo foi tido como o 'racional' o lado da autêntica inteligência. O lado direito responde mais a uma análise do todo, a interpretação de uma imagem, de um rosto (a simples percepção do estado de 'alma', do estado emocional de uma pessoa, e a sua compreensão), de uma pintura, de um objecto (identificar uma jarra e distingui-la de um livro ou de um automóvel, é uma função do lado direito do cérebro, e uma percepção instantânea, por sua vez associada a um 'banco de dados' cerebrais, um histórico, um resultado de experiências vividas). Talvez erradamente, mas ainda assim razão de sobra para uma reflexão, o lado direito foi muitas vezes associado ao lado feminino da humanidade, na sua capacidade de percepção imediata do todo, talvez, exagerando, no que pode significar o 'sexto sentido' das mulheres'. As mais actuais descobertas da importância da parte emocional da nossa intelectualidade, podem ainda associar-se ao lado direito, mais do que ao esquerdo, do nosso complexo e fantástico cérebro. Mas ainda são conjecturas, talvez, grande parte destas análises....
Muitas pessoas continuam ao dia de hoje a defender uma (pseudo) racionalidade com base nas capacidades de análise das partes atribuídas ao nosso hemisfério esquerdo. E defendem-no como vantagem e genuína superioridade, o que é uma infeliz interpretação dos humanos, das suas capacidades e potencialidades, através do qual se fazem erros grosseiros e muito graves. Com base nisso se elaboram programas e exames na Educação, avaliações psicológicas, avaliações profissionais. E análises e avaliações interpessoais. Pena é estarmos ainda na idade média das neurociências, segundo alguns, ou talvez no Barroco.
A exigência que se coloca a outras pessoas, a título pessoal, amistoso ou sentimental, peca, frequentemente pelo mesmo princípio e erro grosseiro.
Quanto erros se cometeram durante a história da Humanidade, pelas erradas análises efectuadas? Quantas análises mal efectuadas sobre as pessoas que conhecemos?
E quanta falta de capacidade de entendermos tanta gente de valor, considerada de valor menor, ou mesmo personagens inscritas na História, que foram mal entendidas? E sobre os valores defendidos por tanta e tanta gente?
Tanta gente já defendeu valores de Liberdade de emancipação das pessoas, de respeito pelos outros e pela Diferença e afinal ainda hoje se tem de lutar, e ingloriamente, pelos mesmos valores.
Hoje, vejo o Mundo, se não com mais injustiça e desigualdade, com os mesmos problemas sobre esses valores, que já foram alvo de Lutas e Revoluções, mas talvez se viva um tempo de menos energia e capacidade, de menos sentido de necessidade e urgência que outrora outros viveram.
Há três anos alguns amigos estavam confiantes de que a crise financeira iria inevitavelmente desembocar em mais justiça, menos corrupção e mais igualdade. As análises e elaborações mentais, hoje conhecidos em maior profundidade as características e capacidades do Cérebro Humano, deviam ter-nos conduzido a espaços sociais mais justos, a discernimentos mais visionários, a um ...Mundo Melhor.
E vejo...o contrário!
Que se entendam Raposas e Ouriços, por uma Vez!
(e ainda falta a outra 'bicharada' toda que nem sei bem onde se encaixa...)
A Raposa, pela interpretação de muitos os que se têm dedicado a tentar perceber esta analogia, está para a vida como muitos de nós, vivendo em várias frentes, usando de recursos variados, de 'artimanhas' (se atendermos à ideia parva, pueril, que temos de uma raposa) várias, de ardis ou de artes, ou ainda melhor, segundo Howard Gardner, teórico da Múltiplas Inteligência, usando de recursos intelectuais múltiplos, para, numa lógica mais de sobrevivência, porventura, do que de vivência efectiva e determinada e decidida, se manter tanto quanto puder, no controlo das situações. A Raposa, que somos, pode até parecer mais eficiente, mais apetrechada, e mais consequente, intelectualmente superior, do que o defensivo Ouriço, outros de nós.
Mas o Ouriço sabe uma coisa, na sua atitude tida como defensiva, que à Raposa, causa imensos problemas, e a impede de atingir o seu objectivo. Essa simples forma de ser, essa determinada, ainda que passiva, ou não, se é o seu melhor (e único recurso), faz com que por ele passem todas as Raposas e, afinal, a sobrevivência fica com ele, Ouriço simples e aparentemente menos apetrechado.
Os conhecimentos actuais sobre o nosso cérebro, segundo alguns neurocientistas ainda muito na pré-história da ciência, permitem-nos saber que os dois hemisférios cerebrais têm formas distintas de funcionar e de nos fazer funcionar a nós. O lado esquerdo é sequencial, esquemático e analisador. O direito dá-nos a visão geral de conjunto, uma imagem instantânea do que vemos, uma ideia, erradamente superficial, mas um reconhecimento do mundo, distinto, mas igualmente revelador, e determinante.
O lado esquerdo será a 'Raposa', o direito o Ouriço. Múltiplas análises são 'apanágio' do nosso hemisfério esquerdo, e a síntese é o terreno, a praia, do hemisfério direito. A nossa interpretação do mundo, dos acontecimentos, é, como facilmente se imagina, uma boa mistura da actividade dos dois hemisférios cerebrais. Mas pode haver um desenvolvimento desigual de um em ralação ao outro, podemos ser todos influenciados por esse funcionalismo desigual, e até há quem distinga os sexos, pelo desequilíbrio, entre homens e mulheres, por essa via. Mas estas são interpretações empíricas e provavelmente especulativas até.
O nosso lado esquerdo (não político, esse...duvido que exista...) relaciona-se com a linguagem, com a escrita, que na maioria das línguas se constrói da esquerda para a direita, e, tal como os movimentos (se levantamos o braço direito a 'ordem' veio do lado esquerdo do cérebro, se ao contrário, for o esquerdo que levantamos, a instrução vem do hemisfério direito. Por aqui podem entreter-se os téoricos e os defensores das 'esquerdas e direitas nas políticas...). Nos idiomas e escritas em que os textos de elaboram da direita para a esquerda, as coisas serão mais complexas, pois as instruções cerebrais vêm do lado oposto ao dos idiomas de origem 'ocidental', tal como o hebraico e o árabe. Mas a elaboração sequencial das palavras virá do mesmo lado do cérebro de onde vêm para o caso de escritas esquerda-direita.
Interessante esta análise...
Há muitas formas de analisar e interpretar o nosso mundo por estas 'dualidade-em conjunção'. A interpretação da matemática, por exemplo, é mais uma tarefa do hemisfério esquerdo, do que do direito. Tal como a escrita. O nosso 'lado Raposa' é o lado analítico, e durante demasiado tempo foi tido como o 'racional' o lado da autêntica inteligência. O lado direito responde mais a uma análise do todo, a interpretação de uma imagem, de um rosto (a simples percepção do estado de 'alma', do estado emocional de uma pessoa, e a sua compreensão), de uma pintura, de um objecto (identificar uma jarra e distingui-la de um livro ou de um automóvel, é uma função do lado direito do cérebro, e uma percepção instantânea, por sua vez associada a um 'banco de dados' cerebrais, um histórico, um resultado de experiências vividas). Talvez erradamente, mas ainda assim razão de sobra para uma reflexão, o lado direito foi muitas vezes associado ao lado feminino da humanidade, na sua capacidade de percepção imediata do todo, talvez, exagerando, no que pode significar o 'sexto sentido' das mulheres'. As mais actuais descobertas da importância da parte emocional da nossa intelectualidade, podem ainda associar-se ao lado direito, mais do que ao esquerdo, do nosso complexo e fantástico cérebro. Mas ainda são conjecturas, talvez, grande parte destas análises....
Muitas pessoas continuam ao dia de hoje a defender uma (pseudo) racionalidade com base nas capacidades de análise das partes atribuídas ao nosso hemisfério esquerdo. E defendem-no como vantagem e genuína superioridade, o que é uma infeliz interpretação dos humanos, das suas capacidades e potencialidades, através do qual se fazem erros grosseiros e muito graves. Com base nisso se elaboram programas e exames na Educação, avaliações psicológicas, avaliações profissionais. E análises e avaliações interpessoais. Pena é estarmos ainda na idade média das neurociências, segundo alguns, ou talvez no Barroco.
A exigência que se coloca a outras pessoas, a título pessoal, amistoso ou sentimental, peca, frequentemente pelo mesmo princípio e erro grosseiro.
Quanto erros se cometeram durante a história da Humanidade, pelas erradas análises efectuadas? Quantas análises mal efectuadas sobre as pessoas que conhecemos?
E quanta falta de capacidade de entendermos tanta gente de valor, considerada de valor menor, ou mesmo personagens inscritas na História, que foram mal entendidas? E sobre os valores defendidos por tanta e tanta gente?
Tanta gente já defendeu valores de Liberdade de emancipação das pessoas, de respeito pelos outros e pela Diferença e afinal ainda hoje se tem de lutar, e ingloriamente, pelos mesmos valores.
Hoje, vejo o Mundo, se não com mais injustiça e desigualdade, com os mesmos problemas sobre esses valores, que já foram alvo de Lutas e Revoluções, mas talvez se viva um tempo de menos energia e capacidade, de menos sentido de necessidade e urgência que outrora outros viveram.
Há três anos alguns amigos estavam confiantes de que a crise financeira iria inevitavelmente desembocar em mais justiça, menos corrupção e mais igualdade. As análises e elaborações mentais, hoje conhecidos em maior profundidade as características e capacidades do Cérebro Humano, deviam ter-nos conduzido a espaços sociais mais justos, a discernimentos mais visionários, a um ...Mundo Melhor.
E vejo...o contrário!
Que se entendam Raposas e Ouriços, por uma Vez!
(e ainda falta a outra 'bicharada' toda que nem sei bem onde se encaixa...)
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