A Raiva e a Esperança
Vim há muitos anos da Madeira. Há mais anos do
que muitos jovens quadros que agora se indignam e com razão, têm de vida. Mas
não sou, nem conto ser dos que defendem a idade com um privilégio de
conhecimento ou experiência (há imensa gente bem mais idosa que tem metade da
experiência de muitos com um terço da sua idade). Quando vim, para estudar, há
uns 32 anos, acreditava num futuro, que passaria pela minha formação, feita a
esforço meu e da minha família. Ou de parte dela. O meu avô era um comerciante
muito conhecido na minha terra, assim como a minha família, mas o meu pai,
funcionário do então Serviço Meteorológico era quem me pagava a Faculdade. Um
ano antes de ter vindo para Lisboa, para Agronomia, estive no Porto, a tentar
seguir o sonho de um dia ser cientista, na área da Física, a minha paixão da
altura. Tendo vivido o 25 de Abril de 1974, com 14 anos, e saído nas
manifestações do 1º de Maio desse ano e anos seguintes, ao lado de um professor
que foi o líder na minha região da UDP durante uns bons anos, mas nunca tendo
sido simpatizante do Comunismo, fui sempre acompanhando a vida política e
social de Portugal. Assim, ao sonho de eu próprio vir a ser melhor, melhor do
que aqueles que me queriam melhor do que eles porque em mim apostaram, os meus
queridos pais e avós, juntava o sonho de vir a viver num país onde à História
antiga se juntaria um dia a prosperidade e onde deixaria de ver miséria e
desilusão.
Durante todos estes anos, os 32 em que iniciei
a minha vida independente, fora da casa de família a aprender por mim mesmo a
organização dos meus dias e da minha vida, e os 38 desde 1974, tenho, como
todos, ou uma grande maioria dos portugueses, os que sempre souberam manter-se
independentes e livres como pessoas, não os que se deixaram levar pela
organizações partidárias e de tal modo se encarneiraram que ficaram incapazes
de ver a realidade, mesmo bem à sua frente, tenho, dizia, renovado a esperança
e enfraquecido a confiança. No futuro do meu país.
Vivi os anos de Cavaco Silva após o desgoverno
interesseiro de Soares, quando os interesses pessoais da família Soares se
sobrepunham a tudo o resto, e os dos amigos e apaniguados da tenebrosa
Maçonaria, também com essa mesma esperança. De vir a trabalhar num país como
via outros lá fora. Terminado o meu curso, tive a grande sorte de entrar numa
grande multinacional da química, alemã, que foi a minha imensa escola
profissional desde sempre. Quando por cá encerraram actividades, de que nada
transpirou para os jornais, ingressei numa empresa portuguesa, uma das maiores
no sector em que operava, hoje falida pelo que sei, e o meu vencimento subiu
ainda mais do que era, e já o era bem acima da média para quem tinha a minha
idade. O projecto não resultou e fui dar comigo numa empresa saída do grupo
Quimigal, que havia sido vendida pelo Governo de Cavaco, num dos exemplos de
grandes erros do que actualmente é Presidente da República. Mas erros todos
fazem...
Os anos de Guterres, os primeiros da forte
ilusão socialista foram os do início do fim do sonho português, para mim. Na
altura já eu o dizia a quem tinha paciência para me ouvir. A política, que eu
vinha acompanhando desde 74, era para mim uma segunda paixão, nunca totalmente
assumida, e nunca até hoje tornada carreira, e eu empolgava-me na defesa de
ideais e de estratégias. Durante os anos em que andei nessa grande empresa
alemã, vivi momentos de autêntico privilégio, conhecendo muitos países e
gentes, que me ensinaram quase tanto (ou mais?) do que os meus livros (esta sim
sempre a minha paixão e colecção de estimação). Com tudo o que via, ouvia e
vivia ia criando a imagem do que ansiava para mim, para os meus e para o meu
país. E o sonho assim continuava...
Dessa empresa, a terceira, passei por opção
minha a uma outra multinacional, onde já não auferia o que noutros tempos me
dava uma qualidade de vida acima da média e o acesso à cultura e à minha
constante formação pessoal, que nunca deixei de ir estruturando. Sempre fiz o
meu próprio esforço pessoal de evolução, de conhecimentos, multiplicando-me por
diversas áreas e actividades, lendo, pintando, fazendo fotografia...e sempre
participando, como cidadão anónimo, escrevendo por todo o lado, e nas tertúlias
com amigos ou família, no que eu acreditava ser a forma de silenciosamente se
ir contribuindo para este Portugal. Para o meu país do Sol e do Mar!
Vieram os tempos desvairados e irresponsáveis
de Durão Barroso e de Santana Lopes, e de Jorge Sampaio, esse ‘dandy’
enganador. Quando Sampaio demitiu Santana, cometeu o primeiro grande crime da
Democracia, com intenção clara, que muitos não conseguiram ver, de levar o PS e
o inenarrável Sócrates ao Poder. Santana não nos levaria a lugar nenhum onde
quiséssemos estar, é certo. Mas substitui-lo por um homem que tudo inventou,
tudo falsificou e tudo fez para seu enriquecimento pessoal e da sua família,
usando o Estado a seu bel-prazer, usando os recursos que não tínhamos,
endividando o país como nunca desde a sua Fundação acontecera...e tentando
manipular toda uma sociedade, com o beneplácito de jornais amigos, ou jornais
onde Soares andara anos a colocar amigos, mais os Serviços Secretos e os Juízes
manipulados...foi demais! O PS usou durante esses anos o país a seu bel-prazer,
usou e abusou. Fez do país o seu quintal. E falou alto, como se dono da razão.
Hoje ainda os oiço por aí, convictos de uma razão que nunca tivera, cegos por
uma lógica de clube, que não são capazes de destrinçar da lógica política, dos
Partidos, onde por mais disciplina partidária que se pretenda e defenda, se
deve manter uma margem e uma réstia de liberdade e pensamento próprio e
independente, e nunca se entregar a um indivíduo que tudo inventou, incluindo
os cursos que nunca fez, nenhum, a formação que nunca teve e o título que
exigia que o tratassem, que nunca teve direito a usar. Já Portugal estava numa
crise profunda e bem evidente, com grande parte da actividade económica a
parar, com retenção de verbas da UE pelo Governo, para mascarar quanto podia um
défice enorme, de mais de 6%, mas sempre propagadeado como de 3 %...uma
retenção de subsídios, que me custou o emprego em 2008, por paralisação do
sector em que a minha empresa operava. Eu viajava por todo o país, conhecendo
os problemas que muitos hoje falam, e não apenas no meu sector. No sector das
energias renováveis, por exemplo, onde uma mentira descomunal dava créditos a
esse bandido do Sócrates, no sector dos combustíveis dito ‘limpos’, os
bio-qualquer coisa...
Esses foram anos de muita resistência, de
muita persistência, de muita paciência para aguentar com toda a mentira montada
pelo PS e por Sócrates e Pedro Silva Pereira...e mais uns quantos. Anos em que
se viveu, nesses sim, por culpa de um Governo de loucos irresponsáveis, a maior
ilusão da nossa história, e que ainda hoje iludem tanta gente, principalmente os
mais idosos, sedentos de uma lógica clubística, cegos ao interesse nacional,
privilegiando um Partido que não merece. Um Partido que enganou os mesmos que,
quando este maldito programa da Troika começou, em 2011, se revoltaram logo
contra tudo e todo e qualquer sacrifício, pessoal, pois só lhes interessa o
pessoal, mesmo que constantemente falem do colectivo. Ouvi e tenho ouvido de
tudo. Que os jovens são os mais desfavorecidos, que os reformados são os mais
miseráveis...(ainda ontem me cruzei com um, que foi meu professor na
Universidade, e que foi consultor da UE, e deve auferir uns largos milhares de
Reforma...comparados com os Zero que eu aufiro, desempregado aos 52 anos).
Tenho ouvido de tudo, com o mesmo espírito e
atitude. Acreditando que um dia as coisa mudam. Privadamente, tenho por vezes
umas explosões de desilusão de raiva. Pouco a pouco se foi formando, porém
outra ideia. A de que estou cansado de que me ofendam e a outros como eu,
muitos e muitos bem pior do que eu. Eu ainda sou um desempregado privilegiado.
Muitos, umas largas dezenas de milhar, são uns autênticos desprezados,
esquecidos por todos, de quem nunca se fala, por quem ninguém se interessa.
Esses, desempregados que contribuíram bem
mais, durante muitos anos, para o Estado e para as suas própria reformas, que
as terão miseráveis (porque a geração de Soares e Sampaio, Cavaco e Vitor
Ramalho e outros só pretenderam assegurar para si mesmos as reformas por
inteiro, sabendo bem da falência futura do sistema e encolhendo os ombros, olhando
para o lado, sentindo-se pais da nação, do alto da sua estupidez e
desonestidade) são muitos deles os quadros mais bem formados do País. Vivem do
que amigos e família lhes conseguem arranjar. E desses, ninguém fala, ainda
hoje.
Mas quando em 2011, Sócrates desapareceu da
vida pública, e se refugiou em França, com rendimentos milionários, que o PS e
a Maçonaria instalados no Poder Judicial nunca permitirão que se lhes toque, e,
como se esperava o Governo mudou de cores, esperava-se também que mudasse de atitude,
de forma de actuar, de postura e de honestidade. Aos poucos se foram sabendo
podres e vergonhas de todo o lado, e não apenas do anterior Governo, que já
sabemos de mentirosos e corruptos, mas também das ligações maçónicas, secretas,
com agendas ocultas e perversas, de muitos membros do PSD. E de muitos
negócios, igualmente mafiosos e criminosos de pessoas ligadas aos Partidos
deste Governo. Se isso não fora já o suficiente, e de sobra para desejarmos
leva-los a serem julgados, ainda nos vieram tirar o que já não podíamos dar. E
dar a quem? A um Estado que nada fez por nós, nada fez por merecer?
Revoltante, desilusão acrescida, outra ainda,
é continuar a ouvir falar de nacionalizações, da defesa de empresas do Estado,
do ‘sector empresarial do Estado’, quando nunca houve uma só onde os seus
administradores e directores não tivessem outro objectivo que o de se
‘amanharem’ com os recursos e dinheiros públicos, que não fosse usarem de uma
arrogância imerecida, para mostrarem uma superioridade que não têm, e
determinarem nas nossas vidas mais uns quantos buracos negros nas finanças de
cada família e do país em geral. Defenderem mais empresas para o Estado, quando
foram essas que contribuíram mais para nos trazer até onde estamos? Defenderem
mais formas de promiscuidade entre o Estado e os privados, mais corrupção e
mais compadrio?
O Governo anterior ofendeu-me como português,
com os roubos e mentiras e com a imposição de um Acordo Ortográfico que é um
favor às editoras que dominam o nosso mercado de livros, escolares,
principalmente. Um Acordo que terá de retroceder e ser revogado, nem que para
tal corra sangue pelas ruas. Um Governo não tem o direito de nos dizer como
devemos escrever e se, para alguns isso é irrelevante, para mim que adoro o
conhecimento e a cultura, a evolução pessoal e a liberdade de cada um, é causa
maior!
Mas o Governo actual não ofende menos, nem
desilude menos. Há claramente uma agenda liberal por trás de gente que se
esconde num Partido outrora de inspiração social-democrata. E isso é
inaceitável, porque é um logro e uma mentira. Quem escolhe um PSD não escolhe
uma política liberal, pelo menos a generalidade das pessoas. António Borges,
antes considerado uma promessa para horas de maiores problemas e necessidades
extremas, é hoje uma enorme desilusão, e uma ofensa maior, quando defende
salários mais baixos no geral.
Oiço um pouco de Passos Coelho, na TV, apenas
um pouco porque já aguento com mais estupidez e incompetência, e agora mentira
também - já não me bastara o filho da ...do Sócrates! – e, como se ele
percebesse do que fala, as suas palavras, entre tanto disparate, são as de que
temos de ter preços mais baixos...tentando justificar, assim, salários mais
baixos. Se algum dia ele tivesse sido um homem do Marketing, dos Negócios e
tivesse tido o privilégio, como eu, de trabalhar num ambiente internacional,
perceberia que o nosso caminho é o inverso do que defende: de preços mais altos
do que a Espanha, de salários bem mais altos. Porque somos um mercado diminuto,
de dez milhões de desgraçados, e um país de serviços, e não industrial como
Espanha. A nosso comparação nunca podia ter sido, e tem-no, a Espanha, mas sim
a Suíça, com as diferenças devidas, não pela cultura e desenvolvimento pessoa e
social, que muito contam e determinam, mas pela periferia que somos na Europa.
Periferia que se resolve, com o Mar...! E com o facto de sermos de Serviços, há
muitos anos, e não de Indústria (talvez infelizmente).
Então, passados todos estes anos, e tudo o que
atrás descrevi e opinei, e mais, muito mais que não cabe aqui agora, por razões
práticas, cheguei finalmente, infelizmente não sozinho, a definitiva e viral
desilusão: não há ninguém, no Poder que se conhece, nas organizações que
sabemos, capaz, de momento, de tomar conta deste Portugal, de lhe dar uma
volta, de conseguir justificar o sacrifício já feito (e recordo que não é do
ano passado e deste ano apenas, mas de todos os 38 da Democracia, e muito mais,
dos 48 da Ditadura!), para que possamos voltar a acreditar Num Futuro!
Não sei se irei à Manifestação do próximo
Sábado dia 15, em Lisboa. A vontade era de ir, mas não me vejo aos 52 anos a
gritar, sei lá o quê, que não sei o que há para gritar. Não sei mesmo. Deixei
de saber. Ou talvez saiba: sei que o Regime já não interessa! Que nada do que
vejo me interessa e, estou convicto, do que o geral dos portugueses vêem, nos
interessa. A Assembleia da República não tem qualquer interesse. De um lado,
dois Partidos, comprometidos como todos os demais, com a corrupção, o interesse
partidário e pessoal, as redes de influências, as organizações pró-maçónicas or
pró-Opus Dei, ou pró-igreja católica, o que é o mesmo perigo e mesma m...*. O
lado dos Partidos do actual Governo. Incompetentes, igualmente mentirosos e
desonestos, como os do ‘outro lado’. Desse outro lado, os Partidos grandemente
responsáveis por esta trapalhada toda, por esta imensa calamidade, por esta
pré-bancarrota (que ainda a pode ser...): PS, PCP e BE. Um, porque o foi
responsável, primeiro, no Governo. Os outros, porque andam há anos demais a
minar a Democracia, a desprotegê-la, a invenená-la, a armadilha-la, sempre com
o fito secreto de um dia nos darem mais uma ditadura, como a da Coreia do
Norte, que dizem defender, ou da Síria que publicamente apoiaram, ou mesmo da
Rússia e da China, que sempre defenderam e adoram.
O Governo, tal como é, com esta gente idiota e
incompetente, desorientada, com um Relva à imagem e cópia de um Sócrates, com
um infantil Passos Coelho e um teórico insensível Gaspar...não interessa mais,
e não imagina sequer, como irá descalçar a bota que nos quis impingir, e como o
poderemos suportar sem...
O Presidente da República, também comprometido
com um passado nem sempre transparente e com erros acumulados, talvez não tão
perdoáveis, quanto poderíamos, que continua inactivo, silencioso, e impávido,
mas obviamente sem forma alguma de dar uma real volta a esta desgraça e
descrédito total.
Nenhum Partido nos merece o mínimo de
credibilidade, ou respeito. Por isso, nenhum crédito. E uma Democracia
alicerçada em Partidos, representativa, como pode continuar, num caos destes?
Percorri anos de grande euforia, profissional,
de grande esperança de sonhos enormes, mas não de sonhos de enriquecimento
pessoal, mas de viver bem e melhorar-me a cada ano, a cada dia, com os prazeres
e egoísmos atrás mencionados, nas minhas horas, lendo e escrevendo,
e...acreditando. Percorri anos a bater-me pelo interesse que todos tínhamos em
participar na vida do País e em confiarmos um pouco em alguém. Convicto das más
intenções e mentiras de um PS, sempre fui, por me saber democrata, respeitando
todos os que pensam e falam diferente de mim. E sempre lutei pela minha
independência e liberdade intelectual, nunca me vendendo a líderes ou
organizações.
Dou por mim, já sem saber se me é possível,
aos 52, com vontade de deixar tudo para trás, e continuando a lutar pelo
contrário, pela permanência por cá, com três filhos e uma uma mulher que amo.
Dou por mim, desiludido, com a própria Democracia, nunca tendo deixado alguma
margem a qualquer forma de totalitarismo ou autocracia.
Hoje, mais do que nunca, acredito que só uma
enorme convulsão e transfiguração social e política, uma Revolução mesmo,
dariam a Portugal, possivelmente, um novo rumo, desde que renegados e
investigados e eventualmente julgados todos os que nos deram esta calamidade.
Mesmo que hoje alguns já tenham oitenta anos...
Tenho apenas uma ténue esperança, no dia de
hoje. Que se esteja a iniciar um genuíno movimento social, talvez já no próximo
Sábado 15, que faça Portugal despertar. Que sejam rejeitados estes programas e
estas medidas da Troika, do Governo, e igualmente rejeitadas qualquer solução
ou proposta vinda de quem anteriormente nos governou e deixou assim falidos.
Como há muito perdi a ingenuidade, sei que haverá aproveitamentos, se não foi
deles a iniciativa, sobre as manifestações de dia 15, por parte do PCP, do BE e
do PS. Mas a nenhum deles deve ser permitida a orientação, seja para o que for,
ou a liderança, ou qualquer influência. Se qualquer manipulação houver, da
parte de algum Partido político, os movimentos sociais perdem interesse e
perdem credibilidade. Porque uns são do ‘arco da governação’, outros não são
democráticos e defendem ditaduras.
Hoje, por hoje, mantenho essa diminuta
esperança...
E guardo em mim uma imensa RAIVA, contida, de
momento.
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