Europa
Nos últimos tempos só se escreve e só se lê sobre a Europa. Mas, na realidade, para quem vive num país europeu, seja um como o nosso, que depende das decisões de outros, eufemismo para se dizer, do dinheiro de quem o tem, seja um dos países com boa saúde económica, financeira e social, o 'Tema', o fulcro do nosso futuro próximo, de médio prazo e mesmo longo, passa pelas decisões actuais e próximas, sobre a Europa.
Sobre a Economia e as Finanças europeias, mas também sobre as políticas sociais, e de outras que pouco têm sido aludidas, ultimamente: política agrícola, educativa e de saúde. Umas políticas por estarem no centro da Crise actual, outras por sofrerem consequências das de 'charneira', ou centrais. Sobre a capacidade dos actuais políticos dos diversos países do Eurogrupo, e sobre a liderança da Europa, também se tem escrito e falado, em privado e em público. Os problemas nacionais, as crises financeiras e económicas de cada país, parecem perder importância no contexto global europeu, ainda que os políticos da União Europeia não façam mais, até ao momento do que se comportar como políticos de um Estado Membro, em reunião e contexto europeu, ao invés de serem políticos europeus, a tentar resolver o problema da União e, concomitantemente, de cada Estado.
Mas a verdade é que faltam neste 'xadrez' outros dados e mais competências. Fez-se uma União monetária, ainda nem suficientemente alargada, sem se ter feito a União Económica, mesmo que esse fosse, desde sempre, o mote da criação da União. Irónico, ridículo ou apenas estúpido, que um conjunto de países que se congregaram para criar um Mercado Comum, ou vários mercados, sectoriais, mas comuns não tenha ainda logrado criar uma União económica efectiva e, mais, eficiente.
Uma Europa que se ufana dos seus pergaminhos, da sua superioridade cultural, que se motiva a criticar os modelos sociais e económicos dos outros 'blocos' mundiais, como os EUA, a América no seu conjunto, os países asiáticos e o Japão de per si, ainda não conseguiu e, receio, ou melhor, tenho a certeza e assusta-me que assim seja, não sabe mesmo como fazer, e, pior ainda mais um pouco, pensa poder fazer tudo isto apenas com combinações e planos, acordos e tratados congeminados entre dois, ou três dos seus Membros.
Para além do problema da efectivação da União Económica, para a qual alguns consideram essencial a União política, uma Federação ou algo próximo disso, ou mais ou menos isso, mas talvez não o seja, ainda temos o problema da substituição dos actuais agentes políticos por gente que seja de facto inteligente (isso mesmo, inteligente), políticos com mais vontade de o serem do que de o 'usarem'. Políticos com capacidade de pensar 'de novo', pouco agarrados a preconceitos, sociais, nacionais, culturais, excepto o de acreditarem numa Cultura Europeia e, já agora, entre outras coisas menores, de se deixarem de imitações de culturas e economias, americanas ou asiáticas. Políticos que acreditem que o equilíbrio das várias economias é tão importante, ou bem mais do que o imenso desenvolvimento de umas poucas, comparado com o desenvolvimento incipiente de outras, como a de Portugal. Desenvolvimentos a duas, a três velocidades, como é jargão dizer-se, nunca conduzirão a uma União Europeia sólida, saudável e preparada para futuras crises.
Imaginemos então, que um dia, talvez ainda distante, mais distante do que seria conveniente, a União Económica será uma realidade. Como pensam estes actuais políticos que a podem fazer? Com uma liderança Germano-francesa? Com uma liderança dos mais ricos, que implique uma subserviência, incondicional dos mais pobres? Parece lógico. Mas digo-vos que nunca funcionará. E já nem me interrogo sobre o ser positivo, ou mais positivo do que negativo que no futuro próximo sejamos todos mais germânicos, mesmo continuando a comer o 'cozido' e as 'tripas à moda do Porto', e os doces conventuais, a desprezar as ruas e a suja-las, a termos o mesmo comportamento selvagens nos cruzamentos e rotundas. Numa época em que já não sabemos se é mais possível perder-se uma boa parte da 'identidade nacional', como julgam alguns, e de que não estou certo se já não perdemos, todos os dias, desde há mais de oitocentos anos, ao mesmo tempo que a construímos, talvez abdicar de 'soberania', para vivermos melhor, ou apenas sobrevivermos...seja a melhor, se não a única, solução. E não falo de nós portugueses apenas, porque estou certo de espanhóis imaginam nunca irem abdicar da sua forma de ser...e italianos, franceses e mesmo os intrépidos ingleses, também.
Mas essa União económica efectiva, com ou sem Governo Económico, ou mesmo Federação, não será saudável, sólida e estável, sem o real desenvolvimento e enriquecimento, por moldes distintos do processo novo-riquista que temos vivido, de forma sustentada e realista, dos países mais pobres, os do Sul. Impossível. Caso contrário as crises sobrevirão, os desequilíbrios e as 'lições' e arrogâncias dos mais ricos sobre os mais pobres, que são o menos, se comparado com o problema da crise real em si. Não resolvido este problema, de alemães nos considerarem 'chineses da europa', se continuarem neste 'equilíbrio instável' de termos de ser mais pobres, para eles serem mais ricos, nunca o espaço europeu será uma União, pelo menos com saúde económico-financeira.
E os políticos dos 'mais ricos' não têm mostrado superioridade alguma. Mas comparar diferenças como a de uma empresa portuguesa que para se financiar, quando ainda podia, contrair crédito a seis ou sete por cento, e uma alemã a dois por cento...explica boa parte da 'superioridade' alemã. Tal como explicam os juros que actualmente pagam alemães e portugueses, porque, para os 'mercados', que funcionam na lógica clássica do sistema financeiro, mas que agora deviam repensar, pelo incumprimento da Grécia, quem mostra mais garantia de poder pagar deve pagar menos pelo dinheiro. E esta lógica está em tudo. Até em termos caseiros, quando há incumprimento de pagamento de prestações, os bancos cobram, de forma legal e europeia, mais de 24%, asfixiando mais os devedores e diminuindo as possibilidades de pagarem. Porque analisam o incumprimento, como a má vontade em o fazer e não a dificuldade ou impossibilidade. E assim, também, funcionam os mercados das dívidas soberanas. Má lógica, que vai fazer recuar blocos económicos (EUA incluídos, claro!) e a economia mundial no seu todo. Garantir o pagamento dos que têm dificuldade, independentemente da razão por que a têm, devia ser a tónica dos 'mercados', mas são demasiado 'germânicos' para o entenderem...
Veremos o que nos dão ainda estes políticos menores que nos lideram na Europa, e os que os pretendem substituir, que em nada são melhores. Mas para já, acredito muito pouco nas boas soluções.
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