A importância de se ser Livre

No correr dos dias, mais ou menos integrados num grupo, em sociedade, no convívio em ambiente de trabalho ou em família, o mais normal é todos e cada um de nós se deixar levar numa corrente, numa espécie de abraço protector dos grupos em que os outros, nossos mais chegados se inserem. Pais, irmãos, tios, avós, amigos ou colegas, com as suas próprias pertenças a um ou mais grupos, influenciam-nos, com maior ou menos impacte e poder de dissuasão, e, assim nos fazem também inserir nesses grupos, onde nos deixamos ficar, por muitos anos, se não por uma vida.

Os grupos com maior poder de dissuasão e maior coesão, que nos captam por mais e decisivo tempo são em primeiro a religião, o clube desportivo e, finalmente, o Partido político. Pode-se não ser praticante da religião a que nos sentimos pertencer, pode-se andar anos um tanto ‘desavindos’, para usar um termo a gosto de algumas religiões, mas nunca, ou raramente, apenas com um esforço sério, consciente e sério, ou não, convicto e com bases sólidas ou nem tanto, se sai verdadeiramente do ‘grupo’, do colectivo religioso, a que, ironicamente, alguém escolher por nós que pertencêssemos. Por vezes sai-se de uma religião, crença, ou culto e entra-se noutro, em substituição, total, ou parcial, do original dos nossos progenitores. E raramente nos interrogamos porquê. E quando o fazemos, não encaramos a sério a hipótese de deixar a crença, ou mesmo, mais difícil e raro, mais, muito mais exigente em termos intelectuais, a hipótese de repensarmo-nos como seres religiosos, e deixarmos de o ser. Passarmos a não ter qualquer crença, sermos ateus, ou sermos agnósticos.

Com os clubes desportivos acontece algo parecido, ainda que isto possa chocar, pela comparação, os mais fervorosos defensores de uma religião, ou acólitos. Muitos de nós até nem seguimos o desenvolvimento da vida do clube das nossas simpatias ou amores, mas, ainda que calados, sofremos um pouco com os nossos botões, quando ele sofre derrotas e mais, quando o adversário alvo dos nossos ódios de estimação vence, ou o vence. Mas ainda assim, os menos adeptos do desporto preferido, ou seguidores atentos do seu clube, sofrem eferamente, apenas, quando se compara com a chamada ‘fé religiosa’. Pode-se não praticar os preceitos religiosos com assiduidade, mas quando outra religião ou um ateu tresloucado, ou alguém que desvaloriza apenas a vida religiosa e a fé subjacente, ‘ofende’, segundo os nossos mais delicados e estimados princípios como crentes, a nossa própria fé, não gostamos nada mesmo, se não se der o caso de se gerar uma perplexidade e uma reacção mais ou menos violenta, até.

Com a política passa-se algo que se pode considerar próximo da crença religiosa, mas com a ‘devida distância, não vá a nossa divindade ‘ofender-se. E alguém que nos ouça condenar-nos por isso mesmo. Mas para muitos, os mais fiéis (propositadamente escolhi este termo) seguidores de um Partido, ou de um líder político, a quem, neste caso sim, sem  a menos dúvida, empenhamos e vendemos até as nossas ideias, deixando-o tantas vezes como referencia das mesmas e como defensor elevado, nobre e legítimo das nossas, ou do que deveria ser a  nossa cabeça a pensar, a ajuizar, a analisar, e a decidir se bem , se mal, ou seja, em política, tantas e tantas vezes nos abstemos de pensar, como tendo alguém que pensa, melhor, por nós.

E é com a política, mais do que com a religião, ou o desporto, de facto, que se enfrenta maior perigo, quando desistimos de pensar por nós, e deixamos que alguém seja a expressão do que pensamos, sentimos e defendemos, não apenas para nós, mas para outros também.

E é pela política, ou melhor, pela análise da nossa atitude passiva e objectivamente desistente de uma liberdade que nunca devíamos alienar, que se pode concluir (eu pelo menos concluo, com os direitos de alguém que gosta de pensar e pensar sem amarras de qualquer espécie ou natureza) que deixar que alguém, ou uma divindade mesmo, um deus qualquer, ou, pior (nada pior, enfim, igual) um humano, pense por nós, reflicta por nós e, terrível, decida por nós.

É a perda de liberdade que muitos dizemos defender e não permitir que se aliene. Mas que, sem o saberem, alienam da pior forma. Esquecem-se de pensar, julgam que alguém pensa mesmo melhor por nós, do que nós próprios, e entregam a defesa das suas convicções, religiosas, desportivas e políticas a um grupo, a uma pessoa, a uma divindade.

No último Congresso do Partido Socialista deu-se um episódio singular. Singular por ser ele mesmo um só, único e irrepetível, tal o esforço, plenamente conseguido de amordaçar de qualquer dissidência ou até dissonância com o chefe (o mais medíocre e abjecto dos membros daquele Partido em fase de acentuada depressão, ainda rejeitada e negada, como acontece aos alcoólicos e aos toxicodependentes, coitados), que só um caso que se saiba, houve de uma voz a condenar, e da forma mais incisiva e assertiva, sem medos ou eufemismos, o chefe e a sua louca e desastrada política, tal como o seu arrogante e não mais suportável narcisismo, egoísmo e autoritarismo (despotismo). Rómulo Machado, advogado experiente, homem livre, por decisão do mesmo, foi a única voz que se insurgiu contra a mordaça, contra a norte-coreana-anulação-do-pensamento-próprio. Já tenho ouvido uma ou outra pessoa achar bem que o ‘chefe’ pense por nós. Esquecendo-se que essa foi a razão de se ter feito o 25 de Abril, para que não fiquem dúvidas de que não existem tantas diferenças assim.


O perigo de se desitir de pensar e nos entregarmos ao pensamento colectivo de um grupo, onde alguém já definiu tudo e já nada mais há para ser pensado (o que é obviamente falso, pois isso, entre outras coisas, seria admitir que os tempos, as sociedades, os países, as culturas e as pessoas não mudam. Perigoso demais num tempo de mudança acelerada e acentuada) é o de quando as coisas não correm bem, se poder instalar o caos intelectual, ou de facto, e se poder instaurar uma colectiva depressão.

Precisamente um dos nossos actuais problemas.

Em 1936 Hitler começou a mudar a forma da sociedade alemã pensar. Em 1939 Hitler iniciou uma guerra que iria mudar o mundo, para nunca mais ser como dantes. Hitler tinha ganho eleições. Enganou os alemães (chegou ao ponto de incendiar o Reichtag, o Parlamento alemão para culpar o seu adversário mais importante, no Governo: alguma semelhança com o 'incendiar' de uma crise política, encenada e um pacote de medidas falso, porque já existia um outro chamado 'ajuda do FMI' em conversações que se escondeu de toda a gente, para...culpar o adversário mais importante?) , como Sócrates enganou os portugueses, das duas vezes que as ganhou. Em relação à segunda que ganhou, já são cada vez menos os que não acham que assim tenha sido. Em relação à primeira eleição, podemos saber (o que eu e muitos sabemos desde sempre. Desde o dia em que Sampaio mistificou uma crise política- na altura o PS não se queixou da instabilidade nem do perigo da crise- e sem as razões que pelos dias de hoje existiam, dissolveu a Assembleia da República, criou a imagem do Governo ser incapaz- quando, não sendo porém um bom Governo, foi ainda assim o único, pela mão de Bagão Félix que reduziu efectivamente a despesa do Estado, desde 1974!- e deu assim a vitória ao mentiroso e ao pior primeiro ministro de todos os tempos em Portugal) em breve, esperançadamente.

Hitler enganou os alemães por pouco mais de seis anos. Sócrates enganou os portugueses por pouco mais de seis anos. Sei bem que Hitler tinha polícia política e campos de concentração. Por isso foi mais fácil depois ser reconhecido como um facínora e um bandido. Um ditador dos piores da história. Sócrates beneficiou, este é o termo, da falsa máscara da Democracia e nós, da protecção, ainda que insuficiente, da nossa ligação à União Europeia. Mas de mais nada beneficiámos. Tudo o resto é mentira, tudo ou muito do que temos vivido e assistido é falso. E este baile de máscaras socialistas perverso, ainda continua, com as mentiras diárias a que assistimos. Irá continuar.

Dispensar a nossa Liberdade quando o líder é bom e sensato, de nível reduz o risco. Mas não deixa de ser negativo e de andarmos em cima de um perigo.

Ter a coragem e, mais importante, a inteligência para afastar a cabeça para o lado, ver por detrás da árvore, olhando de frente para a floresta e saber ler o que ela nos diz, como o fez Rómulo Machado, não é para todos. Só alguns. Desses, de que precisamos muitos mais. Rómulo Machado não deixou de se sentir um socialista, mas um democrata. Um socialista com todo o mérito. E desses temos falta, hoje.

Pessoalmente sempre me tentei pautar pela minha liberdade que não vendo a ninguém. Nunca. Mas garanto que não é um caminho fácil. Mas vale bem a pena. Poupa-se muito em dioptrias intelectuais!

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