Provincianos

Ser da província nunca foi defeito. Mas ser ‘provinciano’ tem desde sempre, um significado diferente de ‘ser ou viver na província’, por oposição a ser ‘da cidade’. E um sentido pejorativo, que umas vezes se usa com intenção ofensiva ou agressiva, outras, por mero snobismo mal disfarçado. Após uma análise, pouco ou tanto cuidada, dos nossos governantes de há décadas, arrisco a dizer que governantes e governados padecem desse provincianismo, a resvalar por vezes para o pacóvio, outras vezes a derrapar de um snobismo ou pedantismo imerecido.


Cavaco Silva é, intrinsecamente, um bom homem. Concordemos ou não com as suas convicções, tantas vezes coincidentes com as desse grupo de iletrados que são os católicos acríticos, é um homem bem intencionado e, mau grado a sua honestidade, em terra de corruptos, mentirosos e desonestos, conseguiu triunfar, do ponto de vista pessoal, chegando ao mais alto cargo político do Estado. Mas Cavaco Silva padece do mesmo provincianismo, mesmo que o seu caminho e experiência de vida já lhe dêem outras visões e pergaminhos. E o seu maior erro, não ter cuidado do seu partido, dando-lhe doutrina, ideologia, ideias e consistência programática e, sobretudo, valorizando-o, e consequentemente aos restantes partidos, como pilares de uma Democracia moderna, permitindo que os seus ‘herdeiros’ políticos encarnassem da mesma honestidade, intelectual e não apenas, e do mesmo pragmatismo praticante na acção política, ainda hoje, esse erro tremendo, faz padecer o país, às mãos de homens sem formação adequada e sem carácter ou, pior, humanismo e seriedade.


Sucedeu-lhe alguém que já nem nos lembramos, tal a fraca personalidade e persistência na acção. Fernando Nogueira. Mais tarde sucederam-se vários dirigentes do PSD: Marcelo Rebelo de Sousa, que se preocupou mais com uma postura dita de Estado, colaborante com o Governo de então, se Guterres, do que assumiu uma ruptura com um político inábil e provinciano, neste caso directamente derivado do provicianismo católico, o dito Guterres. Guterres foi derrotado nas eleições autárquicas por Durão Barroso, que até havia demonstrado alguma habilidade parlamentar. Demitindo-se Guterres, eleições convocadas, Durão fez-se Primeiro-ministro e, com mais um proviciano, sem a visão suficiente para entender as consequências das suas próprias acções, mas mais preocupado com a sua ambição pessoal, decidiu aceitar a ideia de se candidatar a Presidente da União Europeia, deixando no seu lugar um político desastrado e com imagem pouco consistente de homem sério e, sobretudo responsável...Santana Lopes.


A acção desajeitada e pouco séria deste levou a que se abrisse caminho à eleição de um homem, tão pouco sério, ou verosímil, quanto de insensível ou déspota. Ainda hoje o país está a pagar esta factura, que Cavaco iniciou a elaborar e Durão Barroso assinou e remeteu aos portugueses.


Temos o pior Governo de sempre desde que há Democracia. Mentiroso, falso, anti-democrático. Cheio de gente que nunca trabalhou, mas sempre se ‘fez bem á vida’ e se rodeou de teias de interesses e tráfico de influências. Temos uma Administração toda ela partidarizada e facciosa, onde amigos de amigos e amigos de família se protegem mutuamente. Estamos com níveis de insucesso nunca antes antigidos. Nunca Portugal deveu tanto dinheiro ao exterior. Em mais de oito séculos e meio de história. Nunca, por isto mesmo as gerações futuras tiveram um fardo tão descomunal para pagar e terão de trabalhar como nunca ninguém antes deles. Nunca se esteve com desníveis entre ricos e pobres desta dimensão. Nunca se conseguiu como agora, criar um polvo de tão exagerada dimensão, que nada mas nada se passa que o Estado não tenha algo a dizer. Um Estado que não faz, nem fez nada por ninguém. Ou muito, muito pouco.


Tantos políticos sucessivamente provincianos, mas de um forma serôdia e triste, que chegámos a uma situação em que se desconstrói tanto que tardou a construir: a liberdade, a pluralidade, o respeito por hierarquias, a formação pessoal, uma economia aberta e que começava a ser competitiva, uma sociedade onde começava ser possível triunfar-se sem ‘amiguismos’ e teias de interesses, uma economia onde o futuro não estava hoje, já, comprometido...


O Estado português deve hoje ao exterior sete vezes mais do que no tempo de Cavaco Silva como chefe do Governo. O Estado não tem dinheiro mas usa o que não tem e ainda tem...o desplante de dizer que os portugueses vivem acima das suas possibilidades. socorre bancos que deviam deixar-se cair, individando-se e às suas instituições, que até têm um crédito mais caro e uma cotação internacional como nunca tiveram, como a Caixa Geral de Depósitos, hoje usada a bel-prazer pelo Governo, para fins que se desconfia serem eleitoralistas e interesseiros, no socorro a empresas que não o merecem. O Estado, através deste Governo chefiado por um provinciano serôdio, usa o dinheiro que não é seu e abusa de nós todos e do nosso futuro. E ainda nos manda calar, quando alguém se atreve a iniciar algum caminho de crítica. E não faz o que devia há muito, baixar impostos e permitir que não se viesse a viver tão mal como nos irá acontecer este ano e nos dois próximos pelo menos, pois Portugal não tem tecido económico credível e os bons empresários e empresas preferem investir e crescer lá fora do que se entregarem nas mãos de um Governo e de um Estado tão pouco sério e tão espartilhante.


Este Governo constitui-se de gente que toma decisões sem sequer perceber das matérias e nem consultar quem sabe: reforma do ensino musical elaborada por uma comissão ministerial sem um único músico; todos os professores são desconhecedores e incompetentes; todos os agricultores, os médicos e enfermeiros, os engenheiros civis quando criticavam a opção da Ota para aeroporto de Lisboa (que economicamente será um desastre e mais uma factura sem fim à vista...); todos os juízes e advogados...


Só os ministros sabem. E sabem tudo...(mas se soubessem estariam em empresas e não na política, mas nunca lá estiveram alguns deles...nem nunca trabalharam, outros...).


Fez-se um 25 de Abril para termos direito à liberdade. E Direitos e Liberdades. E Verdade. E agora palavras como estas neste texto são examinadas e perseguidas porque mais vale uma mentira...desde que seja tida como verdade, porque a Verdade fá-la quem pode e não quem quer: Sócrates o homem que nem por um dia foi Engenheiro, título que só a Ordem respectiva lhe poderia outorgar, mas como nem o bacharelato lhe é certo...


Mas o prémio do provicianismo desinformado cabe-nos a nós, portugueses que os temos vindo a dar ouvidos e crédito e a eleger e ainda pior a pagar-lhes para nos tratarem mal...e ainda nos chamarem burros, quando nos dizem que errados estamos nós...


Provincianos iletrados e com consentimento...somos nós!




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