Ah! non credea mirarti...


Estive a falar com pessoa cativante. Inteligente, provocadora, algo mordaz, perspicaz até ao suportável (o meu riso parvo...), misteriosa (ainda), e muito bonita. 

Tinha de sair e fui-me deixando.  Agora, passado o tempo de conversa que me arrasta para a curiosidade sobre as próximas palavras com essa pessoa, um quase desafio, visto me surpreender e nem ela tal imagina, em algumas vertentes da inteligência, volto ao siliêncio.

Atrás do vidro demasiado fino para o frio que deixa passar, mas o suficiente para filtar sons da rua e deixar apenas o som cavo e baço chegar cá acima, entrecortado pelos saltos clássicos da chata da vizinha do piso de cima, qual irritante formiga imparável de salto alto (quem usa ainda disto em casa, por favor? deve ser tão clássica grhhh), ouve-se este silêncio, fora de mim.

Cá dentro, há mais ruído e a lembrança da conversa recente da cara bonita da pessoa simpática e positiva que me aturou uma meia hora. 

Paro, vou ao cavalete, desenho uns rabiscos na senda de um projecto de pintura. Coisa que me absorve como poucas. Que me dá ainda muito prazer, mas este quadro em particular está lento de vir cá para fora...

Vou ao café, ouvir gente e estupidez (boa tarde sr. engº, então o que vai ser? Ola d. ermelinda, quer levar já o seu bolinho? oh senhor teixeira nunca mais cá vi aquelas parras gulosas cheias de chantily...e atrás, o porto que este ano não a lado nenhum mas o benfica sim é sempre o maior e mais sério e correcto, o sócrates? ahhh ninguém já fala dele...ainda lá está? ahh clara, vi uns sapatos ali na godiva mas está tudo tão caro! separaram-se? hoje já ninguém tem paciência para aturar ninguém, já só conheço gente separada...o pior são os filhos...olhe o seu cafezinho que vai arrefecer...)

Vou marrar para outra rua, outras paragens que esta estribaria já me chega por hoje. Frio do caraças...

Será que ela ainda volta hoje a falar comigo? 

Um sol bonito de tarde de Inverno, um frio que, não sendo muito, me aborrece a amígdala, uma cabeça tão complicada ...uma outra que limpe a minha de arabescos sem sentido. Um ventinho fresco. Traz-me esse teu ventinho acabado de surgir. Uma bombinha humana cheia de energia e vontade de vibrar. Energia escondida e bem guardada para um dia ser despoletada.

O tempo, sempre o meu maior inimigo. Nunca ao meu ritmo, as coisas. Quase todas, ou as mais gostosas. Dá tempo, homem! Dá-lhe tempo. Senta-te e põe a manta sobre as pernas, e deixa a Bartoli encher-te a cabeça ...

Ah! non credea mirarti si presto estinto, o fiore


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