Emoção, razão...amor, paixão...responsabilidades: as asneiras seculares nas nossas relações
Emoção, razão, sexualidade, sentimentos, enamoramento, paixão, amor, casal, sociedade, religião…
É espantosa a confusão que ainda hoje ouço e sei haver entre tantos adultos sobre estes assuntos. Espantoso…
…que se defenda uma relação a dois com base numa justa concentração de sentimentos mútuos, numa fusão de emoções, numa intersecção de ideais um sobre o outro, no fundo, que as relações, de namoro, de casamento se devam pautar pela paixão e amor genuínos, para…tempos depois, no quase sempre inevitável desenamoramento e assumir da perda da paixão ou do amor, se defenda a racionalidade e se considere a emocionalidade, antes defendida, uma coisa para ingénuos, imberbes, irresponsáveis e infantis. Nesse momento, ser ‘racional’ é ser adulto.
Ditam assim as regras sociais, as regras religiosas e toda a nossa educação, activa ou passiva, assim nos vem a formatar desde há vários séculos, numa base judaico-cristã, claro.
A sexualidade ainda hoje é vista como um dos lados ‘quase-negros’ das nossas relações e poucos de nós estamos à vontade, com excepção de tradições mais luteranas do cristianismos, onde se cultiva o gosto por sermos genuínos e maduros, e, sim aí de facto, racionais, para falarmos de temas sexuais, sem que se caia numa sessão de humor ou de vulgaridades. Ou alguém se lembre de entrar pela via dos moralismos, pseudo ou autênticos.
A sexualidade associada às relações que perduram ainda é tida como coisa, um degrau acima, mais estranha.
Se uma relação não perdura e se destrói, ou é destruída por uma das partes, essa parte será muitas vezes apelidada de infantil ou irresponsável. Depois...vem a culpa, esse trauma que nos incutem desde pequeninos, nesta triste raíz judaico-cristã. Mas tantas e tantas vezes é a estupidez levada ao extremo, da defesa da racionalidade - a defesa de uma relação sem caminho, por causas ligadas a ela, mas não responsáveis por ela, como os filhos, ou a família, ou os amigos (‘que pensarão os amigos se for eu a acabar o casamento…?...ou a família?’ E se tiver filhos, ‘não serei um irresponsável?’). é essa (pseudo-) racionalidade uma das causas do término das coisas…é o reajustamento de uma relação de maior ou menor duração que começou por ser emocional e se pretende manter, depois pela via fria, difícil e dolorosa da racionalidade, que a leva a um caminho sem saída.
Outras vezes, porém, a destruição sumária e impensada de uma relação vem com uma, também ela pseudo, modernidade. Uma coisa que se vem impregnando numa sociedade com pressa de viver...
É a procura de um processo racional e a desistência, paralela, natural ou forçada de uma sexualidade saudável que leva à colocação da relação à beira de uma enseada que não permite o regresso, mas sim o passo para o vazio…
Deveria cada um perguntar-se antes de mais, se tem uma vocação ou não para relações monogâmicas ou se não a tendo será capaz de assumir o respeito, e viver em função do mesmo, pela outra parte, eventualmente assumidamente monogâmica.
Deveria cada um de nós perguntar-se se deve lutar por relações sem caminho ou ao invés, procurar um atalho para outro trajecto na sua vida, dando a si mesmo o que pensava ter encontrado e, no fundo pela via, quase, apenas, da razão ficou-se a manter o que já não fazia sentido existir.
Deverá cada um de nós dar menos valor às regras, venham da educação espartilhada pela sociedade e pela religião e, ao invés, dar mais liberdade e soltura, aqui sim de forma racional, mas sempre valorizando a sua mente emocional, à sua própria vontade. No fundo, se existir ‘pecado e por essa via, ‘culpa’ tal deve ter mais a ver com o nosso humanismo, com a nossa postura responsável perante os outros e….nós mesmos…e, é claro, com os sentimentos, que umas vezes consideramos e noutras desconsideramos.
Na vida, só nos fazem andar os nossos actos e muito pouco as nossas ideias. Na vida, os actos por vezes têm de ser de coragem. Primeiro para connosco mesmos, com a responsabilidade que temos connosco. Depois, para com os outros. Mas, a emoção e não a razão, essa parte menos e pouco ‘inteligente’ de pensar e gerir os actos e a vida ela mesma, é que nos deve reger. Responsável, mas decisivamente.
Tudo o que hoje não fizermos por nos cingirmos a regras, não nossas mas dos outros, já não se fará nunca. A perda das coisas e das pessoas acontece-nos a cada momento.
A coerência e a constante auto-análise dos nossos pensamentos e actos, deveria pautar mais as nossas vidas do que as regras dos outros, que devem ser respeitadas, mas não têm de ser as nossas, e assim, a luta e a eterna confusão…emoção, paixão, amor…racionalidade…responsabilidade…já não seriam um dilema, ou um drama para muitos de nós. Mas um caminho natural, sem dor...
Comentários