25 de Abril

Este ano regressei ao 25 de Abril de forma um tanto inesperada. Estava em casa com os meus filhos a ler um pouco e a dada altura, na tradição de zapping de cá de casa (menos minha e mais dos filhotes, que vejo muito pouca televisão, em dias de semana) passámos pela RTP 1 e demos com o filme da Maria de Medeiros, já visto em tempo, sobre o 25 de Abril.

A minha filha mais crescida tem treze anos e o pai dela, com as suas habituais prelecções pedagógicas (e chatas!) lembrou-se de 'educar' um pouco as miúdas (a de treze e a de dez... porque não?) sobre o antigo regime, a revolução de 1974, o que vivi com os meus catorze anos nessa data...

Não resultou em muito e, rapidamente, as miúdas logo se maçaram de ver o filme.
Resultou em que, nostalgicamente me lembrei desses catorze anos, dessa data, dos acontecimentos subsequentes... de estar junto à rádio, com o meu pai e os meus irmãos a ouvir tudo, tudo o que desse sobre a Revolução...

Nesse dia nasci para a política, sentindo e querendo sentir novas experiências, querer entender tudo, sobre o que terminava e sobre o que nascia para todos nós. Queria, excitantemente, viver tudo aquilo, sentir-me responsável, queria participar!

Dias depois saía à rua no 1º de Maio, entre tanta gente de todas as ideologias e orientações políticas... isto passou-se, para mim, no Funchal, donde venho e nada se compararia com o vivido em Lisboa. Mas para mim, adolescente com manias de me sentir útil e importante, foi um dia, dias, semanas...meses importantes e marcantes, pouco depois desiludidos com a confusão geral criada nos anos de 75 e 76. Mas agora recorda-se com prazer o que aquela Abril de 1974 nos trouxe e permitiu.

Ficou-me uma profunda nostalgia e tristeza insanável da falta do meu pai, que naquele 74 fez exactamente o que eu tentei fazer este ano com os meus filhos...

Cavaco Silva veio lembrar as preocupações sociais que temos todos de ter e a responsabilidade colectiva. Ouvi-o e pareceu-me estar a ouvir o meu próprio pai, nessa preocupação e nesse respeito pelos que mais sentem a nossa desgraça nacional. O meu pai também era do mesmo partido de onde vem Cavaco.

E, por isto tudo, pelo que vivi, pelo que senti, pelo que ouvi, não permito a propriedade exclusiva, nem a prioridade, do 25 de Abril e do AMOR PELA LIBERDADE INDIVIDUAL E COLECTIVA a ninguém, nem à esquerda nem à direita!

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